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Túnel do Tempo

Direto do túnel do tempo (73)

RIO DE JANEIRO – Dia 26 de abril de 1987, domingo. Naquele dia, no Autódromo de Cascavel, nascia o Campeonato Sul-Americano de Fórmula 3. Uma categoria que tivera sua gênese na Fórmula 2 continental, com predomínio dos argentinos com seus carros Berta impecavelmente preparados e movidos a gasolina, onde vez por outra, alguns brasileiros davam […]

RIO DE JANEIRO – Dia 26 de abril de 1987, domingo. Naquele dia, no Autódromo de Cascavel, nascia o Campeonato Sul-Americano de Fórmula 3. Uma categoria que tivera sua gênese na Fórmula 2 continental, com predomínio dos argentinos com seus carros Berta impecavelmente preparados e movidos a gasolina, onde vez por outra, alguns brasileiros davam trabalho.

A nossa gênese de uma categoria de monopostos semelhante à F-3 fora a Fórmula Super Vê (depois chamada Fórmula VW 1600), que lotou autódromos país afora e revelou uma talentosa geração de pilotos que teve sequência por, pelo menos, três décadas. Dessa geração saiu gente como Ingo Hoffmann e Nelson Piquet, sem contar outros nomes consagrados do automobilismo interno, feito Guaraná Menezes, Marcos Troncon, Chiquinho Lameirão, Antônio Castro Prado, Vital Machado, Dárcio dos Santos e muitos outros.

Com o fim da F-VW 1600 e sua transformação em F-2, veio a aproximação com os argentinos e por anos a fio, levamos a pior em vários duelos. Afinal, los hermanos vinham com motores a gasolina e nossos preparadores, com motores a álcool. A garra de nomes como os do gaúcho Leonel Friedrich compensava a disparidade de equipamento e ele conseguia vitórias épicas sobre Guillermo Maldonado e cia.

E foi assim que começou o campeonato da F-3 Sul-Americana em 1987, com poucos brasileiros no grid (salvo engano, Leonel, Cézar “Bocão” Pegoraro, Chico Feoli, Pedro Grendene Bartelle e o incansável Pedro Muffato), uma dezena de argentinos e um uruguaio, o veterano Pedro Passadore, que vinha a bordo de uma das novidades do campeonato: um Reynard Alfa Romeo novinho, importado da Inglaterra e alinhado pela equipe Ge.Mo. Uruguaya.

A outra cara nova era um chassis italiano Dallara, o primeiro que aportou por aqui, trazido por Gustavo Sommi. Naquela época, ninguém podia prever, até porque no automobilismo não há bola de cristal, mas o construtor europeu se tornaria dominador absoluto da categoria a partir dos anos 90, com os problemas que Ralt e Reynard – maioria quase absoluta em termos de chassis aqui no começo da categoria – passaram a enfrentar.

Leonel Friedrich, alinhando um Berta com um moderno motor Volkswagen Spiess 2 litros da equipe argentina INI Competición, era o homem certo, na hora certa e no momento certo. O Pelado (Careca), como era chamado pelos argentinos, usou a experiência de muitos anos e de quem passara pela Fórmula 3 inglesa em 1973 para derrotar os rivais, em sua maioria, todos argentinos. Ele entrou para a história como o primeiro vencedor da categoria na América do Sul, foi o primeiro campeão da F-3 e seu título foi um divisor de águas para o automobilismo brasileiro.

Enquanto a rivalidade entre os dois países acirrou-se a ponto de uma decisão de título provocar uma cizânia que fez surgir um certame brasileiro de F-3, em 1994, a categoria teve uma invasão de pilotos do nosso país de uma forma tão acachapante que hoje a presença argentina na categoria é cada vez mais rara.

A Fórmula 3 Sul-Americana quase morreu ano passado, mas continua aí. E felizmente podemos celebrar seu aniversário de nascimento neste dia 26 de abril.

Há 26 anos, direto do túnel do tempo.