A Mil por Hora
Fórmula 1

Bye bye, Ron

RIO DE JANEIRO – A Fórmula 1 vai se despedir de uma das figuras mais polêmicas e controversas dos últimos tempos, mas igualmente competente e com mentalidade vencedora dentro da categoria. Aos 69 anos, Ron Dennis foi forçado a dar adeus ao posto de presidente e CEO do grupo McLaren. Um grupo barenita que possui 50% das […]

image16x9.img.1024.medium
Ron Dennis não será mais o CEO da McLaren: o dirigente que completa 70 anos em 2017 foi praticamente obrigado pelos demais acionistas do grupo a deixar a chefia da equipe que ajudou a reerguer na década de 1980

RIO DE JANEIRO – A Fórmula 1 vai se despedir de uma das figuras mais polêmicas e controversas dos últimos tempos, mas igualmente competente e com mentalidade vencedora dentro da categoria. Aos 69 anos, Ron Dennis foi forçado a dar adeus ao posto de presidente e CEO do grupo McLaren.

Um grupo barenita que possui 50% das ações do grupo e Mansour Ojjeh, antigo dono da Techniques d’Avant Garde, hoje com 25% do total (Ron é dono dos restantes 25%) literalmente armaram nas encolhas para que o homem que levantou a equipe da absoluta decadência saia do seu posto e dê lugar a gente nova – no caso, o anglo-estadunidense Zak Brown, de 44 anos, que tem inclusive negócios com o Liberty Media, o grupo que passará a controlar a categoria a partir de 2017.

Segundo uma matéria da BBC escrita por Andrew Benson, o estilo autocrático de Dennis hoje é considerado “antiquado” em meio aos tempos modernos do automobilismo. A McLaren também não vive um grande momento, tendo perdido patrocinadores e prestígio. Ano passado, o time sediado em Woking viveu a pior temporada da história da administração Ron Dennis. Em 2016, o desempenho melhorou, mas não muito. Hoje, a equipe não faz cosquinha nem na Force India.

É sempre bom lembrar que Ron Dennis começou sua carreira como mecânico – ou seja, sempre esteve envolvido com o esporte a motor desde a mais tenra idade. Começou na Cooper e conquistou a confiança de Jack Brabham  e Ron Tauranac, trabalhando para eles como mecânico-chefe da Motor Racing Developments, nos anos 1960/1970. Depois, conseguiu um sócio – Neil Trundle – e montou a equipe Rondel Motul na Fórmula 2 europeia. Quase virou dono de equipe na F-1 em 1973 – e seria um dos mais jovens de todos os tempos, aos 26 anos de idade, mas o patrocínio prometido gorou por conta da crise do petróleo e na temporada seguinte, o carro projetado por Ray Jessop virou o Token – adotado por Tony Vlassopoulo e Ken Grob.

A Rondel virou Project Four, time júnior da BMW na Fórmula 2 europeia e estrutura vitoriosa na Fórmula 3 inglesa, ganhando o título de 1979 com Chico Serra. E com as bençãos da Marlboro, Ron Dennis salvou do limbo uma equipe de Fórmula 1 que experimentava um franco declínio desde o campeonato conquistado por James Hunt em 1976 – a McLaren.

Com o jeito autocrático citado na matéria da BBC, Dennis deu novos ares à equipe. Enxotou Teddy Mayer, mas não dispensou a competência de Tyler Alexander. Ron enxergava longe: com dinheiro de Mansour Ojjeh (leia-se TAG), financiou um projeto de motor turbo encomendado à Porsche e desenhado por Hans Mezger. John Barnard, que já trabalhava para ele, desenhou a sequência de bólidos mais confiáveis dos anos 1980: os MP4/2, campeões com Lauda em 84 e Prost pelos anos seguintes.

Desfeita a parceria com a Porsche, a McLaren voltou às vitórias e conquistas com a Honda e Ayrton Senna. Foi nessa época em que Nelson Piquet, já bicampeão do mundo, chegou a ser sondado para integrar o time, mas como o brasileiro não tinha paciência com os métodos de Ron, teria se saído com essa pérola.

“Minha intenção é ganhar de você e não com você.”

A história nos mostra que, por mais que Nelson tenha sido tricampeão em 1987, quem reinaria na F1 pelos anos seguintes foi a McLaren com Prost e com Senna – três vezes. Mas a Honda cansou e a equipe buscou novos parceiros – começando pela Peugeot e depois pela Mercedes-Benz, que quando acertou a mão, virou não só parceira mas também sócia da McLaren, que voltou às boas no período dominante de Mika Häkkinen no final da década de 1990 e alguns anos mais tarde, continuaria forte graças a Kimi Räikkönen, Fernando Alonso, Jenson Button e Lewis Hamilton.

Em menor escala, o chefão da McLaren reviveria com Alonso e Hamilton os mesmos problemas que teve com Senna e Prost correndo juntos. Mas se o brasileiro e o francês se engoliam e mesmo assim conquistaram dois títulos – um para cada um enquanto correram sob o mesmo teto – o espanhol e o britânico conseguiram perder o campeonato de 2007 para Kimi Räikkönen.

No último GP do Brasil, a McLaren completou exatos 800 GPs desde sua estreia em Monte-Carlo, há meio século. Nenhum carro da equipe ganha nada há quatro anos – a última vitória também foi no Brasil, com Jenson Button. Mas mesmo assim, para efeitos estatísticos, só a Ferrari – que tem 224 triunfos – está à frente da McLaren, que soma 182, neste ranking. Sob a batuta de Ron Dennis, a McLaren levou sete títulos mundiais de Construtores (com Teddy Mayer, ganhou apenas um em 1974) e por 10 vezes os pilotos do time foram campeões do mundo.

Números incontestáveis.

Mas uma hora o show tem que terminar. E as luzes do palco em que brilhou Ron Dennis como um dos mais representativos donos de equipe de seu tempo estão, aos poucos, se apagando.