A Mil por Hora
Fórmula 1

Risadaria e pancadaria

RIO DE JANEIRO – A Fórmula 1 voltou das férias de verão bem mais animada do que estava quando entrou em recesso. O GP da Bélgica e o maravilhoso circuito de Spa-Francorchamps, pista de verdade, para pilotos com P maiúsculo, deram os ingredientes necessários para um domingo cheio de polêmicas que vão render discussão pelo […]

RIO DE JANEIRO – A Fórmula 1 voltou das férias de verão bem mais animada do que estava quando entrou em recesso. O GP da Bélgica e o maravilhoso circuito de Spa-Francorchamps, pista de verdade, para pilotos com P maiúsculo, deram os ingredientes necessários para um domingo cheio de polêmicas que vão render discussão pelo menos até a próxima corrida, em Monza.

A Mercedes-Benz, líder absoluta do Mundial de Construtores, virtual campeã e que tem seus pilotos fazendo 1-2 no Mundial de Pilotos, parece querer repetir um filme que já vimos noutras escuderias, em tempos idos. A Williams perdeu dois campeonatos em 1981 e 1986 porque não soube administrar a fogueira de vaidades que tomou conta do time. A McLaren não perdeu campeonato em 1989, mas a guerra Prost versus Senna atingiu níveis altíssimos de animosidade de parte a parte. E em 2007, o time de Ron Dennis, já chamuscado por um escândalo de espionagem, viu seus pilotos sucumbirem na reta final, atropelados por Kimi Räikkönen.

O toque da discórdia: e aí, Rosberg teve culpa? Certo é que a Mercedes hoje é uma equipe sem comando

Os alemães podem ter o melhor carro da F1 e o escambau, mas falta comando. Falta alguém da direção botar o pau na mesa e decidir o que deve – ou não – acontecer na pista. O imbróglio entre Lewis Hamilton e Nico Rosberg logo no início de uma corrida de 44 voltas deixa transparecer essa ausência de comando nas hostes da estrela de três pontas.

Houvesse alguém para mandar Rosberg segurar a onda e nada do que se viu teria acontecido. Fulo dentro do macacão, Lewis Hamilton viu um pneu traseiro rebentar por conta de um contato do companheiro de equipe em seu carro. Intencional ou não, o incidente deixou o britânico distante de qualquer possibilidade de lutar pela vitória. E com o bico quebrado, Rosberg abriu caminho para a risadaria incontrolável do sorridente Daniel Ricciardo.

Este rapaz é um fenômeno. Chova ou faça sol, o sorriso de 500 dentes não desfaz de sua face. O piloto da Red Bull, aliás, faz uma excelente temporada – justiça seja feita. O que ele alcançou em meia temporada é muito superior a anos de Mark Webber na equipe do touro vermelho. E seus desempenhos (e triunfos, três ao todo) deixam Sebastian Vettel de cabelo em pé.

Foi a 50ª vitória da equipe, a 150ª de Adrian Newey como engenheiro, numa pista singular, difícil e onde os RB10 tiveram que ser regulados com zero de pressão aerodinâmica para ganhar nas retas o que não têm de potência do motor Renault. Um triunfo significativo e que pode deixar o Risadinha sonhando acordado. Afinal, sonhar com um título inesperado e inédito não custa nada.

Voltando à crise na Mercedes, ocorreu uma reunião a portas fechadas entre os dois pilotos do time, Niki Lauda e Toto Wolff. Oficialmente, não se sabe o que foi conversado. Certo é que Hamilton queixou-se de Nico, dizendo que o alemão bateu “de propósito” em seu carro. A alta cúpula da Mercedes não gostou, chamou o líder do campeonato de irresponsável e, como “prêmio”, Nico foi estrepitosamente vaiado no pódio. Os que o apupavam ganharam um esporro de Eddie Jordan na hora da entrevista dos três primeiros colocados.

Pódio que, pela quarta vez em cinco provas, viu um representante da terra da água que passarinho não bebe. Mais uma vez, Valtteri Bottas deu show. O piloto da Williams faz também um campeonato sensacional, acima da média e da expectativa. Com 110 pontos somados, ele fez 70 a partir do GP da Áustria. Sólido na 5ª posição do campeonato, o nórdico quer mais. E continua surrando Felipe Massa sem dó, nem piedade.

Gostei também da corrida do Kimi Räikkönen. O Iceman mostra que Spa-Francorchamps é para ele. Andou muito, o tempo todo. Atuação monumental do piloto da Ferrari, que fez a melhor corrida em 2014 e também alcançou o melhor resultado dele no ano.

Na McLaren, Jenson Button só chegou na frente de Kevin Magnussen porque o dinamarquês foi punido por “jogar” Fernando Alonso para fora da pista em Les Combes. A FIA precisa rever seus conceitos. As punições estão banalizadas. Tudo é motivo para time penalty, stop & go ou drive through. Absolutamente tudo, inclusive um espirro. Os pilotos da F1 têm que se comportar como robôs e não podem sair da linha, como no jogo de amarelinha. A entidade máxima do desporto automobilístico deveria aprender com a Nascar como se faz. Nos EUA, não há punições qualquer nota. Somente infrações graves contra o código disciplinar e as regras é que acarretam em penalizações e multas.

Querem um exemplo? Na última etapa da Sprint Cup em Bristol, Denny Hamlin arremessou um hans device no carro de Kevin Harvick, fulo (e com razão) por ter sido abalroado quando liderava no oval do Tennessee. Não se falou – ainda – em punição. O caso deve estar sendo analisado, mas vejam só como um episódio como este é tratado e comparem como as coisas caminham nas categorias com o selo FIA. O “coxinhismo” toma conta cada vez mais do automobilismo…

Enfim, aguardemos pelo GP da Itália. Vamos ver quem apresentará armas na Mercedes e se Ricciardo fará o papel de algoz a 300 km/h dos outrora amigos, hoje rivais e provavelmente futuros inimigos dentro das pistas.