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Fórmula 1

Tráfico de influências

RIO DE JANEIRO (Não sei o que dizer…) – Grave denúncia feita via Diário Motorsport, do querido jornalista e amigo Américo Teixeira Júnior mostra que por debaixo dos panos a Fórmula 1 tenta romper os laços com o antigo modus operandi de Bernie Ecclestone e Tamas Rohonyi de uma forma, digamos, não muito bonita. Pelo […]

“Passando a boiada”: o que Chase Carey, que a partir de 2021 não será mais o CEO do Liberty Media, propôs em carta ao governador em exercício do Rio de Janeiro é de uma enorme gravidade (Foto: Rodrigo Berton/Grande Prêmio)

RIO DE JANEIRO (Não sei o que dizer…) – Grave denúncia feita via Diário Motorsport, do querido jornalista e amigo Américo Teixeira Júnior mostra que por debaixo dos panos a Fórmula 1 tenta romper os laços com o antigo modus operandi de Bernie Ecclestone e Tamas Rohonyi de uma forma, digamos, não muito bonita.

Pelo que foi apurado, o CEO do Liberty Media, grupo que hoje controla a Formula One Management (FOM), Chase Carey, enviou uma carta ao governador em exercício do Rio de Janeiro Cláudio Castro, dizendo ter um contrato com a Rio Motorsports, de JR Pereira – que não por acaso foi anunciada como a nova detentora dos direitos de imagem da F1 no Brasil com a não-renovação do acordo entre os donos do espetáculo e o Grupo Globo.

Só para lembrar: essa turma já não honrou o acordo firmado com a Dorna para a exibição da MotoGP nos canais Fox Sports e só com a intervenção do Grupo Disney foi possível cobrir o calote e manter o evento por seis anos de contrato.

Feito esse importante parêntese, cabe dizer que é muito grave o que Chase Carey tentou fazer. Traficar influência perante um governo de um país que não é sequer o dele e se envolver em questões de impacto ambiental, o que é absolutamente mais grave ainda.

Mas não será surpreendente, porém, se for “passada a boiada”, num país que tem desrespeitado de forma contínua as leis, vide as queimadas no Pantanal e na Amazônia, fatos que têm influenciado no clima. Ou alguém acha que é normal uma sensação térmica de 42º C em plena primavera, obrigando-nos a ligar ar condicionado onze da manhã?

A Fórmula 1 e o Liberty Media, pelo visto, preferem um projeto que sequer saiu do papel a Interlagos, única pista do país com graduação máxima da FIA e apta a receber o GP do Brasil – que não deve acontecer em 2021. O atual prefeito de São Paulo, que concorre à reeleição, não quer pagar os valores que a categoria pede. E isto é um grande entrave para que a corrida seja confirmada no calendário do próximo ano. Vale lembrar que a corrida deste ano não aconteceu por conta do surto de Covid-19, Rohonyi ameaçou processar o grupo estadunidense e, se o está fazendo, é na encolha.

Os grandes entraves para a construção de um autódromo na região que se pretende, na Floresta do Camboatá, em Deodoro, Zona Oeste do Rio de Janeiro, são ambientais e existe todo um rito a ser seguido. Com a missiva do último dia 14, o que Chase Carey – que nem será mais o CEO do Liberty Media a partir de janeiro, quando assume o italiano Stefano Domenicali – pretende é que a esfera governamental estadual ignore, pelo visto, esse rito, “passando a boiada” e começando no grito a construção de uma nova pista.

Lamento, mas o Rio de Janeiro não merece essa novela sem fim. A propósito, o terreno do Parque Olímpico segue lá, largado. Eu desistiria dessa ideia estapafúrdia de Deodoro, poria tudo abaixo e faria ali mesmo onde era o Autódromo Nelson Piquet, em Jacarepaguá, uma nova pista – talvez, com o mesmo traçado. E ainda convidaria Cesar Maia, Carlos Arthur Nuzman, Cleyton Pinteiro e Eduardo Paes para a inauguração.

Hoje, um estado falido, sucateado e comandado por governadores bandidos – um atrás do outro – não pode ter um autódromo. As prioridades deveriam ser outras.

Tudo isso mostra, inclusive, o quanto o Rio Motorsports tem costas quentes com os que estão com o poder neste país. Já vimos do que essa turma e capaz. Vimos também que não honram a palavra, vide a história da Dorna. 

É capaz de o Brasil ficar sem Fórmula 1 por um longo tempo. Já não temos pilotos. Esqueçam corridas num futuro próximo se a coisa seguir como está.