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Motovelocidade

Precisamos falar da Motovelocidade brasileira

RIO DE JANEIRO – Interlagos viveu mais um dia de tristeza. A morte do piloto Maurício Paludete, o popular “Linguiça”, ao fim de uma prova da categoria Superbike Evolution, integrante do pacote de provas do Superbike Brasil, deveria propor – como, aliás e a propósito, todas as outras perdas anteriores já deveriam ter provocado – […]

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RIO DE JANEIRO – Interlagos viveu mais um dia de tristeza.

A morte do piloto Maurício Paludete, o popular “Linguiça”, ao fim de uma prova da categoria Superbike Evolution, integrante do pacote de provas do Superbike Brasil, deveria propor – como, aliás e a propósito, todas as outras perdas anteriores já deveriam ter provocado – uma profunda reflexão sobre as responsabilidades de organizadores e principalmente dos mantenedores de pistas no Brasil, para a realização de provas de Motovelocidade no país.

Não, este blogueiro não é contra nenhum tipo de corrida. Desde que com a devida segurança para público, pilotos e demais participantes, quero mais é ver carro ou moto correndo, onde quer que seja. Mas fica claro que as praças de esporte a motor no país estão e são inadequadas para a prática da modalidade de competição em duas rodas.

E por que estão? Por um simples motivo: a Federação Internacional de Motociclismo (FIM) é a mais criteriosa de todas no que tange à segurança. E muito embora Goiânia, que recebeu o Mundial entre 1987 e 1990, seja uma pista considerada “ideal” para a Motovelocidade, não o é de fato. A própria FIM já vistoriou e vetou a pista do Centro-Oeste, quando se ventilou de outras vezes o retorno do Brasil ao calendário.

O esporte evoluiu muito em 30 anos. A pista, não.

Interlagos, se vocês se lembram, teve um GP do Brasil de Motovelocidade em 1992. E na época, construiu-se uma Chicane na Curva do Café. A pista era e continua sendo inadequada para Motovelocidade. Não tem os aparatos necessários de segurança. E foi a falta deles, além de um mix de outros fatores, que causou a terceira morte no espaço de três anos – só no traçado paulistano, porque em Goiânia, certa vez, morreu o Joãozinho Sobreira, conhecido como Joãozinho 113 (referência ao número de sua motocicleta).

A morte de Maurício Paludete foi brutal. Não dá para saber o que terá acontecido à sua moto ou ao piloto, mas de forma alguma, por pior que seja a área de escape no fim do retão de Interlagos, entre a primeira perna da descida do Esse do Senna e a antiga Curva 1 do circuito, o capacete de um piloto de Motovelocidade não pode ser arrancado no impacto.

E expõe os defeitos da organização do Superbike Brasil, que primeiro passou ao largo do acontecido num texto-release e depois, aí sim, veio a público se manifestar sobre o ocorrido.

Aliás, registre-se que, de outras vezes, já houve manifestações semelhantes da categoria – a falta de maiores explicações, entenda-se. Uma coisa meio esquisita, nebulosa, que pôe em xeque a credibilidade de um campeonato que não é da chancela da Confederação Brasileira de Motociclismo (CBM). Eu não lembro se a extinta Moto 1000 GP era – e acredito até que fosse, me corrijam se eu estiver errado – mas sei que existe uma rixa. Ambas reclamam uma da outra e vice-versa.

O Superbike Brasil é onde há o maior investimento hoje, onde correm pilotos como Eric Granado, Alex Barros e até o australiano Anthony West, que andou de um tudo no Mundial de Motovelocidade. Mas a categoria não pode se dar ao luxo de deixar passar batido mais um momento triste de sua história.

É preciso que Bruno Corano, idealizador do campeonato, reflita sobre seu papel e principalmente no que a competição que organiza pode melhorar. Não só em exigir mais segurança nas praças esportivas como também mais responsabilidade dos próprios pilotos com relação aos seus equipamentos.

Senão, vai ficar muito difícil existir Motovelocidade em bom nível neste país no futuro.