A Mil por Hora
Fórmula 1

O que vi do GP da Austrália

RIO DE JANEIRO – Disse no Facebook, repito aqui. Escrevo o que quero (o blog é meu), quando quero e quando posso (nem sempre tenho tempo). Não preciso me justificar, mas quem conhece meu trabalho sabe que no último sábado fiquei sete horas DIRETO E AO VIVO no ar com a Xfinity Series da Nascar […]

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Feliz: Nico Rosberg conquista sua quarta vitória seguida na Fórmula 1 e abre a temporada como líder do campeonato

RIO DE JANEIRO – Disse no Facebook, repito aqui. Escrevo o que quero (o blog é meu), quando quero e quando posso (nem sempre tenho tempo). Não preciso me justificar, mas quem conhece meu trabalho sabe que no último sábado fiquei sete horas DIRETO E AO VIVO no ar com a Xfinity Series da Nascar e o IMSA Weather Tech SportsCar Championship, na reta final das 12h de Sebring. Amo o que faço, é minha profissão. Mas não vou tolerar falta de respeito de leitor impertinente que vem aqui na área de comentários, cheio de macheza, se sentindo forte o bastante para fazer cobranças descabidas e principalmente tecer comentários infelizes.

Vida que segue. Se não consegui assistir ao GP da Austrália de F1 ao vivo, tive a chance de ontem, ao chegar em casa, assistir ao tape da prova do Albert Park.

Das duas uma: ou o cara que me atacou no comentário está louco ou o maluco sou eu. Porque de “corridaça” a abertura do campeonato de 2016 da F1 não teve nada. Ou melhor: até alguns momentos foram bons. Mas não tudo. Corridaça foi as 12h de Sebring. Corridaça foi a Nascar ontem em Fontana. A Moto3 em Losail. Se termos mais uma dobradinha da Mercedes, dominante nos últimos anos, reflete uma “corridaça”, é melhor que tenhamos que rever nossos conceitos.

Ok… a largada foi legal. Lewis Hamilton, na pole, deu a brecha. Sebastian Vettel largou feito foguete e Kimi Räikkönen também foi espetacular. Pelo menos um início de corrida diferente do que estávamos acostumados. O tricampeão caiu para 6º, mas por pouco tempo. Galgou posições e chegou a andar em segundo quando Vettel e Nico Rosberg pararam nos boxes. O britânico baixou para 7º quando aconteceu então o espetacular e grave acidente do espanhol Fernando Alonso.

Um homem de sorte? A porrada de Fernando Alonso no GP da Austrália foi monumental, mas a segurança da célula de sobrevivência do McLaren MP4-31 revelou-se 100% eficiente

O asturiano pareceu ter errado a manobra, mas a culpa pode ser dividida entre ele e o mexicano Estebán Gutiérrez, da novata Haas. No contato entre os dois carros, Alonso capotou de forma impressionante. Agindo por instinto, o piloto da McLaren saiu rapidamente dos destroços. Sentindo apenas dores.

“Gastei uma vida. Saí logo do carro porque sei que minha mãe estava assistindo. Sou um homem de muita sorte”, afirmou.

Depois da porradaça que determinou a interrupção da corrida por bandeira vermelha, tivemos o prematuro abandono do Räikkönen e aí a corrida virou um duelo à parte entre Vettel e Rosberg, com a Ferrari fazendo tudo para perder a prova que o alemão liderou por 34 voltas. A estratégia e uma troca desastrosa de pneus foram determinantes para a derrota. E também para a dobradinha da marca da estrela de três pontas – pois Vettel voltou atrás de Hamilton e Ricciardo, que herdou a 2ª colocação, precisou parar. Aí o pódio se definiu.

Gostei também do que os garotos da Toro Rosso fizeram no início, mas concordo com alguns colegas da imprensa: Max Verstappen precisa tomar muito cuidado para não se tornar um piloto insuportável. Talvez a presença do pai Jos esteja influenciando (mal) a mudança de comportamento do holandês. De aguerrido no ano de estreia, parece caminhar para ser um grande babaca. Incensam-no demais. Ele ainda precisa comer muito feijão com arroz para ser grande. E a Toro Rosso, por mais que tenha um bom carro, não é equipe de ponta – ainda.

Um show: Romain Grosjean levou a novata Haas a um grande resultado em sua primeira apresentação na Fórmula 1

Mas o que mais impressionou, mesmo, foi a performance consistente do novo Haas VF-16 com motor Ferrari, com Romain Grosjean a bordo. Gene Haas e Günther Steiner não se contém em felicidade. E não poderia ser de outra forma: o time estadunidense, cuja raiz é a Nascar, alcançou o feito da Toyota, que há 14 anos foi a última equipe estreante a pontuar na categoria – 6º lugar com Mika Salo, no mesmo GP da Austrália e na mesma Melbourne. Em uma só prova, a Haas fez mais do que Manor, Caterham e HRT, os últimos times novos que surgiram daquele processo sem nexo do Max Mosley, juntas.

Não foi um resultado fruto do acaso: a equipe se estruturou e se preparou para o desafio. Além de comprar praticamente tudo da Ferrari (unidade de força, transmissão e câmbio e até volantes), Gene Haas fez uma parceria com a Dallara para a concepção e o desenvolvimento do chassi. A equipe parece promissora. Pior para a Manor e, principalmente, para a Sauber – que neste fim de semana ficou devendo – e muito.

Dos novatos, gostei do Jolyon Palmer. Muito agressivo na pista, vendendo caro as posições. Pode ser que por conta dos problemas surgidos na pré-temporada, o verdadeiro potencial do Renault RS16 ainda não tenha desabrochado. Pascal Wehrlein também foi bem ao aparecer em 14º lugar com o Manor Mercedes (que a FOM insiste em chamar de MRT). E Rio Haryanto só apareceu ao provocar uma batida ao sair dos pits no terceiro treino livre, perdendo “pontos na carteira” e posições no grid.

Felipe Massa foi superior a Valtteri Bottas durante todo o fim de semana. Treinos e corrida. Comeu o finlandês com farinha e terminou em 5º lugar. Felipe Nasr sucumbiu diante de um carro lento e, até aqui, pouco competitivo. E o vencedor, Nico Rosberg, deve estar bem orgulhoso por chegar ao quarto triunfo consecutivo na Fórmula 1, um feito que também deve ter arrancado alguns sorrisos do velho Keke, campeão de 1982.

De resto, ficou a certeza que a F1 ainda precisa melhorar. Principalmente pelo mico perpetrado pelo novo sistema de classificação – que parecia sensacional, todo mundo tinha gostado – mas que revelou-se um autêntico fiasco. Durou só um evento e no Bahrein, próxima etapa, volta o formato anterior.

Aí fico pensando no seguinte: que providências serão tomadas se a Mercedes continuar dominante nas demais corridas? Ou será que teremos que torcer para a Ferrari continuar um passo à frente, como pareceu na Austrália, e incomodar a rival?

Até meu filho, do alto dos seus 14 anos, deu uma sugestão que – acredito – ninguém pensou: lastrear os três primeiros colocados. Um peso extra poderia, segundo o Bruno, ser adicionado ao primeiro, ao segundo e ao terceiro em cada prova, até um determinado limite, como forma de penalizar os vitoriosos e dar algum equilíbrio a um campeonato carente de grandes emoções nos últimos tempos. Só registrei aqui o que ele me disse, porque achei interessante.

A F1 buscou a reinvenção e teve medo. A fórmula do “mata-mata” nas três fases de qualificação poderia ser melhor aplicada e não foi. Depois, não reclamem se uma só equipe dominar as demais 20 corridas do campeonato…