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Fórmula 1

Acabou a novela

RIO DE JANEIRO – A novela McLaren-Alonso-Button-Magnussen acabou. E no final das contas, não houve desfecho feliz para Kevin Magnussen. O jovem dinamarquês acabou preterido pela equipe de Woking para a temporada 2015 da Fórmula 1. Ron Dennis pesou os prós e os contras e resolveu ter sob seus cuidados uma dupla de campeões do […]

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No “apagar das luzes”, a McLaren decidiu-se por Jenson Button para 2015 e Kevin Magnussen passa de titular a reserva

RIO DE JANEIRO – A novela McLaren-Alonso-Button-Magnussen acabou. E no final das contas, não houve desfecho feliz para Kevin Magnussen. O jovem dinamarquês acabou preterido pela equipe de Woking para a temporada 2015 da Fórmula 1. Ron Dennis pesou os prós e os contras e resolveu ter sob seus cuidados uma dupla de campeões do mundo – o que sob seu comando já aconteceu com Prost e Senna e também com o próprio Button, ao lado de Lewis Hamilton, em 2010.

Para o projeto que se (re)inicia, marcando a volta da parceria entre a McLaren e a Honda, é uma escolha coerente. A equipe precisa de gente experiente para poder dar um feedback melhor para um motor totalmente novo e o carro evidentemente precisa ser melhor que o de 2014 para a equipe poder retomar o caminho das conquistas. A última vitória da McLaren foi há exatos dois anos, com Button, no GP do Brasil. Não há um campeão a bordo de um carro construído em Woking desde 2008. E Ron não sabe o que é ser campeão de construtores desde 1998. Para alguém tão soberbo quanto ele, ficar tanto tempo sem títulos deve doer um bocado.

Todo mundo pensou que não veria isto de novo, mas… aconteceu. Fica a pergunta: será que vai dar certo?

E outro também que não vê conquistas há algum tempo é justamente o “novo” contratado. Fernando Alonso regressa à equipe britânica após a parceria que durou apenas uma temporada (2007) e foi marcada por uma série de intrigas, picunhas, disse-me-disse e que culminou com o rumoroso escândalo de espionagem que envolveu Mike Coughlan, o falecido Nigel Stepney, o próprio Fernando Alonso e Pedro de la Rosa – só para começar. Para quem não se lembra, a equipe quase foi banida da F1, mas Bernie Ecclestone entrou no circuito e “convenceu” Max Mosley a ‘apenas’ eliminar o time do Mundial de Construtores, além de pagar uma multa de milhões de dólares. O problema refletiu-se na reta final do campeonato: Alonso e Hamilton foram derrotados por Kimi Räikkönen e o espanhol, já com tudo assinado para regressar à Renault, não escondia o sorriso irônico – mesmo com a derrota – ao fim da corrida. Por conta disso, muitos apostavam que Fernando jamais poria os pés em Woking. E não é que aconteceu?

Aliás, Ron tratou de culpar Hamilton por tudo o que aconteceu em 2007 e o próprio Alonso disse que há “negócios inacabados” na equipe. Além disso, admitiu que naquele ano não deu 100% de si e que cometeu erros capitais que deitaram por terra um tricampeonato tido como fato consumado por muitos.

Mas quase que o acordo McLaren-Alonso não acontece: a Porsche tentou atrair Fernando com o canto da sereia, a.k.a. 24 Horas de Le Mans. Fernando foi o Grand Marshal da prova deste ano em Sarthe, também acompanhou as 6h do Bahrein e não escondeu de ninguém seu entusiasmo. Efetivamente os alemães fizeram o convite. E embora o acordo com a McLaren já estivesse costurado, o piloto tentou incluir nas cláusulas contratuais uma “liberação” para correr em Spa e em Le Mans pelo construtor alemão. Só que ele sabe bem com quem está lidando e Ron Dennis, como bom negociante, disse não. O acordo foi assinado por três anos. E não há válvula de escape. O sonho de correr em Sarthe vai hibernar por um tempinho…

A situação de escolha entre Button e Magnussen também permeou esta novela com requintes de crueldade, para ambos os lados. O novato dinamarquês apostava em sua juventude para permanecer e ganhar experiência tendo como companheiro de equipe um dos melhores pilotos da F1 nos últimos anos. Button já tinha outras saídas: a Audi estava com uma minuta de contrato prontinha para o britânico assinar, caso Ron Dennis lhe desse um pontapé nos fundilhos e o dispensasse. O dirigente pensou duas vezes. E renovou o contrato de Jenson, por dois anos, ontem. Ou seja: faz menos de 24h que Button voltou a ser piloto titular da McLaren. Talvez Dennis lhe deva um pedido de desculpas mas, orgulhoso, certamente não o fará.

A McLaren terá “a melhor dupla da F1” – palavras de Ron Dennis. E a mais experiente do lote. Somados, os dois têm nada menos que 501 GPs disputados – Button tem 266 participações e Alonso 235. Na média de idade, são 33,5 anos. O que é quase o dobro de uma Toro Rosso que apostará em uma dupla de neófitos adolescentes, formada por Carlos Sainz Jr. e Max Verstappen.

Isto posto, K-Mag terá que esperar por uma nova chance e ela não acontecerá antes de 2016, porque Button permanecerá até o fim daquela temporada. E assim a F1 chega ao fim do ano com 18 vagas já asseguradas, restando a duvidosa Caterham por definir seus pilotos. A Manor, leia-se Marussia, vai leiloar tudo o que tem dentro da equipe e dificilmente deve seguir na categoria em 2015.