A Mil por Hora
Túnel do Tempo

Direto do túnel do tempo (300)

RIO DE JANEIRO – No último domingo, vulgo ontem, completou-se 40 anos de uma perda das mais dolorosas para o automobilismo. Não só pela forma como aconteceu, mas principalmente para uma família que perdeu tudo o que tinha e precisou se reerguer. Em 29 de novembro de 1975, num acidente de avião, morria o bicampeão […]

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Graham Hill: o único tríplice coroado na história do automobilismo, com vitórias nas 500 Milhas de Indianápolis, 24 Horas de Le Mans e no GP de Mônaco (neste, cinco vezes), completou 40 anos de sua trágica morte no último domingo

RIO DE JANEIRO – No último domingo, vulgo ontem, completou-se 40 anos de uma perda das mais dolorosas para o automobilismo. Não só pela forma como aconteceu, mas principalmente para uma família que perdeu tudo o que tinha e precisou se reerguer. Em 29 de novembro de 1975, num acidente de avião, morria o bicampeão mundial de Fórmula 1 Graham Hill, além do piloto Tony Brise e diversos membros de sua modesta escuderia, a Embassy-Hill Racing, cuja história já foi narrada aqui no blog na série Saudosas Pequenas.

A equipe vinha de um treino preparatório no circuito francês de Paul Ricard para a temporada de 1976, onde a escuderia estrearia o modelo Hill GH2, com laterais baixas, explorando novas soluções para o regulamento técnico que entraria em vigor a partir de 1º de maio, durante o GP da Espanha.

O Hill GH2 com Tony Brise no cockpit: seis pessoas, incluindo Hill e seu piloto, morreram num desastre de avião quando retornavam de um teste em Paul Ricard

Hill (cuja licença para pilotar aviões expirara, é bom observar), conduzia o modelo Piper Aztec de sua propriedade, voando de volta da França para pousar num pequeno Aeroporto em Elstree, na Inglaterra. Porém, a densa neblina tornou-se um obstáculo quase intransponível para os ocupantes da aeronave. Uma tentativa desesperada de pouso de emergência acabou em tragédia: o avião caiu num campo de golfe, houve incêndio e todos – Hill, Brise, o Team Manager Ray Brimble, o designer Andrew Smallmann e os mecânicos Tony Alcock e Terry Richards – foram encontrados mortos.

Não obstante a falta de licença para conduzir aeronaves, Hill estava descoberto, sem seguro de vida. Por isso, sua família teve que recomeçar do zero – o que só valoriza a luta de sua viúva Betty Hill e do filho Damon, que tornou-se o primeiro herdeiro de um campeão a conquistar o Mundial de F1 em 1996.

Graham era meio negligente ao conduzir aeronaves e uma testemunha dessa negligência foi o sueco Ronnie Peterson, que narrou certa vez a Emerson Fittipaldi uma história envolvendo os dois e o mesmo Piper Aztec do acidente fatal em 1975. Os dois foram juntos da Inglaterra para uma prova de F2 em Pau, na França. Após a decolagem em Biggin Hill, Graham anunciou a Ronnie.

“Vou dormir. O avião está no piloto automático. Quando o primeiro tanque de combustível se esgotar, apenas acione esta alavanca para entrar em ação o segundo tanque.”

“Tenho mesmo que fazer só isso?”, questionou Ronnie. “Não se preocupe, estaremos bem”, afiançou Graham.

Peterson ficou acordado durante todo o tempo e atento às conversas de rádio. Fluente em idiomas, o sueco se assustou com as mensagens que vinham da torre de controle do aeroporto de Orly.

“Há um avião vindo em nossa direção”, disse o sueco. “Está tudo bem, me deixe dormir”, encerrou Hill.

E assim, por muito pouco, quase que os dois foram para as cucuias. Um enorme Jumbo 747 passou sobre o Piper Aztec e o motivo disto foi que Hill traçou uma rota praticamente em linha reta entre Biggin Hill e Pau, passando exatamente por cima do Aeroporto de Orly.

Há 40 anos, direto do túnel do tempo.