A Mil por Hora
Fórmula Indy

Sinal de alerta

[bannergoogle] RIO DE JANEIRO – Luz vermelha na Fórmula Indy: os acidentes ocorridos nos treinos das 500 Milhas de Indianápolis deixam no ar a sensação de que algo errado acontece com os novos kits aerodinâmicos introduzidos para circuitos ovais na categoria estadunidense. Os voos de Hélio Castroneves e Josef Newgarden já deveriam ter servido para […]

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O acidente de Ed Carpenter a poucas horas da definição do grid da Indy 500 deflagrou mudanças de última hora para a corrida do próximo domingo (Foto: AP/USA Today)

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RIO DE JANEIRO – Luz vermelha na Fórmula Indy: os acidentes ocorridos nos treinos das 500 Milhas de Indianápolis deixam no ar a sensação de que algo errado acontece com os novos kits aerodinâmicos introduzidos para circuitos ovais na categoria estadunidense. Os voos de Hélio Castroneves e Josef Newgarden já deveriam ter servido para a tomada de providências, mas bastou primeiro os carros atingirem a estonteante velocidade de 233 mph, o que nunca aconteceu neste século e depois outro grave acidente, com o pole position do ano passado Ed Carpenter, para a diretoria da categoria tomar medidas visando a segurança dos pilotos, equipes e público.

Em primeiro lugar, a própria categoria acabou com a mística das 500 Milhas. Os preparativos, que varavam o mês de maio inteiro, foram reduzidos a apenas uma semana de sessões livres de treinos. Ok… entendo que a categoria queira reduzir custos, mas de que forma ela vai fidelizar novas equipes e pilotos se não há mais chance para os nanicos lutarem contra organizações da potência de uma Penske e de uma Ganassi?

Depois, se os antigos Dallara com aparência de tanque de guerra já eram perigosos e provocavam acidentes, que dirá os estranhos DW12 – que com os novos kits de aerodinâmica, ficaram ainda piores. Não à toa, Ed Carpenter estava puto dentro do macacão. Em entrevista após ser liberado do centro médico localizado no infield do circuito, ele disse que os carros são “imprevisíveis”. Helinho e Newgarden que o digam… Aliás, todos os três pilotos que bateram, voaram e capotaram têm o kit aerodinâmico da Chevrolet, que é distinto do Honda.

No meio desse tiroteio, em que cada fornecedor de motor defendeu seu lado, ficou o CEO Mark Miles e aí decidiu-se pela redução do boost do turbo dos carros, pelo cancelamento do Fast Nine que ofereceria pontos extras ao campeonato e foi assim que, com 40 HP a menos e a mesma aerodinâmica que será usada na corrida do próximo domingo, os carros foram para a pista para a classificação, decidida numa única tarde por conta da chuva do sábado. Scott Dixon, da Ganassi, fez a pole com a média de 226.760 mph, sete milhas mais lenta (ou 11,2 km/h) que a marca de Castroneves nas sessões livres. O tricampeão da prova larga na segunda fila, com o 5º tempo, ao lado do compatriota Tony Kanaan.

Ontem, no calor da discussão sobre as decisões tomadas em Indianápolis, cheguei a escrever numa rede social que eu temia pela repetição das ocorrências nas 500 Milhas de 1973, que foram batizadas de “72 Horas de Indianápolis” em razão dos sucessivos adiamentos e problemas com o mau tempo.

Na trágica edição da prova em 1973, Salt Walther ficou com pés e pernas expostos em seu carro capotado após acidente na primeira largada

Na segunda-feira, 28 de maio, dia marcado para a corrida, um acidente com 11 pilotos paralisou a disputa. O carro de Salt Walther chegou a escalar as cercas de proteção e a batida foi tão violenta que o piloto ficou com as pernas expostas, além de sofrer severas queimaduras e lesões gravíssimas em suas mãos. Por incrível que pareça, o piloto – que morreu há poucos anos – ainda retomaria sua carreira.

Choveu logo depois e também na terça-feira, quando a disputa chegou a ser retomada com 32 pilotos na pista. E na quarta-feira, quando finalmente a corrida teve alguma sequência, aconteceu o violento acidente de Swede Savage, que explodiu seu Eagle Offenhauser no muro da curva 4. O piloto foi transportado a um hospital com múltiplas fraturas e em estado “crítico, mas estável”. Swede, que tinha 26 anos à época, morreria no dia 2 de julho.

Swede Savage sofreu este acidente durante a corrida de 1973; o piloto morreria mais de um mês depois

Há 42 anos, a discussão também passava pela segurança (ou pela falta dela). Os carros, com o uso de pneus slicks mais aderentes e motores cada vez mais potentes, já atingiam 200 mph de média, o que era um perigo com chassis cada vez mais inseguros. A morte de Art Pollard durante os treinos livres naquele ano também poderia ter servido de aviso e a corrida foi disputada sob o espectro da tragédia.

Ninguém pode torcer para que no próximo domingo, que é histórico com a realização também do GP de Mônaco e da Charlotte 600 da Nascar, tenhamos uma tragédia pior ou semelhante que a de 1973. Mas os sinais estão aí. Só não vê quem não quer.