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Direto do túnel do tempo (409)

RIO DE JANEIRO – O dia 30 de julho de 1978 marcou a entrada de uma das personagens mais controvertidas e ao mesmo tempo mais talentosas e inteligentes da história do automobilismo na Fórmula 1. Dominante na Fórmula 3 inglesa, da qual se tornaria campeão, um jovem brasileiro então com 25 anos de idade chamado […]

Piquet estreia

RIO DE JANEIRO – O dia 30 de julho de 1978 marcou a entrada de uma das personagens mais controvertidas e ao mesmo tempo mais talentosas e inteligentes da história do automobilismo na Fórmula 1. Dominante na Fórmula 3 inglesa, da qual se tornaria campeão, um jovem brasileiro então com 25 anos de idade chamado Nelson Piquet Souto Maior fazia sua estreia na categoria máxima a bordo de um carro preto de numeral #22 no GP da Alemanha, em Hockenheim: o Ensign N177, carro da equipe do recém-falecido Morris Nunn.

Piquet testara primeiro um McLaren M23 da equipe BS Fabrications, chefiada por Bob Sparshott, por indicação de Jack Brabham. A oferta da equipe gerenciada por Sparshott e Dave Simms contemplava três corridas – Áustria, Holanda e Itália. Mo Nunn tinha um cockpit vago em sua equipe e não hesitou em chamar o jovem piloto. Piquet aceitou o convite.

O chassi era do mesmo modelo que fizera uma temporada bastante razoável em 1977, com Clay Regazzoni e Patrick Tambay. O carro projetado por David Baldwin e cujo desenho vinha do ano de 1976, somou 10 pontos e levou o pequeno construtor britânico à 10ª colocação no campeonato. No ano de 1978, a Ensign começara a temporada com Danny Ongais e Lamberto Leoni, sem desempenhos expressivos.

Jacky Ickx assumiu o comando em algumas etapas e não durou muito: a Ensign lançou mão de outro jovem, este oriundo da Fórmula 2, o irlandês Derek Daly. Mas por algum motivo o piloto não estava disponível para a corrida de Hockenheim e a oportunidade de disputar a prova foi oferecida a Nelson.

Piquet classificou o carro na 21ª colocação do grid com o tempo de 1’56″15. Teve o mérito de superar três pilotos mais experientes que ele no grid de 24 carros – os germânicos Jochen Mass e Hans-Joachim Stuck e o austríaco Harald Ertl, este com um segundo Ensign – além dos que ficaram pelo caminho nos treinos oficiais e pré-classificatórios, todos com muito mais estrada que ele na Fórmula 1, incluindo nomes como Clay Regazzoni, então na Shadow e Jean-Pierre Jarier, da ATS.

Nelson não se preocupou com performance e a equipe não podia esperar que fizesse muito em sua estreia. Teve o mérito de passar inteiro na primeira volta e ganhando duas posições em relação à largada. Com as quebras dos demais, foi avançando. Já estava em 12º lugar quando o motor Cosworth de seu Ensign falhou e ele foi obrigado a abandonar. Mas, apesar de tudo, deixou excelente impressão.

Harald Ertl, que já conhecia a pista e andou melhor que Piquet na prova, mostrou que o carro tinha algum potencial. Chegou a andar até em 6º e poderia ter saído da disputa com um pontinho precioso. Mas o motor de seu carro também quebrou por conta das exigentes retas longas do circuito.

Piquet cumpriu as corridas do contrato com a BS e só terminou a última – foi 9º colocado no GP da Itália, em Monza. Mas suas performances tanto na Fórmula 3 quanto na Fórmula 1 já chamavam a atenção de alguém em especial: ninguém menos que Bernie Ecclestone se interessou pelo brasileiro, oferecendo ao piloto um daqueles contratos leoninos que queimou a carreira de gente como o australiano Larry Perkins e quase pegou Alex Dias Ribeiro pelo contrapé.

“Não deixem ele assinar com ninguém antes de falar comigo”, avisou Bernie, sabendo das intenções de Nelson em assinar com a modesta Ensign para 1979.

Tendo planos mais ambiciosos para ele, comentou: “Os brasileiros são pilotos formidáveis e não trazem problemas”.

Dito e feito: Piquet assinou o tal contrato com validade de três anos, onde o piloto teria que trazer US$ 200 mil em patrocínios (conseguiu verba via Caracu, Gledson, Brastemp, Brinquedos Estrela e Citizen) e Bernie se encarregaria de um pequeno salário, mais as despesas de viagem – mas com a ressalva de que Nelson poderia ser mandado embora na hora em que Bernie quisesse.

O acordo foi costurado durante o fim de semana do GP da Itália e a estreia do piloto pela Brabham aconteceu no GP do Canadá, em Montreal, com um 11º lugar num carro sem duas marchas ao fim da disputa.

Era calça de veludo ou bunda de fora e Nelson não só correu o risco como em 1979, já era mais rápido que o mestre Niki Lauda, com quem dividiu a Brabham em seu primeiro ano completo. Foi tão bem que no ano seguinte já era primeiro piloto (terminando como vice-campeão e vencendo três corridas) e em 1981, campeão do mundo.

Há 40 anos, direto do túnel do tempo.