A Mil por Hora
Fórmula 1

A borracha da discórdia

RIO DE JANEIRO – Nunca este blog deu opinião sobre a questão dos pneus da Fórmula 1, desde a mudança dos compostos construídos pela Bridgestone pelos da italiana Pirelli. Mas hoje chegou a hora. Aliás, acho que passei demais da hora de falar a respeito de um assunto que hoje incomoda muito mais do que a […]

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RIO DE JANEIRO – Nunca este blog deu opinião sobre a questão dos pneus da Fórmula 1, desde a mudança dos compostos construídos pela Bridgestone pelos da italiana Pirelli. Mas hoje chegou a hora. Aliás, acho que passei demais da hora de falar a respeito de um assunto que hoje incomoda muito mais do que a história do jogo de equipe da Red Bull na Malásia – assunto que até já foi esquecido.

Desde que me conheço por gente, os pneus slicks, de superfície lisa, são usados no automobilismo. Desenvolvidos nos EUA para as 500 Milhas de Indianápolis, chegaram à Fórmula 1 em 1971. Foram banidos da categoria máxima por alguns anos em nome de uns compostos estranhamente frisados e voltaram há pouco tempo, “em nome do espetáculo”, dizem. E é aí que o bicho pega.

Pelo que eu saiba, os slicks, quando introduzidos no esporte, foram feitos para aumentar a performance e a velocidade dos bólidos. E hoje, o que vemos na Fórmula 1?

Com certeza, nem uma coisa, nem outra. Nem performance e nem velocidade. E sim uma procissão desenfreada aos boxes, com os carros entrando e saindo deles feito ratos da toca, em busca do queijo preferido. Que automobilismo é esse em que depois de oito voltas um carro já entra nos pits em busca de um jogo novo de pneus? Que Fórmula 1 é essa onde a palavra é “economizar” e não “acelerar”?

Francamente, a categoria que aprendi a gostar quando criança, deixou de ser aquela mesma que conheci – e não é de hoje. Artificialismos baratos como o DRS e os pneus que, mesmo sendo duros, não resistem nem 20 voltas, não são paliativos capazes de devolver à Fórmula 1 o que se perdeu com o correr dos anos. Não existe mais emoção como antigamente. Talvez eu esteja sendo chato demais, saudosista demais, porque acabei de ver o último DVD da caixa The Grand Prix Collection Volume 1 (1970/1974) onde, aí sim, a categoria separava os homens dos meninos.

Qual o último sopro de inventividade, de verdade, que a F-1 conheceu? Não estou falando de nada dessas artimanhas patéticas dos dias de hoje. Falo de carros criativos, desenhos revolucionários. Se a gente pôr dois carros sem pintura nenhuma, lado a lado, não saberemos a que equipe pertencem. Praticamente todos se parecem. Uma chatice ver os carros equipados com pneus com tão pouca área de contato com o solo.

Olhem esta foto. É o McLaren de Emerson Fittipaldi no GP da Itália em 1975. Notem os pneus traseiros. Comparem dimensões e diâmetro com os de agora. E olhem que o carro do brasileiro, há 38 anos atrás, não tinha a aerodinâmica ‘refinada’ dos dias de hoje, um motor V-8 Cosworth igual a 95% do grid e que tinha 490 HP de potência. Era um carro que andava uma barbaridade.

E hoje?

Hoje, todo mundo fica exausto com contas inverossímeis, cálculos do número de pit stops, com voltas mais rápidas marcadas pelos pilotos quando saem dos boxes na primeira ou segunda volta do pneu, tempos de volta que oscilam às vezes de três a cinco segundos em questão de pouco tempo… francamente, o público não gosta disso. Quem gosta de automobilismo de verdade não tem mais paciência para aturar essa história de que os pneus foram construídos a pedido de Bernie Ecclestone para melhorar o espetáculo.

Balela.

Cansei desse lance de pneu vermelho, laranja, branco, azul e verde.

Sabem de uma coisa? Prefiro ser saudosista e sentir falta de uma Fórmula 1 que não vivi, como a de 1975. Talvez eu fosse, como fui entre 1979 e há pouco tempo atrás, bem mais feliz.