A Mil por Hora
Mundial de Endurance

Mico

RIO DE JANEIRO (Lamentável) – O Brasil perde mais um evento internacional de automobilismo por incompetência e amadorismo. A edição 2020 das 6h de São Paulo, marcadas para 1º de fevereiro no Autódromo José Carlos Pace, em Interlagos, estão oficialmente canceladas – exatos dois meses antes da data prevista. Na ocasião das 4h de Xangai, […]

RIO DE JANEIRO (Lamentável) – O Brasil perde mais um evento internacional de automobilismo por incompetência e amadorismo. A edição 2020 das 6h de São Paulo, marcadas para 1º de fevereiro no Autódromo José Carlos Pace, em Interlagos, estão oficialmente canceladas – exatos dois meses antes da data prevista.

Na ocasião das 4h de Xangai, a etapa mais recente do campeonato 2019/20 do Mundial de Endurance, Gérard Neveu (CEO da competição) alertara equipes e pilotos de que não se programassem – ainda – para ir ao Brasil. Havia problemas a serem resolvidos.

E não foram poucos.

O mais grave deles foi o não pagamento integral do que se chama de “fee”, a taxa cobrada pelo promotor como garantia financeira de realização do evento. Eram R$ 12 milhões – foram conseguidos R$ 8 milhões.

Mesmo com as parcerias de mídia e o apoio da prefeitura de São Paulo, também não houve patrocínios. A organização do FIA WEC diz não haver nenhum tipo de problema com o município e tampouco com o autódromo, segundo o comunicado que anunciou a mudança de praça de Interlagos para o Circuito das Américas em Austin, nos EUA – a capital do Texas receberá a Lone Star Le Mans, com duração de 6 horas, em 23 de fevereiro.

A data foi movida mais para a frente por algumas razões: é inverno nos EUA, haverá o Superbowl da NFL em fevereiro e, também, o ePrix do México da Fórmula E.

O problema foi com os promotores, leia-se a N/Duduch Motorsports, que tinha na linha de frente Nicholas Duduch, o sócio Moyses Parizatto e Aline Vilatte.

Aliás, parecia tão crível o negócio quando houve a coletiva de anúncio do retorno do evento ao Brasil, com a presença de autoridades, do próprio Gérard Neveu, de Bruno Senna, enfim… só parecia.

Quanta ilusão: depois da empolgação e de todo o tempo para uma preparação adequada, o balde de água fria.

Reproduzo abaixo o comunicado oficial – vejam as partes grifadas e reflitam sobre a conduta – ou a falta dela – dos promotores do evento agora cancelado.

É com grande pesar e surpresa que a promotora do evento 6 Horas de São Paulo informa que foi cancelada, por ato unilateral da organização do Campeonato Mundial de Endurance (WEC), a etapa do campeonato que seria realizada nos dias 30 e 31 de janeiro e 1º de fevereiro de 2020 no Autódromo de Interlagos, em São Paulo, em prejuízo dos amantes do automobilismo brasileiro e de todos os fãs do esporte da América Latina.

A despeito de todos os investimentos realizados até a presente data, que montam a mais de R$ 8 milhões do total de R$ 12 milhões que seriam investidos pelos promotores e patrocinadores do evento; de todos os esforços da Prefeitura de São Paulo, parceria de primeira hora para trazer de volta ao Brasil este importante campeonato do automobilismo internacional, promovendo as adequações e infraestrutura necessária, de acordo com os cadernos de encargos, seguindo as exigências da Federação Internacional de Automobilismo para que o Autódromo de Interlagos pudesse receber a prova; em prejuízo dos patrocinadores oficiais do evento, que de imediato não mediram esforços para se engajarem e fazerem do retorno das 6 Horas de São Paulo um marco para os amantes do esporte, a organização do WEC decidiu não honrar os compromissos assumidos com a cidade de São Paulo, com os amantes do esporte e com o público em geral. (grifo meu)

Rumores e alegações que surgiram recentemente acerca da preocupação, por parte do WEC, com o momento econômico que o País atravessa, não se sustentam. Em verdade, e apesar de tudo aquilo que foi investido e realizado até a presente data, a organização do WEC não se satisfez com as garantias financeiras (emitidas por instituição financeira, como é praxe em eventos desta magnitude) disponibilizadas pelos promotores do evento, decidindo, unilateralmente, cancelar a prova. (grifo meu)

Lamentamos muito a forma com que a direção do WEC conduziu suas obrigações em detrimento do Brasil, da cidade de São Paulo e dos amantes do automobilismo da América Latina. (grifo meu)

Informamos a todos os fãs que compraram ingressos que estes serão contatados pela empresa parceira que opera a bilheteria e serão devidamente reembolsados.

Mas eu pergunto: e quem comprou passagem? E quem reservou hotel? Haverá ressarcimento?

Como sempre escrevo, parabéns aos envolvidos.

É mais um capítulo lamentável na história do automobilismo nacional, cuja credibilidade já anda em baixa faz tempo e mais este cancelamento dá razão aos que dizem que promover e manter um evento dessa magnitude não é coisa para amadores.

Olha que até gente com uma certa credibilidade já pagou outros micos históricos. Emerson Fittipaldi que o diga: o bicampeão de Fórmula 1 e das 500 Milhas de Indianápolis ficou com fama de ladrão e caloteiro na época do WEC quando promoveu as 6h de São Paulo e, por apoiar a candidatura de Luiz Paulo Conde contra Cesar Maia, fez o Rio perder a Fórmula Indy.

Sem contar que, no passado, Emerson tentou inúmeras vezes fazer corridas da categoria no Brasil. Lembram das tentativas? Pista de rua em Recife, anel externo em Interlagos… nada feito. Nem Brasília rolou, muito menos a ideia estapafúrdia de uma pista de rua no Rio com o sambódromo da Marquês de Sapucaí como pano de fundo.

E não faltam outros exemplos: as diversas tentativas frustradas de voltar com a MotoGP, os cancelamentos da Fórmula E, a Mil Milhas de 2008 que teria os carros do Le Mans Series e não teve, a Fórmula 1 histórica que viria em 2010, enfim… tantos outros exemplos de fracassos que caberiam num manual de picaretagens que fariam corar de inveja de Ali Babá a Al Capone.

Triste a sina deste país que não consegue mais ser qualquer coisa próxima do que já foi um dia no automobilismo.

O que faltaria? Acabar o contrato do GP do Brasil de Fórmula 1 e não ser renovado para 2021 e diante?

Na boa: se isso rolar, peguem a chave, passem o trinco e joguem fora.