RIO DE JANEIRO – A trilha sonora de Lewis Hamilton nesse domingo pode ser regada a dois estilos musicais bem distintos: o rock do Queen e o rap de MC Hammer.
E por que me permito fazer essa brincadeira?
Simples: porque o GP da Emilia Romagna, que marcou a 10ª vitória do britânico em 13 corridas na temporada 2020 do Mundial de Fórmula 1 – e o retorno do circuito de Imola ao calendário após 14 anos ausente – foi decidido numa estratégia inteligente de Lewis com seu engenheiro, com relação à durabilidade dos pneus.
Largando de médios, LH não conseguiu partir bem da primeira fila, caindo para a 3ª posição atrás do pole Bottas e da Red Bull de Max Verstappen. De forma que seria preciso criar um fato novo para reverter o quadro e, em princípio, a ideia seria fazer uma única parada.
Quando Bottas foi chamado, Lewis deu uma de Freddie Mercury e bradou “Don’t stop me now” (t´ítulo de uma música do Queen, do álbum ‘Jazz’, de 1978). Ao pedir para não parar, igualmente lembrou o que várias vezes já ouvimos e vimos noutras corridas.
“Hammer Time” (expressão usada pelo rapper MC Hammer em sua canção ‘U Can’t Touch This, lançada em 1990). E daí foi uma volta mais rápida atrás da outra, em profusão, em saraivadas, com a diferença se estabelecendo numa margem segura para Hamilton fazer seu pit stop e voltar ainda à ponta.
Aí…
LAP 33/63
Lewis Hamilton takes full advantage of the Virtual Safety Car – the champ pits and emerges P1, clear of team mate Valtteri Bottas 👀#ImolaGP 🇮🇹 #F1 pic.twitter.com/q8NpNIMMMn
— Formula 1 (@F1) November 1, 2020
Ao mesmo tempo em que Bottas se queixava de um defeito no assoalho (depois descobriu-se que era um detritão – um pedaço da Ferrari de Vettel que se soltou no contato com a Haas de Kevin Magnussen, colhido pelo finland^ês) que não o fazia fugir de Verstappen, em férrea perseguição ao finlandês da Mercedes, veio um curto período de Virtual Safety Car por conta do abandono da Renault de Esteban Ocon. Foi de colher: Hamilton entrou no box, fez sua parada e voltou à pista com quase quatro segundos de frente para Valtteri. Nocaute.
LAP 51/63 – SAFETY CAR
Max Verstappen is OUT of the race from P2 – tyre trouble brings his race to a dramatic end! 😬#ImolaGP 🇮🇹 #F1 pic.twitter.com/an7USVqyyi
— Formula 1 (@F1) November 1, 2020
Já era o suficiente para a Mercedes-Benz, que desenhava seu sexto 1-2 do ano, atingir a histórica marca de sete títulos mundiais consecutivos de Construtores. Aí, a poucas voltas do final, explodiu o pneu traseiro direito de Verstappen, na semi-reta que levava o holandês da saída de Tamburello à Chicane Villeneuve. Carro na brita (por mais pistas com brita, FIA!) e Safety Car.
Fim de papo: e a estrela de três pontas brilhava de novo, com um novo recorde de conquistas seguidas, superando a marca de seis alcançada pela Ferrari, com quem os alemães dividiam a honra.
Algumas equipes bobearam na estratégia: a Racing Point chamou Sergio Pérez a uma segunda parada. Na Mercedes, correu tudo bem. Na Alfa Romeo, pagou dividendos a ousadia de Kimi Räikkönen em se manter com quase 50 voltas de médios, chegando a andar em quarto. E teve o inacreditável acidente de George Russell… durante o Safety Car…
Na relargada, Pérez deu um passadão em Albon que pirou a cabeça já pressionada do tailandês da Red Bull, que acabou por rodar na saída da Villeneuve, quase provocando uma mega panca com a McLaren de Carlos Sainz – que desviou do adversário por pentelhésimos.
E na saída da Tosa, Kvyat deixou Leclerc a ver navios… muito bem: se o russo está disposto a sair com honra da Alpha Tauri e da F1, Albon parece perder, cada vez mais, a chance de permanecer na categoria. E esse erro custou à Red Bull a terceira corrida com seus carros fora dos pontos em 2020.
Outro fato espetacular do GP da Emilia Romagna foi o segundo pódio da Renault com Daniel Ricciardo, resultado que fez a Régie se aproximar – e muito – de Racing Point e McLaren na batalha sensacional pela 3ª posição do Mundial de Construtores.
Abiteboul, meu filho, cabem duas tatuagens?
De resto, um resultado digno para a Alfa Romeo, que com as circunstâncias de corrida viu pela primeira vez seus dois carros no top 10. Räikkönen coroou seus esforços com a nona posição e Giovinazzi, que fica a bordo em 2021, conseguiu o último ponto do dia após largar do fim do pelotão.
A Magnificent Seven (in a row – a new all-time record)
Congratulations to @MercedesAMGF1 – 2020 F1 Constructor Champions! 🏆👏#ImolaGP 🇮🇹 #F1 pic.twitter.com/Yd5MaqL1W4
— Formula 1 (@F1) November 1, 2020
É isso… sete foi o número mágico de uma corrida que caminhava para a chatice e teve um final legal. Lewis Hamilton chegou à 93ª vitória e faltam sete para a centésima, agora. A Mercedes levanta sua sétima taça do Mundial de Construtores e o britânico de 35 anos encaminhou o séitmo título mundial de pilotos.
Com 282 pontos somados, Lewis tem 85 de frente para Bottas. Basta que a diferença se mantenha igual ou chegue até no máximo 78 pontos que o hepta vem, no próximo dia 15, quando acontece o retorno do GP da Turquia, em Istambul.
E mais uma vez a história será reescrita diante dos nossos olhos.