A Mil por Hora
Fórmula 1

Previsível

RIO DE JANEIRO – O adjetivo que dá título a este post é o retrato do que foi o GP da Austrália. Uma corrida previsível, cujo resultado se desenhou nos treinos e foi sacramentado após 58 voltas de pouquíssima ou de nenhuma emoção para o público presente no Albert Park e aos telespectadores em suas […]

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Tranquilo: o campeão Lewis Hamilton comemora sua 34ª vitória na Fórmula 1

RIO DE JANEIRO – O adjetivo que dá título a este post é o retrato do que foi o GP da Austrália. Uma corrida previsível, cujo resultado se desenhou nos treinos e foi sacramentado após 58 voltas de pouquíssima ou de nenhuma emoção para o público presente no Albert Park e aos telespectadores em suas casas. Dobradinha da Mercedes, do início ao fim, com Lewis Hamilton chegando a mais uma vitória e Nico Rosberg em segundo. Definitivamente, os alemães fazem da Fórmula 1 um feudo só deles. Chegar perto dos Flechas de Prata é, ainda, uma utopia.

Aliás, que graça tem mesmo uma corrida com 18 carros previstos, que cai para 17 com o veto dos médicos a Valtteri Bottas, lesionado nas costas e depois para 15, com as quebras – antes da largada, é bom lembrar – da McLaren de Kevin Magnussen, cujo motor se entregou e da Red Bull de Daniil Kvyat? Corrida que perdeu logo no início as duas Lotus, envolvidas numa carambola na segunda curva, que mandou Pastor Maldonado para o muro e Romain Grosjean para a garagem. Há emoção nisto? É o que o público quer ver? Definitivamente, não.

Por falar em Magnussen e Kvyat, enquanto tudo acontecia em Melbourne, o público brasileiro ficava privado de informações para se apresentar o que se chama de “pré-hora” da emissora que detém os direitos de transmissão da categoria, um verdadeiro show de horror. Coitada da Bia Figueiredo e também do Raul Boesel, hoje DJ mas totalmente subaproveitado como antigo integrante da categoria, que certamente viveu poucas e boas ali. Falar só da estreia na África do Sul não basta. Mas bom mesmo é dizer que ele correu “na principal categoria do automobilismo dos EUA”. É pecado falar o nome da Fórmula Indy? Para a referida emissora é.

E pra que levar dois atores e o Giba do vôlei? O que eles conferem de credibilidade a uma transmissão? Se os fatos jornalísticos que importavam não eram exibidos? Era uma hecatombe acontecendo – será que não há um coordenador informando no switcher que o Magnussen quebrou? Que o Kvyat parou? Na boa… isso não é jornalismo, isso é outra coisa. Menos jornalismo.

Pouca gente deve ter percebido mas, com exceção feita ao famoso “GP de Seis” em Indianápolis, que na verdade teve os 20 carros inscritos no grid e 14 rumaram para os boxes naquela oportunidade, este GP da Austrália foi o que menos participantes registrou nos últimos 33 anos. Perdeu para o GP de San Marino de 1982, cujo grid tinha 14 carros e também para duas ou três corridas nos anos 60 (não me lembro direito quais) que tiveram 13 participantes e para o GP da Argentina de 1958, que contou com uma dezena de participantes.

Depois, chovem críticas pela extinção do Linha de Chegada, que pelo desejo dos telespectadores não devia ter saído da grade do canal a cabo das organizações Globo. Mas lá, meus caros leitores, tem gente que se sente tanto, mas tanto, que se julgam inventores da roda, da eletricidade, da física quântica e da própria televisão. Aí, fica difícil o automobilismo ser tratado como ele realmente merece. Porque, afinal de contas, o que vale são os pilotos brasileiros e o resto que se exploda. Certo?

Errado. Tanto que vamos seguir em frente e continuar a falar desse GP da Austrália, que é o que realmente interessa, mesmo longe de ser uma grande corrida.

Tirando a Mercedes, vamos lá: a Ferrari começa 2015 muito melhor que ano passado e quem se aproveita disto é Sebastian Vettel. O alemãozinho, que passou por maus bocados em Melbourne há um ano atrás, já esboça sorrisos e parece que o comando de Maurizio Arrivabene começa a trazer frutos para um time perdido, de auto estima baixíssima e desmoralizado pelos adversários. Um deles, a Williams, que continua bem e com o único carro que correu, terminou nos pontos graças a uma corrida sólida de Felipe Massa.

Melhor, impossível: o 5º lugar de Felipe Nasr, mais do que uma agradável surpresa, foi um bálsamo para a Sauber diante dos últimos acontecimentos

O outro Felipe, o Nasr, tornou-se em meio à hecatombe que foi o GP da Austrália em que só 11 viram a quadriculada e desses onze, só os cinco primeiros completaram 58 voltas, o brasileiro mais bem colocado numa prova de estreia na categoria. Um 5º lugar encorajador para o piloto de Brasília e – melhor que isso – balsâmico para uma equipe que não marcou um pontinho sequer em 2014 e que vinha atarantada pelo tal de Giedo Van der Garde, que – repito – não estava errado em reclamar seus direitos, mas sim na forma como tentou resolver as coisas. Ainda por cima, os dois pilotos terminam a corrida entre os 10 com direito a pontos. A Sauber, agora, respira aliviada.

Junto a Nasr, outros dois pilotos entram para os compêndios: o igualmente estreante Carlos Sainz Jr. e o próprio Marcus Ericsson integram agora o rol dos pilotos que pontuaram pelo menos uma vez na Fórmula 1. Agora, são 329 ao total. Sainz, inclusive, é o sétimo estreante mais jovem na história a pontuar – recorde que poderá ser batido, de longe, por Max Verstappen – e que poderia inclusive ter sido quebrado nesta corrida inaugural do campeonato, mas o Toro Rosso #33 quebrou e deixou o jovem adolescente holandês pelo caminho.

Outro registro digno de nota é que, mesmo fora dos pontos, Jenson Button conseguiu dar mais quilometragem ao conjunto McLaren-Honda. Tenho visto muita gente dar opinião sobre Fernando Alonso, que o espanhol não volta mais ao cockpit do carro, et cetera e tal. Ok, o incidente dele em Barcelona foi muito estranho, deu margem a muitas ilações e desconfianças. Mas acho que Ron Dennis sabe com quem está lidando e vice-versa. Não acho que o bicampeão de 2005/2006 tome uma atitude covarde de abandonar o barco, principalmente agora que a equipe e também a Honda precisam muito dele. A McLaren tem força para melhorar e duvido que a equipe vá baixar os braços, mesmo após um dos piores finais de semana de sua história.

A temporada começa de forma atribulada para uns, confusa para muitos e razoavelmente boa para poucos. Tranquila, mesmo, só para a Mercedes.

Pior para os adversários.