A Mil por Hora
Brasileiro de Gran Turismo

“Marmelada de banana… bananada de goiaba… goiabada de marmelo…”

RIO DE JANEIRO – Existe um mal desnecessário para o automobilismo, criado por algum chefe de equipe num tempo distante e que, infelizmente, assola e inferniza o esporte: a troca proposital de posições, em benefício de uns e prejuízo de muitos. Para prejuízo de muitos e da credibilidade de um campeonato, o Brasileiro de Gran Turismo […]

RIO DE JANEIRO – Existe um mal desnecessário para o automobilismo, criado por algum chefe de equipe num tempo distante e que, infelizmente, assola e inferniza o esporte: a troca proposital de posições, em benefício de uns e prejuízo de muitos.

Para prejuízo de muitos e da credibilidade de um campeonato, o Brasileiro de Gran Turismo vê o fim de sua temporada deste campeonato que acabou hoje em Interlagos manchado por uma das maiores patacoadas que já aconteceu nestas plagas.

A BMW de Cacá Bueno/Cláudio Dahruj venceu a última corrida do campeonato e chegou a ser campeã por alguns metros. Mas uma troca duvidosa de posições entre a Ferrari F458 guiada no fim da disputa por Cláudio Ricci e a Mercedes SLS AMG GT3 de Duda Rosa proporcionou o título ao gaúcho e ao parceiro Cléber Faria.

Apesar de serem carros preparados pela mesma equipe, a CRT, tanto a Mercedes quanto a Ferrari são marcas bem distintas e os interesses dos patrocinadores dos carros não são os mesmos. Pelo contrário: enquanto um carro é apoiado por um condomínio empresarial de São Paulo, outro tem como sponsor uma empresa de implantação e gestão de seringais.

O que ninguém parece querer esconder dentro da equipe CRT é que houve um favorecimento deslavado para a dupla da Mercedes, o que envergonhou alguns e indignou a muitos. Se Cláudio Ricci não tem “nada a declarar” (palavras do próprio), segundo se ouviu na coletiva de imprensa à qual eu não estava presente, mas sei que há testemunhas, Cacá Bueno deu na medalhinha e disse que sentia “vergonha” por ter feito parte da corrida.

Talvez a subida de produção das BMW Z4 GT3 no fim do campeonato, com a liberação de alguns ajustes que beneficiaram o desempenho dos carros do fabricante bávaro, tenha sido a gota d’água para esta atitude. Muitos também estranham e se incomodam porque o promotor do campeonato, Antonio Hermann, é também o dono da equipe BMW Team Brasil, gerida também por Washington Bezerra. Mas, se a memória não falha, se a equipe fosse total e realmente beneficiada por ser de quem comanda a categoria, seus carros não teriam sofrido desclassificações técnicas e desportivas e sequer seus pilotos teriam sido punidos com drive throughs por queima de largada ou irregularidades nos pits quando da troca de pilotos.

Será mesmo que um carro que tem 34 segundos de vantagem a cinco minutos do fim de uma corrida perde tanto rendimento a ponto de ser ultrapassado nas últimas voltas, sem oferecer a menor resistência? Como muitos, acreditei que a Ferrari enfrentasse algum problema de ordem técnica – freios, talvez. Mas acho que tudo isso não passou de puro teatro.

É disso que o automobilismo brasileiro precisa? Depois, não se queixem que determinados pilotos e equipes não disputam algumas categorias e que existam alguns insatisfeitos a ponto de “racharem” campeonatos. Afinal, que patrocinadores vão querer investir depois do que se viu em Interlagos?

O automobilismo brasileiro merece uma reflexão profunda em todos os sentidos. Ele é vítima dos seus próprios erros, da incompetência dos cartolas, da ganância de alguns inescrupulosos e da fraqueza da base que não revela absolutamente mais nenhum nome talentoso rumo ao exterior.

Não concordo com o que se viu e o que foi feito em Interlagos. A conquista dos campeões da classe GT3 é manchada por mais um episódio lamentável que só ajuda a minar um pouco mais a já combalida credibilidade – se é que existe alguma – do esporte neste país.