RIO DE JANEIRO – Um dia, Keke Rosberg chegou a seu filho e lhe disse o seguinte.
“Todo piloto de Fórmula 1 tem que ter em mente três objetivos. Conquistar a primeira vitória é o inicial. Depois, ganhar o GP de Mônaco. E por fim, ser campeão do mundo.”
Keke e Nico Rosberg têm isso em comum.
Mas o alemão recém-coroado campeão mundial no último domingo surpreendeu a todos. Por essa ninguém esperava: aos 31 anos, Nico Rosberg se despede do automobilismo com um título mundial no currículo.
A decisão, segundo eu soube, foi tomada pelo próprio piloto após a conquista do campeonato no GP de Abu Dhabi. Logo após a corrida, ele deve ter refletido e pensado acerca das palavras de seu pai. O comunicado abaixo, em inglês, reflete exatamente o que eu acho de tudo isso. Nico se cansou. E antes que a Fórmula 1 se cansasse dele, resolveu se retirar das pistas.
À aposentadoria prematura, seguiu o choque do mundo inteiro. Muitos achando que era dia da mentira em algum lugar do mundo. Mas, me desculpem: acho que jornalistas como Jonathan Noble, Andrew Benson e Joe Saward não arriscariam o prestígio de todos eles publicando uma falácia. Nem a Autosport britânica.
E aí a Silly Season para 2017 ganha um ingrediente que é pura nitroglicerina. Abre-se uma vaga inesperada e logo a de um campeão do mundo, que sai por cima e com o respeito de seus pares. Seu agora ex-chefe Toto Wolff qualificou a atitude de Rosberg como “grandiosa”. O campeão do WEC Marc Lieb e o tetracampeão da Nascar Jeff Gordon também se manifestaram dizendo que Nico tem agora uma vida inteira para curtir pela frente, com a família.
A Mercedes-Benz, a partir de agora, tem a espinhosa missão de escolher um substituto à altura das expectativas do time.
Opções no mercado? Bem… eu até poderia dizer que Papai Noel chegou mais cedo na residência do Pascal Wehrlein. Talvez nada nessa vida aconteça por acaso e a essa altura o Esteban Ocon, outro piloto apadrinhado pela Mercedes, pode estar rilhando os dentes de raiva por estar na Force India. Só que Wehrlein, do alto dos seus 22 anos, por mais promissor que seja, ainda é uma aposta. Se a marca da estrela de três pontas está disposta a prevalecer na categoria por mais tempo, ela tem opções em qualquer uma das outras equipes – Fernando Alonso, Sebastian Vettel, Daniel Ricciardo, Max Verstappen e até Valtteri Bottas.
Mas será que é isso que Toto Wolff e Niki Lauda querem?
Será que é isso mesmo que Lewis Hamilton quer contra si por mais tempo?
O fato é que Nico Rosberg encerra sua carreira com 206 GPs disputados por apenas duas equipes – Williams e Mercedes-Benz – com 23 vitórias, 30 pole positions, 20 recordes de volta em prova, 57 pódios e o título mundial de 2016.
O alemão é o segundo campeão mais jovem a se aposentar imediatamente após a conquista de um título – Mike Hawthorn tinha 29 anos quando saiu de cena em 1958. O britânico era portador de uma doença renal e por isso foi obrigado a parar, embora a morte o tenha levado antes em janeiro de 1959 num acidente de carro. E cronologicamente, Rosberg é o terceiro campeão mundial mais jovem a abandonar a Fórmula 1: Jody Scheckter levou o título em 1979 aos 29 anos e no ano seguinte, aos 30, após cumprir seu último ano de contrato com a Ferrari, retirou-se definitivamente do esporte.
Leitores, agora é com vocês.