A Mil por Hora
Fórmula 1

Do pior ao melhor

RIO DE JANEIRO – Finalmente encontro tempo para falar de Fórmula 1 e do GP do Azerbaijão, essa louca corrida do último domingo. Aliás, registre-se que a pista de Baku deu uma guinada de 180º. Passou de hóspede de uma corrida chata, insuportável – e inteiramente ofuscada pelas 24 Horas de Le Mans de 2016 […]

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Sorriso de 500 dentes debaixo do capacete: a treta entre Hamilton e Vettel proporcionou um pódio incomum e Daniel Ricciardo venceu o ótimo GP do Azerbaijão

RIO DE JANEIRO – Finalmente encontro tempo para falar de Fórmula 1 e do GP do Azerbaijão, essa louca corrida do último domingo.

Aliás, registre-se que a pista de Baku deu uma guinada de 180º. Passou de hóspede de uma corrida chata, insuportável – e inteiramente ofuscada pelas 24 Horas de Le Mans de 2016 – para uma das melhores dessa nova fase da categoria máxima do automobilismo.

Pois se não foi um daqueles GPs que entra para a história pelo improvável?

Alguém acreditaria em sã consciência que um piloto que entra no box com suspeita de pneu furado e volta em 17º seria capaz de vencer?

Mais: que um outro piloto, após um toque num compatriota, voltou em último, uma volta atrasado e ainda chegaria em segundo?

E que um frangote escorraçado por meio mundo conquistaria o primeiro pódio, se tornando um dos mais jovens de todos a conseguir esse feito?

Agradeçamos aos protagonistas do momento mais polêmico do ano e que deve garantir a emoção que o grupo Liberty Media e Chase Carey tanto ansiavam que existisse em 2017: Sebastian Vettel e Lewis Hamilton.

Até aqui, era aquela rivalidade polida, estéril, bonitinha. Cheia de respeito de ambos os lados.

A julgar pelas palavras – que espero não tenham sido vãs, especialmente as de Hamilton (“Se quer mostrar que é macho, vamos provar isso lá fora!”) – vamos nos preparar para uma “rivalidade raiz” e não essa babaquice entre companheiros de equipe que não podem lutar um contra o outro sob pena de serem escalpelados pelo primeiro chefe de equipe que nunca sentou a bunda num Fórmula 1 e não tem moral para meter o bedelho em disputa de campeonato.

Essa “Fórmula 1 para homens”, como provocou Vettel, precisava disso.

A forma como aconteceu a treta acende a fogueira, incinera a paixão do torcedor pela categoria. Mas o conteúdo, aí não posso achar legal. Pelo contrário: achei uma atitude babaca do piloto da Ferrari em agir como agiu, feito menino de 5ª série, tocando o carro no Hamilton. Não está satisfeito? Mostre isso na pista sendo homem. Não foi o que ele disse a respeito de si próprio, ironizando o rival da Mercedes?

No fim das contas, o que aconteceu depois foi até melhor para o alemão porque na opinião de muitos saiu barato ele ter sido punido com apenas 10 segundos. Um prosaico problema com a proteção de cabeça do carro do britânico também jogou fora a chance de Hamilton descontar a diferença que era de 12 pontos e subiu para 14. Mas com muito campeonato em jogo, tudo o que aconteceu no Azerbaijão só faz aumentar o interesse.

E tomara que continue assim até o fim do ano.

Quem viu a corrida sabe que, no entanto, não foi a única treta da corrida. E o que dizer desses finlandeses de idioma dificílimo e que não conseguem se entender? Quando Valtteri Bottas e Kimi Räikkonen estão próximos um do outro, não podem dividir o mesmo metro quadrado que sai faísca. Talvez seja a vodka que cause revertério na cabeça dos nórdicos e eles saiam querendo chupar a carótida um do outro. Certo é que os dois outra vez se estranharam e o Iceman perdeu a linha, mandando mensagem para o compatriota em redes sociais e alertando que já é demais. Climão…

Se um Esteban Ocon incomoda muita gente, imaginem se Sergio Pérez tivesse dois pelo caminho a ter que dividir equipe?

Na Force India – que deve se chamar Force 1 em 2018 – também tem faltado sintonia entre os pilotos dos carros cor de rosa. Esteban Ocon vem incomodando mais do que Sergio Pérez talvez pudesse imaginar e o atrevido francês não hesitou em tirar o mexicano de seu caminho. A cúpula da escuderia já veio a público manifestar seu descontentamento: não querem perder o status de quarta força da categoria, que batalharam duramente para conquistar.

E nessa corrida maluca – desculpem o clichê – não seria cabotino dizer que Felipe Massa tinha chance se não de vitória, de pódio – tanto que o fedelho Stroll levou o dele, tornando-se o 208º nome da história a alcançar o feito. Mas o danado do “se” não existe e a Williams tinha que ter resistido para sabermos se realmente ele conseguiria chegar lá.

Como ficamos sem resposta, acabou que Daniel Ricciardo venceu sua quinta corrida da carreira, sorriu com seus 500 dentes, alegrou Christian Horner e as hostes rubrotaurinas. Acabou que Bottas ainda passou Stroll na última volta, de forma sensacional – como foi no todo sua recuperação após tantas paralisações e intervenções do Safety Car.

Uma corrida em que nove das 10 equipes pontuam – incluindo a McLaren, finalmente!, graças ao 9º lugar de Fernando Alonso – nunca pode ser jogada para o lixo comum, como foi a do ano passado.

Ainda bem que o automobilismo é apaixonante e capaz de nos proporcionar momentos assim. De extrema irritação por uma corrida em que nada aconteceu a outra simplesmente brilhante, num espaço de pouco mais de 365 dias.

Coisas da vida.