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Fórmula 1

Saudosas pequenas – Arrows, parte XI

RIO DE JANEIRO – Após conseguir o fornecimento de pneus Bridgestone, quando o fabricante japonês aportou na Fórmula 1 em 1997, fazendo reviver a guerra dos pneus contra a Goodyear, Tom Walkinshaw não se deu por satisfeito: trouxe os motores Yamaha que estavam na Tyrrell e, numa aposta arriscada de marketing, cacifou o que Damon Hill […]

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Damon Hill: a grande cartada de Tom Walkinshaw para atrair mídia e patrocínios para a Arrows

RIO DE JANEIRO – Após conseguir o fornecimento de pneus Bridgestone, quando o fabricante japonês aportou na Fórmula 1 em 1997, fazendo reviver a guerra dos pneus contra a Goodyear, Tom Walkinshaw não se deu por satisfeito: trouxe os motores Yamaha que estavam na Tyrrell e, numa aposta arriscada de marketing, cacifou o que Damon Hill pedia para renovar com a Williams. O campeão mundial de pilotos foi correr na Arrows, que acabou de forma inédita com o número #1 em seus carros.

Para segundo piloto, Walkinshaw trouxe Pedro Paulo Diniz, com quem trabalhou pouco tempo na Ligier mas que, por seu bom relacionamento com bons patrocinadores, levaria o combustível financeiro necessário para manter a estabilidade do time britânico ao longo do campeonato.

Alan Jenkins, projetista de todos os carros anteriores desde 1991, foi dispensado e Frank Dernie, antigo aerodinamicista de Williams e Lotus, assinou sozinho o projeto do A18, o novo carro do time. Hill e Diniz passaram sufoco nos treinos classificatórios logo no primeiro GP do ano em Melbourne, na Austrália. Faltava estabilidade aos carros e o campeão só conseguiu o 20º tempo no grid. Diniz largou em último, porque os horrorosos Lola-Mastercard de Ricardo Rosset e Vincenzo Sospiri fizeram um papelão daqueles e não se classificaram. Na corrida, os dois abandonaram.

Pedro Paulo Diniz teve um começo errático pelo time britânico

Até o GP do Canadá, Hill e Pedro Paulo enfrentaram uma série de falhas dos motores Yamaha, comprometendo o desempenho do time. Mas os dois conseguiram terminar a corrida de Montreal, com Diniz incrivelmente à frente de Hill, com um 8º lugar. O campeão de 1996 chegou em nono.

Quando muitos não davam mais nada pelo desempenho da equipe, a Arrows começou a melhorar. No GP da Inglaterra, Hill fez uma corrida excepcional, largando de 12º para chegar em sexto e conquistar o primeiro ponto do ano.

Com Frank Dernie trabalhando na engenharia, o A18 melhorou bastante na segunda metade do campeonato e quase que Hill conquista uma histórica vitória na Hungria

O assombro, contudo, veio no GP da Hungria, onde carro, motor e pneus casaram com o travadíssimo traçado de Budapeste: Hill largou em terceiro, atrás de Michael Schumacher e Jacques Villeneuve, passou em segundo na largada e assumiu a ponta na 11ª volta. Só perdeu o primeiro posto para Heinz-Harald Frentzen, da Williams, por quatro voltas e o campeão do mundo parecia prestes a dar à Arrows e a Walkinshaw uma vitória histórica em todos os sentidos.

Porém, nas últimas voltas, o rendimento de seu carro caiu vertiginosamente e Jacques Villeneuve, que vinha um pouco distante em 2º lugar, aproveitou a deixa e ultrapassou Hill. Foi um pecado: uma corrida monumental do britânico acabou com a Arrows fora do lugar mais alto do pódio na corrida em que a equipe mais teve chance de ganhar em toda a sua história.

O resultado de Hill encorajou a equipe e provocou uma discreta melhora no desempenho de Pedro Paulo Diniz, que fez uma qualificação sensacional no GP da Bélgica, largando em oitavo – mais rápido que Hill, aliás –  para ficar muito próximo da zona de pontuação. O brasileiro conseguiria enfim marcar dois pontinhos com a 5ª posição no GP de Luxemburgo, em Nürburgring. Hill marcou o 4º tempo na última prova do ano em Jerez de la Frontera, outra pista que favoreceu o conjunto Arrows/Yamaha/Bridgestone, mas o piloto abandonaria por quebra de câmbio.

Por conta da inconsistência do carro, a Arrows fez apenas nove pontos no Mundial de Construtores de 1997, muito menos do que Tom Walkinshaw e Damon Hill esperavam. O piloto não quis marcar passo mais um ano e se mandou para a Jordan, uma equipe em crescimento na Fórmula 1. O dirigente acabou trazendo Mika Salo, que vinha da Tyrrell, para seu lugar e competir na temporada de 1998.

Frank Dernie também não durou muito tempo na equipe e, fruto de mais um ambicioso plano de Walkinshaw, o modelo A19 foi desenhado por ninguém menos que John Barnard, com assessoria do promissor Mike Coughlan. O motor seria o Hart V10, rebatizado como Arrows T2-F1. E naquele ano a Fórmula 1 estrearia os pneus com sulcos, que diminuíam a área de contato dos mesmos com o solo.

Mika Salo estreou pelo time a bordo do ambicioso A19, projeto de John Barnard

O A19 era um belo carro, de fato, todo pintado de preto e muito compacto. Tão compacto que, com uma microcaixa de câmbio, enfrentou problemas em todos os três primeiros GPs do ano – Austrália, Brasil e Argentina. Um Arrows só veria pela primeira vez a quadriculada com Salo, em San Marino, quando o finlandês foi nono.

Diniz fez uma bela apresentação nas ruas de Monte-Carlo e chegou em 6º lugar

Depois disso, a equipe teve seu ponto alto do ano em Mônaco, numa pista onde Salo sempre andou bem e Diniz fez uma boa classificação. O finlandês chegou em quarto e o brasileiro, vindo de 12º no grid, fez seu primeiro ponto no ano.

O brasileiro ainda marcaria mais dois pontos no GP da Bélgica, em Spa

Na segunda metade do campeonato, a equipe foi prejudicada pelos problemas de relacionamento entre Walkinshaw e Barnard, que culminaram com o afastamento do projetista do A19, no que tangia ao desenvolvimento do carro. Os resultados em qualificação passaram a ser apenas medianos e salvou-se, em meio a uma enorme crise técnica, um valente 5º posto de Pedro Paulo Diniz no dilúvio de Spa-Francorchamps.

A Arrows terminou em sétimo no Mundial de Construtores, superando Stewart e Prost, que tinham carros de fato muito piores que os da equipe de Walkinshaw, sem contar a Minardi, que não tinha dinheiro e a Tyrrell, prestes a virar BAR e uma caricatura do que fora no passado. Será que a equipe conseguiria algo melhor em 1999?

Isso é assunto para o penúltimo post da série, no ar amanhã.