A Mil por Hora
Fórmula Indy

Território Sato

RIO DE JANEIRO – Parece mesmo haver algo de mágico entre Takuma Sato e o Indianápolis Motor Speedway. Em 2004 (e não 2006, desculpem!), quando a Fórmula 1 ainda corria por lá no circuito misto especialmente construído para o GP dos EUA, o japonês, então servindo à British American Racing (BAR), conquistou seu melhor resultado […]

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RIO DE JANEIRO – Parece mesmo haver algo de mágico entre Takuma Sato e o Indianápolis Motor Speedway. Em 2004 (e não 2006, desculpem!), quando a Fórmula 1 ainda corria por lá no circuito misto especialmente construído para o GP dos EUA, o japonês, então servindo à British American Racing (BAR), conquistou seu melhor resultado na categoria com um 3º lugar. Foi seu único pódio na categoria.

Hoje, em 28 de maio, Sato reescreveu sua própria história no mítico circuito, onde quase ganhou pela primeira vez em 2012, quando bateu na última volta ao tentar ultrapassar Dario Franchitti – que seria o vencedor. Aos 40 anos, venceu as 500 Milhas de Indianápolis, sobrevivendo às exigências de uma disputa emocionante e que teve incríveis OITOCENTAS E CINQUENTA E TRÊS ULTRAPASSAGENS ao longo das 200 voltas de corrida. O mais impressionante foi que o japonês, além de ser o primeiro oriental na história a chegar ao pódio sagrado e beber o leite dos vencedores, não passou pelo mesmo revés que outros pilotos com motor Honda neste domingo.

Takuma mandou a fama de trapalhão para o beleléu e fez uma ultrapassagem decisiva sobre Hélio Castroneves para chegar ao histórico triunfo. Os japoneses tiveram que acordar mais cedo – ou dormir mais tarde – nesta madrugada para assistir a esse momento que entra para os compêndios do esporte a motor naquele país. E vejam só a emoção do narrador quando Sato cruzou a linha do histórico Brickyard.

https://www.youtube.com/watch?v=GFWnsEcYQkk

Perdoem a qualidade do vídeo, mas é o que temos para o momento.

A obstinação de Takuma Sato só não é surpresa para quem não o conhece. Em 2001, quando estava já confirmado para competir na Jordan e fazer sua estreia na Fórmula 1 após o título na F-3 inglesa, o japonês quis conhecer a pista de Interlagos. Acertou um teste com a Cesário Fórmula, uma das melhores equipes do país. Veio para o Brasil acompanhado do seu engenheiro Anthony “Boyo” Hieatt. Fez questão de chegar cedo: às 7h da manhã, já esperava pela equipe sentado em frente ao autódromo. Andou o dia inteiro. Os japoneses têm isso a seu favor. São determinados, perseverantes, trabalhadores.

Além de ser mais uma vez épica, a edição de 2017 das 500 Milhas mostrou que experiência e caldo de galinha não fazem mal a ninguém, já que Hélio Castroneves, em sua 19ª participação na corrida, quase levou o tetracampeonato que o deixaria igual a Al Unser, A.J. Foyt e Rick Mears como o maior vencedor de todos os tempos. Mesmo após o pior grid de todo o seu currículo nessa pista, fez um trabalho espetacular e chegou em segundo. Bateu na trave outra vez. Mas a corrida que fez, aos 42 anos, é digna de todos os elogios. E com o resultado, Helinho ultrapassou Simon Pagenaud para assumir a liderança do campeonato da Fórmula Indy.

Como também é digno de elogios e aplausos o 3º lugar de Ed Jones, realmente impressionante em sua estreia no oval de Indianápolis. E outro novato que encheu os nossos olhos foi (quem mais?) Fernando Alonso.

O espanhol liderou 27 voltas após uma má largada, fez a volta mais rápida da prova e tinha ritmo para terminar muito bem colocado. Mas, por uma daquelas ironias do destino, o motor Honda de seu carro laranja foi para as cucuias. Uma puta sacanagem com o piloto, que lutou muito e queria vencer logo em sua primeira participação. A turma do Grande Prêmio chegou ao cúmulo de mandar um sonoro VTNC para a Honda nas redes sociais, e os epítetos atravessaram fronteiras.

Vejam só o que o Diário AS publicou a respeito, aqui.

E Alonso, ovacionado de pé pelas arquibancadas apinhadas por um público respeitoso e entusiasmado com sua performance, pelo visto gostou. E já fala em voltar. Afinal, sentiu na pele o respeito que os norte-americanos têm com os grandes esportistas, mesmo que a categoria máxima do automobilismo não seja tão acompanhada por lá.

Mesmo abandonando como tem acontecido com bastante frequência na Fórmula 1, o que foi melhor para Alonso? O que teve na Indy ou o que teria no GP de Mônaco? Acho que já temos a resposta.

Ah… e não esqueçamos também que Tony Kanaan também foi gigante na corrida. Chegou a liderar no início, mas não tinha um carro 100% perfeito para lutar pela vitória ao final. Acabou em quinto, atrás de outra das surpresas e de um outro líder destas 500 Milhas – Max Chilton.

Esta também foi uma corrida com os acidentes de praxe. Mas o do vídeo abaixo é não menos que assustador. Scott Dixon agora pode providenciar a segunda certidão. Este 28 de maio marca o novo nascimento do neozelandês. A panca com o carro desgovernado de Jay Howard foi inacreditável. E se fossem os antigos chassis Dallara, sei não…

Perto do final houve este, que até poderíamos chamar – sem exageros – de Big One. O strike do vídeo abaixo levou embora o outro espanhol da disputa, Oriol Serviá, além de Will Power, James Davison e James Hinchcliffe. Josef Newgarden também foi envolvido.

Em suma: mais uma 500 Milhas de Indianápolis da qual lembraremos por muito tempo. E da qual três pilotos jamais esquecerão: o vencedor Takuma Sato e os rookies Ed Jones e Fernando Alonso, pelos mais variados motivos e circunstâncias.

Feliz de quem pôde assistir, seja na TV ou in loco, mais um bonito capítulo desse esporte que tanto amamos.