A Mil por Hora
Fórmula 1

O incômodo viés jornalístico

ARARUAMA – Interrompo momentaneamente o meu sagrado direito à folga de fim de ano, onde estou desfrutando do sol escaldante de Araruama e virando um camarão em forma de gente, para escrever algumas linhas sobre o que ocorreu ontem com o heptacampeão mundial de Fórmula 1 Michael Schumacher. Ocioso dizer que o alemão está em […]

ARARUAMA – Interrompo momentaneamente o meu sagrado direito à folga de fim de ano, onde estou desfrutando do sol escaldante de Araruama e virando um camarão em forma de gente, para escrever algumas linhas sobre o que ocorreu ontem com o heptacampeão mundial de Fórmula 1 Michael Schumacher.

Ocioso dizer que o alemão está em estado crítico, em coma induzido e isso todo mundo já noticiou. É de domínio público. Mas o que mais incomoda este blogueiro aqui é o viés jornalístico de uma situação impactante como esta.

Estigmatizou-se Schumacher, especialmente no Brasil, como inimigo público número #1, um demônio em forma de gente, uma pedra no sapato da pachecada, porque atrapalhava Ayrton Senna em 1994 e fez o mesmo durante muitos anos com Rubens Barrichello. Nada menos exato. Schumacher era um vencedor e mostrou isso ao longo de todo o seu tempo no automobilismo. Como todo sujeito determinado a atingir seus objetivos, passou por cima da ética e de muitos valores para chegar onde chegou.

Quem foi mesmo o agraciado com o apelido de Dick Vigarista? Quem será o vilão de enredo de escola de samba no Rio de Janeiro em 2014?

Mas Michael é humano como todos nós. E, encerrada a carreira, podia muito bem curtir os filhos Mick e Gina, a mulher Corinna e desfrutar uma merecida aposentadoria sem fazer absolutamente nada. Ocorre que, após décadas vivendo a linha tênue entre a vida e a morte, Schumacher convive e continuou convivendo com o risco, mesmo retirado do automobilismo. E aí, numa queda de esqui, aconteceu o que todo mundo já sabe.

Falo tudo isso porque me indigna a pouca importância que se dá a um incidente como este, em paralelo ao ocorrido com o lutador de MMA Anderson Silva, em Las Vegas.

Respeito a quem opta por gostar de MMA. Não é o meu caso, nem nunca será, por uma questão óbvia. Não me atrai ver dois caras num octógono se surrando até quase a morte. Anderson Silva, a exemplo de Schumacher, também convive com o risco. Não só de perder a vida, como também de sofrer lesões graves feito a fratura dupla de sua perna esquerda, na luta contra Chris Weidman no último sábado.

Porém, a notícia do ocorrido com o “gladiador do terceiro milênio”, como diz um filósofo, é fichinha perto do que aconteceu com Schumacher e a notícia da fratura do lutador foi tratada como se fosse uma tragédia, uma hecatombe. O alemão luta pela vida e a cobertura da mídia brasileira é rasteira, para não dizer simplesmente medíocre – salvo honrosas exceções.

Eu gostaria de saber o seguinte: caso fosse um brasileiro a sofrer o acidente de esqui e tivesse ele sete títulos mundiais, quem seria notícia? A questão agora é o interesse sobrepujando o bom jornalismo?

Que pena que as coisas caminhem num mau sentido. O ano de 2013 se encerra da pior maneira possível. Para o esporte e, pasmem, para o jornalismo.

Ah… e antes que eu me esqueça: eu considero automobilismo esporte SIM, da mesma forma que os defensores do MMA o reputam como tal.

Vou voltar à minha folga. E boa noite a todos.