A Mil por Hora
Fórmula 1

Farsa sobre rodas

RIO DE JANEIRO – O GP da Bélgica neste domingo foi qualquer coisa. Menos corrida de automóveis. Chamem do que quiserem. Pantomima, fiasco, vexame, vergonha, cabe tudo. Uma farsa sobre rodas. Não foi a melhor maneira de a temporada 2021 voltar das férias da Fórmula 1 e iniciar a reta final do campeonato. Pelo contrário: […]

RIO DE JANEIRO – O GP da Bélgica neste domingo foi qualquer coisa. Menos corrida de automóveis. Chamem do que quiserem. Pantomima, fiasco, vexame, vergonha, cabe tudo. Uma farsa sobre rodas.

Não foi a melhor maneira de a temporada 2021 voltar das férias da Fórmula 1 e iniciar a reta final do campeonato. Pelo contrário: deu a impressão de que Liberty Media, Real Automóvel Clube da Bélgica, promotores e FIA não estavam nem aí para quem foi ao circuito de Spa-Francorchamps. Um show de horrores, uma corrida fake, toda ‘disputada’ atrás do Safety Car. Ninguém passou ninguém, ficou o que aconteceu desde o início.

Com o mínimo percorrido de voltas – duas – e mais algumas, o sr. Michael Masi decidiu dar os trabalhos por encerrados. A FIA devia encontrar alguém melhor que ele para suceder Charlie Whiting. Estamos diante do pior diretor de provas de sempre na Fórmula 1. As decisões dúbias não deixam o público confiar em seu trabalho. É diferente do antecessor e até do polêmico Roland Bruynseraede, membro do RACB e, apesar de tudo, ainda respeitado.

Essa paródia de corrida fez com que pontos fossem auferidos pela metade, o que reduz para três pontos somente a diferença de Lewis Hamilton para Max Verstappen – e isso às vésperas do GP da Holanda, domingo que vem. É curioso pensar que ninguém imaginou que a Fórmula 1 nunca tem o chamado “plano B” se der merda como deu hoje.

Um exemplo: por que não dar uma tolerância de 24h? Insisto que não teria sido ruim adiar a corrida para amanhã, embora a meteorologia apontasse tantas chances de chuva quanto neste domingo. Se deixassem para terça seria péssimo por questões logísticas mas a distância terrestre entre Spa-Francorchamps e Zandvoort é de pouco mais de 300 km. Talvez se houvesse boa vontade e respeito aos torcedores, poderíamos talvez ter corrida na 2ª feira.

A última vez em que isso ocorreu não foi porque choveu e sim porque era feriado: em 1972, no Dia Mundial do Trabalho, 1º de maio, o GP da Espanha foi realizado no circuito de Jarama em plena segunda-feira. Sempre foi pouco usual corridas de F1 em dias de semana – houve outras – e várias aos sábados, sendo a última o GP da África do Sul de 1985.

Nós, que acompanhamos outras categorias mundo afora, imediatamente recordamos do ‘modus operandi’ de Indy e Nascar nos ovais em caso de chuva. Não dá pra fazer na hora? Vão adiando. Se têm janela e é possível fazer, fazem. Se a previsão é ruim, fica pro dia seguinte. Tudo bem: é um só país, mas existe boa vontade. A Fórmula 1, gerida por americanos, devia olhar melhor para essas possibilidades.

E deixar um pouco de lado essa sanha de calendário de 25 etapas, inclusive, com as equipes bastante refratárias à ideia.

Se a categoria quer atingir popularidade, não é com corrida fake que ela vai fazer. A segurança está em primeiro lugar, mas pelo visto o dinheiro e o business também falam mais alto, inclusive com protocolo de pódio – o que deve ser constrangedor para todo mundo. Inclusive, cabe o questionamento: se fosse a decisão do campeonato, do jeito como foi em 1976 no GP do Japão, haveria ‘mimimi’ para a corrida se realizar? Ou uma decisão seria tomada, com atitudes?

Fazer desse GP da Bélgica o mais curto e o mais sem graça de sempre, deixando no chinelo em termos de vergonha o que achávamos que era a maior de todas – o “GP de Seis” de Indianápolis, em 2005, foi o “uó”. Até o Galvão Bueno, que desde 2019 não narra corrida nenhuma da categoria, reclamou em redes sociais.

A única coisa que valeu a pena de todo o fim de semana foi, no fim das contas, ver George Russell em 2º no grid e, numa ‘corrida’ em que ninguém passou ninguém, o inglês chegou ao primeiro pódio na Fórmula 1. O piloto da Williams é o 215º nos compêndios. Isso foi bacana. O esforço do treino classificatório valeu e muito. Pena que não houve disputa, não houve o que queríamos assistir.

Só uma grande palhaçada que poderia e deveria servir de lição à turma da Place de la Concorde e seus apaniguados. Mas do alto de sua pequenez arrogante, Jean Todt não vai tomar providência alguma. A atitude até foi correta prezando a segurança e o histórico de acidentes no trecho de Eau Rouge que, ao que dizem, será reformulado em termos de área de escape. E tem que ser: todo ano tem algum acidente sério ali e dois pilotos pelo menos já morreram naquele trecho – Stefan Bellof numa prova do Mundial de Marcas em 1985 e Anthoine Hubert, na Fórmula 2.

Mas insisto: com boa vontade, esse GP da Bélgica poderia ser adiado e o horário da corrida antecipado.

A ver se haverá lições a se tirar deste triste episódio. Inclusive os organizadores deveriam segurar o B.O. e dar opções ao público que por ventura se sentir lesado. Inclusive, devolver o dinheiro da venda do ingresso (Lewis Hamilton protestou acreditando que essa era uma solução) ou, em melhor hipótese, franquear entrada ao público que esteve presente a essa paródia de hoje, também em 2022.