A Mil por Hora
Fórmula 1

A nova guerra

RIO DE JANEIRO – Por força de compromissos profissionais (leia-se final da Fórmula E), não assisti ao vivo o GP da Áustria de Fórmula 1 em sua totalidade. Só pude assistir a íntegra porque gravei a transmissão da emissora oficial – paciência, tive que aturar o Google Translator… – e a corrida no circuito do […]

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João sem braço: Rosberg claramente não virou o volante para fazer a curva e jogou sujo contra Hamilton. Tentou tirar o companheiro de equipe do caminho e ficou sem vitória e sem pódio no GP da Áustria. E ainda foi considerado culpado pelo incidente

RIO DE JANEIRO – Por força de compromissos profissionais (leia-se final da Fórmula E), não assisti ao vivo o GP da Áustria de Fórmula 1 em sua totalidade. Só pude assistir a íntegra porque gravei a transmissão da emissora oficial – paciência, tive que aturar o Google Translator… – e a corrida no circuito do Red Bull Ring não desapontou. Aliás, desconheço alguma corrida naquela pista, seja no velho Zeltweg ou na versão atual “Tilkódromo”, que tenha sido ruim. A de domingo foi bem boa, ao contrário do GP da Europa em Baku.

E não só foi boa. Foi polêmica. E mostrou que há feridas bem abertas na relação entre os pilotos da Mercedes-Benz.

O soquinho de Toto Wolff, putinho porque Lewis Hamilton e Nico Rosberg se tocaram – por conta de uma manobra claramente desleal do alemão (e basta ver a imagem para sacar a intenção do filho do Keke, que não fez a curva, descompensando a trajetória e jogando seu carro para cima de Hamilton, que tentava a manobra de ultrapassagem por fora) mostra uma equipe em claro processo de guerra aberta entre seus pilotos. E Wolff precisará se aconselhar com um sujeito que sabia administrar egos como ninguém e o único que deixou solta uma briga aberta. Uma não, registre-se, foram duas. Esse alguém é Ron Dennis.

Dizem (não tenho certeza) que Wolff é Rosberg FC e Lauda, ao menos em suas declarações anteriores, mantinha-se num tom de relativa neutralidade até começar a espalhar as fofoquinhas do time. Como a que Hamilton teria ficado possesso no Azerbaijão e “destruído uma sala”. Macho pra baralho, hein?

Bom… rompantes de primadonna ou não, certo é que Hamilton tem o que se precisa para ganhar uma corrida da forma como se deve ganhar: colhões. Reclamou abertamente com seu engenheiro pela opção dos pneus macios (os mais duros oferecidos aos pilotos no GP da Áustria) em detrimento de Rosberg, que parou uma volta depois e montou compostos Pirelli supermacios. Lewis esperneou, mas rilhou os dentes de ódio e fez sua parte na pista. Cravou volta mais rápida em cima de volta mais rápida, veio, viu e venceu. Conquistou sua 46ª vitória (250ª de um britânico na história), seu décimo hat-trick e foi o primeiro em todos os tempos a superar a barreira dos 2.000 pontos somados – o que hoje, convenhamos, não significa porra nenhuma. Só vale para efeito estatístico e nada mais.

Rosberg deu uma de malandrão e depois, de babaca. A FIA o considerou culpado na querela e o puniu com acréscimo de tempo de 10 segundos, após cruzar a linha de chegada em quarto. Com o aerofólio do carro tragado pelo fundo de sua própria Mercedes, perdeu o 2º lugar para um Max Verstappen sensacional, posto que o holandês ficou mais de 50 voltas na pista com o mesmo pneu macio e com uma parada a menos que o Iceman Kimi Räikkönen, que chegou em terceiro. A esta altura do campeonato, Max fez muito mais do que Daniil Kvyat em todos os seus anos de piloto de F1 em uma temporada e meia. E já tirou do semblante de Daniel Ricciardo o sorriso de 858023098 dentes do australiano.

Além disso, o grande acontecimento de uma corrida bacana foi: A MANOR NOS PONTOS!

Bravo, Pascal! O jovem alemão de 21 anos pontuou em apenas sua 9ª corrida na Fórmula 1 e com um dos piores carros de todo o grid

Isso mesmo. Pascal Wehrlein, 12º no grid – quase foi pro Q3, o moleque – quase foi punido por se alinhar de forma irregular, deu ré no grid (o que poderia lhe custar a punição de qualquer jeito), chegou a andar em último entre os que estavam na pista, mas fez uma ótima corrida – apesar de sua melhor volta ser 2″448 pior que o melhor tempo da prova – e chegou em 10º. Somou o primeiro ponto de sua carreira – 332º piloto na história a pontuar – e não só deu à Manor o primeiro ponto na nova administração Stephen Fitzpatrick como também enterrou a Sauber como a pior equipe do lote em 2016.

Os pontos baixos da corrida foram a atuação medíocre de duas equipes: Force India e Williams. Esta última, se me lembro bem, comemorou até pole position com Felipe Massa nesse mesmo circuito em 2014. É incrível como a performance dos carros brancos da equipe do querido Sir Frank Williams tem sido tão inconsistente. Massa largou dos boxes e fez mais uma apresentação incapaz de figurar em qualquer folhinha de barbearia. Valtteri Bottas até fez uma boa qualificação, mas andou para trás e só chegou em nono, quase sendo superado por Wehrlein na última volta – o que teria sido bem humilhante para o finlandês.

Na Force India, sobraram problemas. Nico Hülkenberg era o 2º no grid, fez uma péssima largada, foi depois punido e sua corrida foi repleta de percalços até desistir. Sergio Pérez, após um ótimo pódio em Baku, bateu na última volta dessa vez. Mas, no bojo, entre os pilotos, ninguém saiu do Red Bull Ring mais puto do que Sebastian Vettel – que liderava e viu um pneu traseiro direito estourar sem aviso prévio em plena reta dos boxes. E isso só aconteceu com o carro dele. Bernie Ecclestone, que gosta do alemãozinho, vai cobrar certamente maiores explicações do fornecedor de pneus da categoria.

De resto, outro resultado digno de registro foi a 6ª posição de Jenson Button, que chegou a ocupar o segundo posto por sete voltas. E registre-se: só foi ultrapassado por Ricciardo porque o australiano montou ultramacios em sua Red Bull (o gráfico acima mostra isso). Nem por decreto que Jenson, em condições normais, seria superado pelo rival.

E mais um capítulo da batalha Rosberg versus Hamilton será escrito no próximo domingo. Logo onde? No território do vencedor da última etapa, em Silverstone, na Inglaterra. A diferença entre os dois é de 11 pontos. Querem apostar como Rosberg vai amarelar na primeira oportunidade?