A Mil por Hora
Fórmula 1

A que ponto chegamos…

RIO DE JANEIRO – Palavra de honra: nunca tinha visto uma corrida tão chata, modorrenta e previsível na história do GP do Brasil quanto esta. E já haviam acontecido outras 43 corridas desta, desde 1972. Na opinião do blogueiro que vos escreve, foi a pior corrida que Interlagos já viu na categoria máxima em qualquer […]

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De novo: Nico Rosberg venceu outra vez o GP do Brasil, mas a corrida foi chata e previsível (Foto: Rodrigo Berton/Grande Prêmio)

RIO DE JANEIRO – Palavra de honra: nunca tinha visto uma corrida tão chata, modorrenta e previsível na história do GP do Brasil quanto esta. E já haviam acontecido outras 43 corridas desta, desde 1972. Na opinião do blogueiro que vos escreve, foi a pior corrida que Interlagos já viu na categoria máxima em qualquer tempo. Tão chata que só os quatro primeiros completaram as 71 voltas previstas – só as duas Mercedes-Benz e as duas Ferrari – e Nico Rosberg conquistou, liderando praticamente todas as voltas (menos seis) – sua 13ª vitória na carreira, a segunda no Brasil.

O resultado foi muito bom para Rosberg, que conquistou o vice-campeonato: a vantagem que ele tem para Sebastian Vettel é de 33 pontos e o piloto da Ferrari – único a quebrar o predomínio dos dois pilotos da estrela de três pontas – não pode mais alcançá-lo na etapa de Abu Dhabi, que ano passado ofereceu pontuação dobrada aos pilotos. As críticas (que foram muitas) por conta do critério adotado na ocasião fizeram a FIA e Bernie Ecclestone rever esse critério.

Mas o GP do Brasil não foi bom para todo mundo, como se pode ver aqui. Afinal de contas, de pachequismos exagerados o torcedor está cheio, afora outras figuras totalmente dispensáveis. Não surpreende saber da baixa audiência da transmissão da corrida: a Fórmula 1 não vive um bom momento e o público brasileiro também já não aguenta mais acompanhar uma categoria em que os pilotos do país não têm chance nenhuma de vencer.

Felipe Nasr merece até o benefícío da dúvida. Até fez uma boa temporada, com 27 pontos somados e defendendo uma equipe (Sauber) que no ano passado foi a pior de toda a categoria. Mas Felipe Massa continua perdendo no confronto direto para Valtteri Bottas dentro da Williams – e olha que o finlandês não disputou de fato o GP da Austrália. Com uma prova a menos, portanto, o nórdico soma mais pontos que o companheiro de equipe. Para piorar, Felipe (Massa) foi desclassificado da corrida deste domingo porque a pressão dos pneus de seu carro estava 0,1 psi abaixo do exigido pelo fornecedor, a Pirelli. A equipe vai recorrer da punição, mas é a tal história, como diz o filósofo: regra é regra.

E tem mais: a transmissão foi muito, muito chata. Eu lamento muitíssimo pelo Reginaldo Leme, com quem trabalhei no extinto Linha de Chegada por vários anos e com quem aprendi muito, não só no convívio profissional como também nas transmissões que assistia nos bons tempos da F1 nos anos 70/80/90. Mas embora reconheça que o Galvão Bueno é um narrador como poucos que existiram na televisão brasileira, há muito tempo ele se tornou uma personagem muito diferente do “vendedor de emoções” que ele se auto-intitula. Virou um pastiche de si próprio, com expressões que entraram para o folclore da televisão, como a história da “reta-curva”, repetida algumas vezes inclusive durante a corrida deste domingo. Afora outras sandices proferidas ao longo das 71 voltas da corrida, que enervam o telespectador comum e principalmente aos apaixonados por automobilismo, cada vez mais exigentes – com toda razão.

Sobre o comentarista-especialista em conversa de rádio-Google Translator-Michaelis, não vou perder meu tempo. Tenho minhas razões para não ser um de seus maiores admiradores e não vou gastar vela com defunto barato. Ponto final.

De resto, pouquíssimo a se salvar de uma corrida como esta. Talvez Max Verstappen? É bem possível: o holandês cometeu algumas ultrapassagens e animou a corrida. O 6º lugar de Nico Hülkenberg, após levar um vareio de Sergio Pérez em algumas das últimas corridas disputadas, também. Mas o fim de semana foi histórico para a McLaren, não pelo resultado – até porque Fernando Alonso chegou em 15º lugar, logo atrás de Jenson Button – mas pelo que aconteceu fora da pista, no sábado.

O momento de zoeira de Alonso e Button talvez tenha sido a melhor coisa do pior GP do Brasil em toda a sua história

Quem acompanhou o treino que definiu o grid de largada certamente morreu de rir com as cenas proporcionadas primeiro por Fernando Alonso, espectador privilegiado que o espanhol se tornou do Q1 (aliás, perceberam como alguém pode dar visibilidade à F1 nas redes sociais – mesmo sem ter escrito uma única linha no Twitter ou Facebook?), a primeira parte da sessão oficial de qualificação como a cena sensacional que envolveu não só o espanhol como Button: os dois aproveitaram a eliminação precoce da dupla e, numa galhofa que há muito tempo não tínhamos a oportunidade de ver dentro da categoria, subiram ao pódio.

Foi a única forma de ver alguém da McLaren por lá.  E provavelmente, a imagem mais legal de uma corrida que a equipe, o público e os apaixonados por automobilismo certamente hão de querer esquecer. Por sinal, as arquibancadas estiveram até bem mais cheias que em 2014, com um público de 136 mil torcedores confirmado nos três dias do evento. Mas ninguém merecia isso que se viu no domingo.

A que ponto chegamos…