A Mil por Hora
Fórmula 1

Um novo recorde para o tetracampeão

RIO DE JANEIRO – Sebastian Vettel fechou da melhor forma possível uma temporada perfeita para o piloto alemão, num GP do Brasil mediano e com o pior público presente a Interlagos desde, sei lá eu, 1992. O tetracampeão (peço desculpas aos leitores por ter escrito que o piloto é penta – ainda não é, claro), […]

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RIO DE JANEIRO – Sebastian Vettel fechou da melhor forma possível uma temporada perfeita para o piloto alemão, num GP do Brasil mediano e com o pior público presente a Interlagos desde, sei lá eu, 1992. O tetracampeão (peço desculpas aos leitores por ter escrito que o piloto é penta – ainda não é, claro), que já fizera misérias no treino classificatório ao marcar a 46ª pole da carreira metendo um temporal nos adversários, ganhou praticamente de ponta a ponta em Interlagos, para igualar um feito de 60 anos.

Em 21 de junho de 1953, Alberto Ascari alcançou a bordo de uma Ferrari a vitória no GP da Bélgica em Spa-Francorchamps, a sua nona vitória em corridas consecutivas de que participou, excluindo-se da relação, é claro, as 500 Milhas de Indianápolis. Hoje, em 24 de novembro, Vettel repete o feito de Ascari – com uma ressalva: o alemão venceu nove vezes seguidas neste ano. O italiano fez a primeira da série no mesmo circuito de Spa e no mesmo GP da Bélgica, um ano antes.

Não obstante, Vettel também chegou ao mesmo número de vitórias de seu compatriota Michael Schumacher – treze no total. O antigo campeão da Fórmula 1, porém, teve melhor aproveitamento: quando atingiu esta marca em 2004, eram 18 etapas. A temporada deste ano teve uma corrida a mais. Mas isso não ensombra, de forma alguma, o feito do “Colosso de Heppenheim”.

Outra que entra para a história: Vettel somou 397 pontos ao fim do campeonato. A Mercedes, nova vice-campeã mundial de Construtores, fez 360. A Ferrari, terceira colocada, 354. Podemos então brincar que, se Vettel fosse um construtor, sozinho, ele seria campeão mundial de Fórmula 1 também.

Quanto à corrida, como disse, foi mediana. Salvaram-se alguns momentos de disputas encarniçadas e a expectativa quanto a uma chuva que no fim das contas não veio, após dar as caras e as cartas nos treinos livres e na qualificação.

O GP do Brasil foi de várias despedidas. Os motores V8 aspirados de 2,4 litros saem de cena, para dar lugar aos motores 1,6 litro com alimentação por turbocompressores. A Fórmula 1 volta à chamada “Era Turbo” após 26 anos na próxima temporada. Também Mark Webber deixou a categoria neste fim de semana, com um 2º lugar que merece ser registrado pelo empenho do piloto australiano na pista, pela ótima disputa com Fernando Alonso e pela volta final de desaceleração, onde tirou o capacete para levar o vento na cara, tal como Didier Pironi fez diversas vezes nos anos 80 e Gerhard Berger repetiu o feito no GP de Portugal de 1989.

Aliás, nos vídeos abaixos, eis as respostas a quem disse que era “inédita” a manifestação de Webber ao tirar seu capacete ainda dentro do carro.

http://www.youtube.com/watch?v=JYnGzNKAiT0

Tirando a dobradinha da Red Bull. o que existiu de positivo no GP do Brasil de fato foi a boa performance da dupla da McLaren. Jenson Button, com a classe de sempre, chegou em quarto e Sergio Pérez, em sua última corrida pela escuderia de Woking, foi o sexto, tendo Nico Rosberg de recheio entre eles. O desempenho de Button, pasmem, foi o melhor dele em 2013, o que dá uma medida do quão abaixo da crítica foi a temporada do time de Ron Dennis e Martin Whitmarsh. A equipe conquistou um obscuro 5º posto no Mundial de Construtores com quase três vezes menos pontos que a Lotus, quarta colocada. Button foi nono no Mundial de Pilotos e Pérez, 11º colocado.

A corrida também teve algumas punições. Uma, nem um pouco surpreendente, para Giedo Van der Garde, que ignorou as bandeiras azuis, algo com que o holandês da Caterham estava bastante acostumado a ver ao longo do campeonato. Também sobrou para Felipe Massa, que chegou em 7º lugar e Lewis Hamilton, que foi nono.

Ao brasileiro, foi o fim de uma remota possibilidade de pódio e da certeza de terminar seu GP caseiro num razoável 4º posto, após uma boa largada e uma corrida boa até o momento em que foi punido. Segundo os comissários da FIA, Massa “cortou” a linha branca de entrada dos pits com seu carro, o que segundo se avisou no briefing da direção de prova com os pilotos, não seria permitido. Não houve choro nem vela. Embora reclamasse no rádio com a equipe dizendo que a punição era “inaceitável”, Massa ainda chiou na passagem pelos boxes para um drive through. Voltou fora da zona de pontos e ainda chegou em sétimo.

Já Hamilton foi punido em razão de um incidente com Valtteri Bottas, onde o britânico invadiu a linha do finlandês da Williams, provocando o contato com o carro do nórdico, a perda do pneu e o abandono do rival. Para muitos, uma punição justa porque pareceu um erro de Hamilton. Achei, porém, que Bottas foi otimista demais ao tentar uma ultrapassagem por fora sobre o piloto da Mercedes, que nunca saberemos se acabaria concretizada. Os comissários viram culpa em Hamilton e o piloto, que também teve um pneu dechapado em razão do contato, acabou bem longe do pódio.

De resto, vimos Hülkenberg de novo nos pontos com o 8º lugar e Daniel Ricciardo, em sua despedida da Toro Rosso, marcando o último ponto de 2013. No total, 19 pilotos viram a quadriculada e pelo menos um deles, o britânico Max Chilton, da Marussia, notabilizou-se por conseguir terminar todas as corridas do ano – mesmo que entre os últimos ou em último na maioria das ocasiões.

É isso. Termina mais um Campeonato Mundial de Fórmula 1. A categoria volta em 2014 com muita coisa nova. Carros com motores turbo e pouca quantidade de combustível darão as cartas. Há quem duvide que Vettel será capaz de manter sua hegemonia com o novo regulamento técnico. Mas quanto a isso, só saberemos se irá acontecer de fato a partir de 16 de março do próximo ano, quando o GP da Austrália dará a largada para a 65ª temporada da história, em Melbourne.