A Mil por Hora
Fórmula 1

Vitória redentora

RIO DE JANEIRO – Ao terminar o sensacional GP de Sakhir deste domingo, me peguei pensando. “Caramba… uma corrida destas e não haverá repercussão porque não tem mais o Fox Nitro…” E é verdade. Eu fiquei triste, mas não chorei porque a dor na mão e nos ombros, pela ansiedade e stress de ter de […]

RIO DE JANEIRO – Ao terminar o sensacional GP de Sakhir deste domingo, me peguei pensando.

“Caramba… uma corrida destas e não haverá repercussão porque não tem mais o Fox Nitro…”

E é verdade. Eu fiquei triste, mas não chorei porque a dor na mão e nos ombros, pela ansiedade e stress de ter de autografar “Saudosas Pequenas” – e não foram poucos os exemplares, falo ainda hoje sobre isso – não foi pouca.

A corrida do Bahrein, a segunda do último ‘double header’ de 2020, foi mais um tiro no escuro que se revelou um acerto da Fórmula 1. Sem Lewis Hamilton, então, pareceu mais franca, mais aberta, mais bonita de se ver.

O inglês está furos acima hoje de todos os outros. De Valtteri Bottas, então…

Gente, como faz com o psicológico deste rapaz?

O cara faz a pole – ok… mas a diferença para George Russell, que finalmente teve um carro competitivo em mãos foi de apenas 26 milésimos. E Russell fez o que pôde para mostrar que merece estar numa vaga melhor futuramente. Liderou a corrida com grande autoridade e só não venceu porque… a própria Williams não quis.

Pararam para pensar que foi graças a um Safety Car de um acidente com Jack Aitken que a estratégia ‘babou’? E que subiu o som da música dos Trapalhões nas nossas mentes quando a Mercedes fez a maior cagada da paróquia?

Bem, não foi a única: Charles Leclerc fez a dele na primeira volta, também provocando a intervenção do carro guiado por Bernd Maylaender. Max Verstappen errou ao tentar escapar, por fora, na parte suja, saiu e bateu. O monegasco da Ferrari acertou o carro #11 de Sergio Pérez, que completou a primeira volta em 18º e último.

E Pérez, 30 anos, uma década inteira de F1, 190 GPs disputados com o de hoje, fez uma corrida de recuperação antológica. O mexicano já iria normalmente ao pódio pelo posicionamento de pista, mas a cagada da Mercedes o deixou no lugar certo e no momento certo para pegar a ponta com a Racing Point e de lá não sair mais.

Checo torna-se o primeiro mexicano em meio século a vencer uma corrida da categoria. Antes dele, só o lendário Pedro Rodriguez, que venceu duas – a última em 1970, no GP da Bélgica, o último disputado na pista de Spa com 14 km de extensão e a temida reta Masta.

Centésimo-décimo da história a subir ao topo do pódio, ele tira um peso enorme das costas e deixa na gente uma certeza: se existe alguém que não pode ficar de fora da Fórmula 1 em 2021, esse alguém é Sergio Pérez. Após nove pódios e bater na trave depois de tanto tempo, chegou a vez dele. E a emoção do piloto no pódio, ouvindo o hino de seu país, é absolutamente compreensível.

Mas nesse dia de um pódio surreal, que teve Estebán Ocon num brilhante 2º lugar em ótima corrida – melhor resultado do francês, da Renault em 2020 e o primeiro pódio do piloto, o 214º entre os três primeiros (aliás, Ocon é o 13º piloto do ano no pódio, por sete equipes diferentes!) – não há como não elogiar George Russell.

Esqueçam da cagada da Mercedes: o que ele fez na pista foi sensacional. Ele dominou a corrida nas primeiras 45 voltas e quando voltou à ponta após o pit stop – que poderia ter sido o único – estava engolindo Bottas com farinha. Foi um pecado o erro estratégico e o erro da parada, onde a Mercedes se embananou toda e existiram dúvidas se os pneus montados no #63 eram do carro de Bottas.

A FIA investigou, multou a Mercedes, mas manteve os pontos de Russell, que teve um pneu furado e acabou em 9º lugar. Foram os primeiros pontos do inglês, com direito à melhor volta. Pode parecer pouco, mas ele agora pertence ao clube de quem correu e finalmente pontuou. Após 37 GPs, ele figura nos compêndios como o de número 343 nesse ranking.

No mais, após o desastre do fim de semana passado, a Racing Point se redime e volta ao 3º lugar no Mundial de Construtores, com folga agora de 10 pontos para a McLaren, que faz um senhor campeonato e pontuou com Sainz num excelente quarto e Lando Norris, vindo da última fila, em décimo. A Renault faz também um ano de superação de expectativas, com três pódios.

E a estreia de Pietro Fittipaldi? Bem… deixei para falar dele por último, até porque o 17º lugar final pode não representar muito e choveram pessoas (ah! esses entendidos… SQN) nas redes sociais falando mal da performance do brasileiro.

Mas vamos combinar: errou alguma vez no fim de semana?

Não.

Tomou oito décimos do companheiro de equipe com muito mais horas de voo no treino classificatório? Normal?

Sim.

Fez a corrida que foi possível com o carro ruim da Haas?

Fez.

Foi o piloto mais lento na pista enquanto correu?

Não.

Então não me venham com chorumelas. Foi uma estreia digna, com dificuldades, é claro, mas digna. O piloto lidou bem com a pressão e ninguém podia cobrar absolutamente nada. Vejam onde a Haas está no panorama atual da Fórmula 1. Querer que pontuasse na estreia seria loucura. Que andasse melhor que Magnussen o tempo todo, idem.

Domingo que vem, Pietro estará de volta na última etapa – uma vez que Romain Grosjean não voltará à pista de Abu Dhabi para a despedida dele da categoria. Que o neto de Emerson Fittipaldi desfrute, aproveite e mostre que é merecedor da confiança da equipe, independentemente de pontuar ou não. Chefe de equipe que se preze gosta de ver o piloto trazer o carro inteiro pra casa. E Pietro fez isso, dentro das limitações do seu equipamento. O resto, meus caros, é apenas perfumaria.