A Mil por Hora
Fórmula Indy

Roteiro de filme

RIO DE JANEIRO – Pode parecer – e é – clichê. A história das 500 Milhas de Indianápolis, que hoje chegou à sua edição centenária nos traz roteiros dignos de Hollywood. Daqueles que a gente não vai esquecer tão cedo. E nem nos mais delirantes sonhos, poderíamos imaginar que veríamos um piloto nascido em 1991 […]

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Nem nos nossos mais delirantes sonhos, acreditaríamos numa vitória de Alexander Rossi na 100ª edição das 500 Milhas de Indianápolis, que nos proporcionaram mais uma corrida digna de roteiro cinematográfico (Foto: IndyCar/Reprodução Grande Prêmio)

RIO DE JANEIRO – Pode parecer – e é – clichê. A história das 500 Milhas de Indianápolis, que hoje chegou à sua edição centenária nos traz roteiros dignos de Hollywood. Daqueles que a gente não vai esquecer tão cedo. E nem nos mais delirantes sonhos, poderíamos imaginar que veríamos um piloto nascido em 1991 – ano em que foi comemorado o 80º aniversário da primeira corrida naquele circuito – campeão da prova.

Tudo bem… até poderia ter sido um outro alguém mais jovem do que isso. Pouco importa. Mas há um detalhe ainda mais interessante: o piloto em questão andava de Fórmula 1 há oito meses atrás – e logo na hoje Manor, então Marussia, conquistando a simpatia de muitos fãs por optar competir nas cinco provas que disputou, com o numeral #53 do simpático Herbie, o Fusquinha dos filmes de Walt Disney. Na verdade, ele ainda é ligado à equipe britânica, da qual é reserva imediato dos titulares Pascal Wehrlein e Rio Haryanto. Mas de repente, Bryan Herta abriu-lhe as portas da Fórmula Indy, dispensando seu antigo pupilo Gabby Chaves. Refiro-me a Alexander Rossi, que pelo menos hoje e ao longo desta semana, será notícia, atração e celebridade nos EUA.

Há um ditado que não é o piloto que ganha as 500 Milhas. É a pista de Indianápolis, mítica e única como poucas na história do esporte, que escolhe os seus ganhadores. Hoje foi escolhido um underdog, um novato – o primeiro a vencer a prova desde 2001, quando Hélio Castroneves marcou a volta da Penske à pista com um triunfo histórico em dobradinha com Gil de Ferran. E não só isso: a estratégia da equipe BHA with Andretti Autosport foi perfeita: Rossi chegou a liderar numa janela diferenciada – ele e Alex Tagliani estavam fora do ciclo de paradas dos líderes – e a equipe fez a conta reversa. Com 60 voltas para o fim, sem bandeiras amarelas, daria para chegar ao final com somente mais uma parada. Foi exatamente o que aconteceu.

Enquanto os demais pilotos tinham que repor combustível em bandeira verde – e com isso precisavam do chamado splash and dash – Rossi economizava. As últimas duas voltas foram dramáticas. A pergunta era: vai dar ou não? E deu – a média horária do piloto na última volta foi de apenas 179.784 mph, equivalentes a 289,277 km/h. Nenhum carro de Fórmula Indy em ritmo normal anda isso em Indianápolis. Foram certamente os últimos 4,022 km mais dramáticos da história do autódromo. Aí quando o carro #98 nas cores da NAPA Auto Parts cruzou a linha final, a equipe explodiu de alegria.

Detalhe: Herta vence pela segunda vez como dono de equipe nas 500 Milhas e em outro final épico. O primeiro foi em 2011 (lembram?), cortesia de JR Hildebrand, que bateu no muro na última curva da última volta com o carro da Panther. O saudoso Dan Wheldon, que vinha em segundo com o #98 da BHA, passou como foguete pelo adversário manco e venceu a prova. O britânico desapareceria de forma trágica após um acidente no fim daquele campeonato em Las Vegas.

E pensar que a vitória poderia ter sorrido para qualquer outro. Talvez Carlos Muñoz, de novo vice-campeão da clássica prova… talvez Josef Newgarden… quem sabe até os dois brasileiros, que fizeram uma ótima corrida mas acabaram terminando em quarto (Kanaan) e 11º (Castroneves). Muita gente nas redes sociais tem a opinião de que os dois tinham que arriscar. Honestamente, não sei. Eles sabiam – ou não – o que estavam fazendo e tomaram as decisões que julgavam corretas. O automobilismo é assim. Nem sempre existe justiça.

Nunca um gole de leite foi tão saboroso para o novato que saiu da pior equipe da Fórmula 1 para ganhar em Indianápolis. O automobilismo é glorioso…

Mas existem momentos bonitos. E Rossi, ao vencer a corrida, acabou ovacionado de pé por um público que lhe negou mais aplausos do que talvez merecesse, na apresentação oficial dos 33 pilotos mais cedo. No cockpit, ao chegar no Victory Lane, os olhos marejados demonstravam toda a emoção da conquista. E nunca o gole de leite, tradição dos vencedores de Indianápolis, foi tão prazeroso, tão saboroso. E vem mais antes da próxima etapa, já no próximo fim de semana em Detroit: participações em talk shows, fotos, o cheque gordíssimo pelo prêmio que será divulgado amanhã e, a glória suprema – o rosto esculpido no troféu Borg-Warner, um dos mais bonitos da história do automobilismo.

Uma vitória conquistada assim, leitores, não tem preço…