A Mil por Hora
Túnel do Tempo

Direto do túnel do tempo (168)

RIO DE JANEIRO – A foto acima mostra a largada da corrida de inauguração oficial do Autódromo de Brasília. Há exatamente quatro décadas, em 3 de fevereiro de 1974, doze pilotos davam a largada para uma corrida extracampeonato de Fórmula 1 – algo comum na época e inexistente em se tratando da chamada categoria máxima […]

1974_Brasilia_GP_PMD_[2]RIO DE JANEIRO – A foto acima mostra a largada da corrida de inauguração oficial do Autódromo de Brasília. Há exatamente quatro décadas, em 3 de fevereiro de 1974, doze pilotos davam a largada para uma corrida extracampeonato de Fórmula 1 – algo comum na época e inexistente em se tratando da chamada categoria máxima do automobilismo há mais de 30 anos.

Entre os pilotos que lá estavam, três brasileiros: o campeão mundial de 1972 Emerson Fittipaldi a bordo do seu McLaren M23, José Carlos Pace num Surtees TS16 e Wilsinho Fittipaldi em sua última corrida pela Brabham, competindo no BT44.

Havia, também, nos bastidores, um certo Nelson Piquet, então com 21 anos e assinando Piket para fugir da marcação austera do pai, o antigo ministro Estácio Souto Maior, trabalhando como mecânico, polindo as rodas do carro de Carlos Reutemann e no papel de faz-tudo para a Brabham, levando os mecânicos do time de Bernie Ecclestone para a zona no Distrito Federal.

Os demais carros eram a Tyrrell de Jody Scheckter, o Iso-Marlboro IR de Arturo Merzario, os March 741 de Hans-Joachim Stuck e James Howden Ganley, as BRM P160E de Jean-Pierre Beltoise e Henri Pescarolo, mais um Surtees TS16 para Jochen Mass e, por fim, o March 731G de James Hunt.

A corrida foi batizada de “Grande Prêmio Presidente Médici”, homenageando o então presidente-ditador Emílio Garrastazu Médici, de triste memória, num dos muitos eventos realizados neste país para afagar a revolução chamada por quem a deflagrou de “Redentora” (não sei do que ou onde).

Enfim, nos treinos, Carlos Reutemann marcou a pole position com o tempo de 1’51″18 para os 5,475 km do circuito, contra 1’51″27 de Emerson Fittipaldi. Jody Scheckter largou em terceiro, seguido de Carlos Pace e Arturo Merzario. Wilsinho Fittipaldi foi o sétimo.

Como se tratava de um evento não-oficial, foram programadas 40 voltas, num total pouco superior a 219 km de percurso, bem menos do que os pilotos estavam acostumados. O público acorreu em grande número às dependências do novíssimo circuito, que tinha moderna torre de cronometragem, placar e até passarelas – duas, aliás.

O “Grande Prêmio Presidente Médici”, em si, foi uma chatice. Quando o pole Reutemann quebrou na 12ª volta, o caminho ficou fácil para Emerson Fittipaldi vencer sem a menor contestação, quase 13 segundos à frente de Jody Scheckter, na despedida da Tyrrell 006. Arturo Merzario foi o terceiro colocado no Iso-Marlboro, a 27 segundos do vencedor, com Jochen Mass em quarto, Wilsinho Fittipaldi em quinto e Hans-Joachim Stuck em sexto. Pace chegou em nono lugar, cinco voltas atrasado.

Ao fim de uma corrida monótona, Emerson, Scheckter e Merzario foram na tribuna de honra onde, claro, estava o Presidente Médici para receberem seus troféus. Quarenta anos depois, é difícil acreditar que um presidente da república esteve presente num autódromo – mesmo que tenha sido um evento realizado como massa de manobra do governo ditatorial.

Há 40 anos, direto do túnel do tempo.