A Mil por Hora
Mundial de Endurance

Vitória da Porsche, título da Toyota em Interlagos

SÃO PAULO – Vinte e sete anos. Foi esse o longo tempo que a Porsche levou para ganhar uma prova com um protótipo construído pela marca germânica. Desconsiderem as conquistas seguidas em Le Mans nos anos entre 1996 e 1998, porque nos dois primeiros era um carro da equipe de Reinhold Joest. Não oficial, portanto. […]

14
Melhor durante todo o fim de semana, a Porsche conquistou nas 6h de São Paulo sua primeira vitória no ano de estreia no WEC (Foto: Gabriel Pedreschi/Grande Prêmio)

SÃO PAULO – Vinte e sete anos. Foi esse o longo tempo que a Porsche levou para ganhar uma prova com um protótipo construído pela marca germânica. Desconsiderem as conquistas seguidas em Le Mans nos anos entre 1996 e 1998, porque nos dois primeiros era um carro da equipe de Reinhold Joest. Não oficial, portanto. E em 98, era um GT1 o modelo vitorioso. Por isso, a conquista alcançada neste domingo por Neel Jani/Marc Lieb/Romain Dumas encerra de forma altamente positiva a primeira temporada da marca no WEC com o modelo 919 Hybrid. E não foi só isso: a trinca conquistou, com a vitória, um excelente 3º lugar no Mundial de Pilotos, considerando que esta é apenas a primeira temporada da Porsche entre os LMP1 Híbridos.

Foi uma ótima corrida, movimentada do início ao fim e que terminou de forma preocupante, com o tremendo acidente do outro carro da marca de Weissach: a 25 minutos da quadriculada, Mark Webber acidentou-se a bordo do #20 na mesma Curva do Café em que se acidentara de forma brutal em 2003, no GP do Brasil de F1, com um Jaguar. Nesse acidente de hoje, o australiano levou de roldão (ou foi levado, não se sabe) pelo italiano Matteo Cressoni, da 8Star Motorsports. Foi assim que terminou a corrida, num tremendo anticlímax. E felizmente tanto Webber quanto o piloto da Ferrari LMGTE-AM estão bem.

A Toyota também não tem do que se queixar, muito pelo contrário. Já campeã com Sébastien Buemi e Anthony Davidson, fechou o ano com o título do Mundial de Construtores, com o 2º lugar conquistado pela dupla do #8 – que até poderia ter ganho a prova, não fosse a entrada do Safety Car. Aliás, mesmo com a entrada do carro de segurança e os dois momentos de “Full Course Yellow”, em que os pilotos foram obrigados a ligar o limitador de seus bólidos, a prova bateu em número de voltas a edição de 2012. Foram 249 giros, dois a mais do que naquela ocasião.

Para Tom Kristensen, um pódio emocionante, com direito a muitas lágrimas e aplausos de pé dos colegas de imprensa na coletiva após a corrida. O dinamarquês despediu-se das pistas e de uma gloriosa carreira da forma como merecia, com um 3º lugar honroso e talvez mais comemorado por todos do que a primeira vitória do Porsche 919 Hybrid. O piloto deixará saudades e com certeza fez história no automobilismo. “Ele está para o WEC e Le Mans assim como Schumacher para a F1”, comentou Neel Jani, um dos vencedores em Interlagos.

Entre os LMP1 não oficiais, os dois Rebellion ficaram para trás em virtude de diversos problemas mecânicos. Acabaram em 18º e 19º lugar, com Andrea Belicchi/Dominik Kraihamer/Fabio Leimer terminando à frente do trio Prost/Heidfeld/Beche. O Lotus AER teve um início excelente, chegando a andar em 7º lugar nas primeiras voltas, antes de sucumbir a diversos problemas mecânicos e mais uma vez ficar pelo caminho. Pelo menos aqui no Brasil o carro mostrou progressos.

A corrida do #27 da SMP Racing foi atribulada e o carro chegou bem atrasado na geral. Mas o russo Sergey Zlobin conquistou o título na LMP2 com o acidente do Ligier da G-Drive

A corrida para os LMP2 foi um massacre: o favorito Ligier JS P2 da G-Drive Racing sofreu o primeiro acidente da disputa. Olivier Pla estava a bordo e era o líder, quando os freios dianteiros falharam e ele foi direto na barreira de pneus. Foi o fim do sonho para o trio do #26 e a renovação das esperanças para o #27 da SMP Racing, que se terminasse daria o título ao piloto russo Sergey Zlobin. A equipe certamente se assustou quando o outro carro do time teve problemas e abandonou, mas ao fim da disputa o #27 de Zlobin/Minassian/Mediani conseguiu o 2º lugar na categoria e os pontos suficientes para dar o título ao piloto de 44 anos de idade.

O único que chegou inteiro na segunda divisão de protótipos foi o Oreca Nissan #47 da KCMG, com um interessante 6º lugar do trio Richard Bradley/Matthew Howson/Alexandre Imperatori, que no primeiro ano do time de Hong Kong no WEC conquistou três vitórias (Austin, Bahrein e Interlagos). Nada mal. Para 2015, a equipe pode vir com dois carros a tempo inteiro, sendo um deles o novo Oreca 05 Coupé.

Prêmio de consolação: o 7º lugar na geral deu a vitória a Darren Turner/Stefan Mücke na LMGTE-PRO

Na LMGTE-PRO, a Aston Martin conquistou um prêmio de consolação, com a vitória de Darren Turner/Stefan Mucke, que terminaram em sétimo na geral. Como sempre, a classe foi das mais competitivas e equilibradas, com os três primeiros terminando na mesma volta. O pódio teve ainda o Porsche #92 de Patrick Pilet/Fred Makowiecki e a Ferrari #71 de James Calado/Davide Rigon. Com esse resultado, a Ferrari conquistou o título entre os fabricantes de Grã-Turismo.

O Aston Martin #99 de Fernando Rees/Darryl O’Young/Alex MacDowall fez uma boa corrida e merecia ter subido ao pódio. Mas um contato com o #91 de Jörg Bergmeister/Richard Lietz mandou o carro para a barreira de proteção e depois aos boxes, para o conserto. Como perderam uma volta, não conseguiram mais se recuperar: acabaram em 11º na geral e quinto na LMGTE-PRO. Foi o melhor resultado da trinca em 2014, no que tange à classificação final de pista, somadas as quatro categorias.

A vitória de Pedro Lamy/Paul Dalla Lana/Christoffer Nygaard deu à trinca do Aston #98 o vice-campeonato na LMGTE-AM

Também na LMGTE-AM, festa britânica: triunfo para o #98 de Pedro Lamy/Paul Dalla Lana/Christoffer Nygaard, que assim sacramentaram o vice-campeonato da classe, com 164 pontos. O título já era de David Heinemeier-Hänsson e Kristian Poulsen, que junto a Nicki Thiim chegaram em segundo nas 6h de São Paulo. O pódio da classe foi completado pela Ferrari #81 de Steve Wyatt/Andrea Bertolini/Michele Rugolo.

Para Emerson Fittipaldi e seus parceiros Alessandro Pier Guidi e Jeffrey Segal, a corrida foi no mínimo frustrante. Além de não conseguirem acompanhar o ritmo dos Aston Martin, a trinca do #61 da AF Corse sofreu com vários problemas, principalmente a quebra da 4ª marcha, justamente com Emerson a bordo. Após uma longa parada, o carro laranja regressou à disputa, mas muito atrasado. Terminaram em 21º na geral e em sexto na LMGTE-AM, com 186 voltas completadas.

E a terceira temporada do WEC chegou ao fim. Foi um grande ano para a categoria, em que pese os problemas enfrentados por alguns times. No próximo ano, veremos a estreia da Nissan, a chegada da Extreme Speed Motorsports, a vinda da Dempsey com a Proton e outras novidades devem rolar, com certeza. Uma pena que ficaremos de fora dessa festa em 2015. Mas espero que o Mundial de Endurance volte com seus carros maravilhosos  – carros de verdade, aliás e a propósito – em 2016, num renovado Interlagos.