A Mil por Hora
Automobilismo Nacional

Respirando por aparelhos

RIO DE JANEIRO – Trabalhei hoje na transmissão da Rolex Sports Car Series no Fox Sports e, por isso mesmo, não tive tempo para acompanhar a fundo o que houve hoje em Brasília. Mas pelos relatos que li nas redes sociais, o caos reinou no Planalto Central neste fim de semana de Stock Car. Pois […]

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RIO DE JANEIRO – Trabalhei hoje na transmissão da Rolex Sports Car Series no Fox Sports e, por isso mesmo, não tive tempo para acompanhar a fundo o que houve hoje em Brasília. Mas pelos relatos que li nas redes sociais, o caos reinou no Planalto Central neste fim de semana de Stock Car.

Pois é… Brasília… a capital do país nos oferece, aliás, um enorme contraste. Não muito distante dali, um estádio novinho em folha, para a Copa de 2014 e também para a Copa das Confederações. Custo da brincadeira: R$ 1,5 bilhão. É o que chamamos de elefante branco, pois Brasília não tem times na Série A e nem na Série B do Brasileiro e as médias de público do campeonato do Distrito Federal são ridículas.

Bem próximo dali, fazendo para muitos o papel do vizinho incômodo e desagradável, o Autódromo Internacional Nelson Piquet, inaugurado em 1974, vai chegar a quase 40 anos sem ter tido UMA ÚNICA troca de asfalto. Guard-rails e áreas de escape jamais foram modernizados. As zebras do circuito eram conhecidas por ser verdadeiras rampas de lançamento. E não custa nada lembrar: Laércio Justino pagou com sua vida pela falta de segurança recorrente no circuito planaltino.

Não obstante, essa mesma pista, sucateada e destruída, tornou-se o palco de mais um vexame que mancha a já abalada credibilidade do automobilismo brasileiro. Uma reforma – se é que pode se chamar o que se fez de reforma – malfeita, “nas coxas”, atrapalhando todo o fim de semana da Stock Car, que realiza neste fim de semana a 5ª etapa de seu campeonato. E ainda me veio o sr. Agnelo Queiroz, na frente das câmeras de uma emissora de TV, afiançar que o circuito terá ‘reformas substanciais’ – e, pasmem, falando numa segunda corrida de Fórmula Indy no país. É muita cara de pau!

Aliás, cara de pau é pleonasmo para políticos, dirigentes e quejandos neste país e no automobilismo brasileiro. E vou incluir nesse balaio de gatos os pilotos. Sim, os pilotos. Pelo seguinte: os autódromos são o local de trabalho deles – e não excluo dessa colocação os gentleman drivers – porque afinal eles também usufruem do mesmo espaço que os competidores que têm no automobilismo o seu ganha-pão. Pergunto eu: por que os pilotos não se cotizam, não se unem e cruzam os braços? Não está na hora de acabar com esta palhaçada de competir em circuitos que mais parecem galinheiros?

E tem mais: tirando uma ou outra honrosa exceção, que pilotos de peso, de fato, lutaram pela sobrevivência de Jacarepaguá? Algum levantou a voz para denunciar o absurdo que foi destruir uma praça esportiva à guisa de parque olímpico? Não né… e agora soubemos que a FAERJ está recebendo uma verba da Secretaria Municipal de Esportes e Lazer para fazer corridas em Minas Gerais, a mais de 400 km da capital, enquanto a mesma prefeitura do Rio de Janeiro não destinava UM ÚNICO CENTAVO para a manutenção do finado autódromo.

Fundo do poço, várzea, qualifiquem do jeito que vocês quiserem a situação do esporte no país. E a tendência é piorar: a Copa vem aí, a Olimpíada também e até 2016 as verbas serão cada vez mais escassas. Esqueçam reformas de autódromos, esqueçam que um dia já fomos um manancial absurdo de talentos, porque não somos mais. A verdade é dura, cruel e precisa ser dita.

Temos que abrir os olhos para a realidade: o automobilismo brasileiro respira sob aparelhos. E muitos são os culpados. Apontá-los é lugar comum. Todos sabemos de quem se trata. Incomoda – e muito – o descompromisso de quem deveria fazer alguma coisa, e no fundo, nada faz, pela sobrevivência do esporte neste país.

Salvemos o esporte a motor no Brasil. E rápido, de preferência até 2017. Antes que ele acabe.

A foto que ilustra este post é de Luca Bassani, retirada do site Grande Prêmio.