A Mil por Hora
Fórmula 1

O esquecido

RIO DE JANEIRO – O tempo passa. Ora sábio, ora cruel. Sempre inexorável. Hoje, 30 de abril, faz 19 anos que o fim de semana da maior tragédia do automobilismo contemporâneo aconteceu. O aviso de que alguma coisa errada aconteceria foi o acidente de Rubens Barrichello na véspera. Carro arrebentado após decolar numa zebra. Foi […]

RIO DE JANEIRO – O tempo passa. Ora sábio, ora cruel. Sempre inexorável. Hoje, 30 de abril, faz 19 anos que o fim de semana da maior tragédia do automobilismo contemporâneo aconteceu. O aviso de que alguma coisa errada aconteceria foi o acidente de Rubens Barrichello na véspera. Carro arrebentado após decolar numa zebra. Foi milagre o então jovem piloto brasileiro ter escapado somente com contusões e  escoriações.

E veio o sábado do treino classificatório.

Nunca esqueci aquele dia. Segui meu ritual de acompanhar os treinos oficiais, o que fazia desde 1991, quando a sessão decisiva de classificação, aos sábados, começou a ser transmitida com regularidade. Eram 9h18 da manhã pelo horário de Brasília, 14h18 em Imola, quando o carro violeta número #32 da Simtek, pilotado pelo austríaco Roland Ratzenberger, então com 33 anos de idade, apareceu na tela da minha televisão destruído em decorrência de um grave acidente.

A foto acima não me deixa mentir. O carro tinha um rombo na lateral do lado esquerdo. A cabeça do piloto pendia para o lado. Notei uma mancha de sangue no capacete. Temi pelo pior. E o pior aconteceu: em decorrência das graves lesões, Ratzemberger faleceu.

O treino foi interrompido para o atendimento médico da equipe do Dr. Sid Watkins e o traslado do piloto para o Hospital Maggiore, em Bolonha – que 24 horas depois receberia ninguém menos que Ayrton Senna, também vítima de um grave acidente e que, a exemplo de Ratzenberger, morreria – para comoção do mundo inteiro.

Não se lamentou ou se chorou a morte do austríaco. É mais ou menos como aconteceu em 1982, outro ano repleto de tristeza. A perda de Gilles Villeneuve, um ídolo internacional, doeu e comoveu mais do que o desaparecimento precoce de Riccardo Paletti.

Ratzenberger estava em Imola, naquele carro que podemos chamar sem sustos de “cadeira elétrica” movido pelo sonho que todo piloto tem: chegar à Fórmula 1. Com US$ 500 mil de verba, pagou para disputar seis corridas pelo time de Nick Wirth. Um sonho demolido e não-realizado de um homem que, quando sentava num carro de corrida, era aguerrido a ponto de desconhecer limites. Tanto que, nos tempos em que correu no Japão, escapou de pelo menos três acidentes seriíssimos.

Automobilismo é e sempre foi um esporte de risco e todos sabem ao que estão expostos. Fio da navalha total. Mas é preciso se fazer justiça. Não é só de Senna que devemos lembrar, porque daquela data em diante, a Fórmula 1 passa pelo seu maior período sem acidentes fatais em toda a sua existência. Devemos também prestar as devidas homenagens a Roland Ratzenberger, que pagou com sua vida o preço de uma escolha.