A Mil por Hora
Motovelocidade

Campeonato amoral

RIO DE JANEIRO – A decisão da MotoGP acabou definitivamente manchada pelas polêmicas das últimas duas semanas. Todo mundo pode mudar de opinião e eu mudei a minha. Marc Márquez foi tão culpado quanto Valentino Rossi por tudo o que aconteceu em Sepang, na Malásia. Se um foi punido, o outro também deveria ser. E […]

20151181453682_CTTAq6SUkAAupfm_II
Apesar e depois de tudo, mesmo sem ter conquistado o décimo título da carreira, Valentino Rossi foi o grande herói do domingo de decisão da MotoGP em Valência

RIO DE JANEIRO – A decisão da MotoGP acabou definitivamente manchada pelas polêmicas das últimas duas semanas. Todo mundo pode mudar de opinião e eu mudei a minha. Marc Márquez foi tão culpado quanto Valentino Rossi por tudo o que aconteceu em Sepang, na Malásia. Se um foi punido, o outro também deveria ser. E aí, no fim das contas, com Rossi largando de último no GP da Comunidade Valenciana neste domingo, seria quase impossível que Jorge Lorenzo perdesse o título para o italiano, seu companheiro de equipe – e desafeto – na Yamaha.

A resposta foi dada na pista. Valentino, com uma corrida de garra e coração, fez uma recuperação digna do grande campeão que sempre foi. Ultrapassou vinte e um pilotos em 13 voltas – quem acompanhou a corrida certamente torceu por ele, para que fizesse muito mais e chegasse ao título  – o que, convenhamos, levaria mais de 100 mil torcedores que lotaram as dependências do Circuito Ricardo Tormo ao delírio e faria os donos da pista jogar a chave fora e deixar todo mundo ali, comemorando como se não houvesse amanhã. Mas ao largar do fim do grid, já estava com o destino selado. O quarto lugar que alcançou em menos da metade do percurso , já a 11 segundos de distância do líder, foi o máximo que ele pôde fazer.

Lorenzo fez a parte dele. Foi pole, largou muito bem e liderou a corrida de ponta a ponta. Tem seu mérito em ser o campeão da MotoGP pela terceira vez? Talvez. Mas sinceramente, não precisava disso. A FIM e a Dorna pisaram na bola, embora a organizadora do Mundial de Motovelocidade tenha usado de tudo o que aconteceu pós-Sepang para promover a corrida deste domingo como ninguém e atrair uma atenção há muito tempo distante de uma decisão de campeonato em duas rodas. Muito mais por Rossi do que por Lorenzo, convenhamos.

Por isso, o italiano tenha terminado o dia como o grande herói. Ovacionado nas arquibancadas e nos boxes, o Doutor foi responsável pela grande debandada de público nas arquibancadas após a disputa (notaram?) e teve seu nome gritado após a festa do pódio. Mesmo ausente dos três primeiros lugares, Vale sai por cima, mostrando porque é o maior nome da modalidade na história contemporânea e que em matéria de carisma, existe um abismo entre ele e todos os outros pilotos.

É claro que Rossi desabafou após a corrida. Sentiu-se vencido já desde quinta-feira, quando seu recurso no Tribunal Arbitral foi recusado e a punição mantida. Disparou sua metralhadora contra o seu mais novo desafeto, Marc Márquez. E o acusou de não ter se esforçado o bastante para vencer Lorenzo em Valência.

E alguém achou que o piloto da Honda faria realmente algo para beneficiar Valentino? Claro… que não. Márquez foi torpedeado nas redes sociais, acusado de bundão e de ter sido subserviente a Lorenzo. Podendo superá-lo, não o fez. E ficou feio, mas tão feio, que o piloto foi estrepitosamente vaiado quando ergueu seu troféu de 2º colocado. Vaiado na Espanha. Fiasco total.

Já Dani Pedrosa, a quem costumo chamar de ‘Medrosa’ por amarelar na hora H, mostrou ser muito mais digno do que Márquez. Pelo menos não meteu o galho dentro. Tentou fazer alguma coisa, mas quando os dois se estranharam, Lorenzo agradeceu penhoradamente – pois era muito pressionado e poderia ter sido ultrapassado. O piloto da #26 acabou ganhando alguns pontos não só com o escriba aqui, mas com o público fã da Motovelocidade em geral.

Resumo da ópera: este foi um título amoral para Lorenzo, embora o piloto de Barcelona tenha sido o maior vencedor do ano, com sete triunfos. Márquez, tão idolatrado por seu bicampeonato e outrora comemorado a maior revelação do esporte desde… Rossi, caiu em descrédito. E o Doutor, aos 36 anos, deu a volta por cima. Mesmo perdendo um título que foi seu em grande parte do campeonato, apesar de tudo o que aconteceu em Sepang, saiu como herói.

Que mundo é esse que dá tantas voltas…