A Mil por Hora
Fórmula 1

Um campeão inquestionável

RIO DE JANEIRO – Venceu o melhor. E o melhor foi campeão, ou por outra, bicampeão. Lewis Hamilton, com a vitória no GP de Abu Dhabi, conquistou seu segundo título mundial de Fórmula 1, num ano mágico para a estrela de três pontas de Stuttgart e para o piloto – o segundo inglês após Graham […]

Lewis Hamilton wins the Abu Dhabi Formula One Grand Prix
A bandeirada do bicampeonato (Foto: Getty Images)

RIO DE JANEIRO – Venceu o melhor. E o melhor foi campeão, ou por outra, bicampeão. Lewis Hamilton, com a vitória no GP de Abu Dhabi, conquistou seu segundo título mundial de Fórmula 1, num ano mágico para a estrela de três pontas de Stuttgart e para o piloto – o segundo inglês após Graham Hill a conquistar dois títulos. Vale observar que Jackie Stewart, dono de três campeonatos e Jim Clark, que também venceu duas vezes, são escoceses. E nunca um piloto na história demorou tanto a ser bicampeão: passaram-se seis anos desde a primeira conquista de Lewis, em 2008, quando ainda era piloto da McLaren.

No entanto, ninguém mais do que ele merecia a vitória e o título neste domingo. Hamilton foi o maior vencedor do ano: com o triunfo na corrida disputada no circuito de Yas Marina, chegou ao 11º em 19 corridas – seis, nas últimas sete provas, é bom lembrar, quando todos já davam como favas contadas o título em favor de Rosberg. E com isso, a Mercedes-Benz, que não era campeã desde o longínquo ano de 1955, bateu o recorde de vitórias da McLaren, que em 1988 vencera 15 corridas – a Ferrari também alcançou o mesmo número em 2002 e 2004, verdade seja dita. A decisão teve início na largada, quando o pole Rosberg dormiu no ponto e Hamilton arrancou para a ponta. Depois, mesmo com as pontuais lideranças de Felipe Massa, Lewis somente administrou. Tinha carro de sobra para vencer a corrida e assim o fez.

Em nenhum momento, Rosberg pôde impedir a vitória e o título do rival e companheiro de equipe

Rosberg, que teve problemas no ERS, o motor elétrico auxiliar do propulsor alemão V6 turbo, foi um vice-campeão muito digno. Mesmo após os problemas sérios que o fizeram perder potência e rendimento, ficou na pista até o fim. Acabou em 14º lugar, foi consolado pelo diretor técnico Paddy Lowe com algo do tipo “ano que vem você tenta de novo” e no parque fechado, reconheceu a conquista de Hamilton, com quem teve desentendimentos ao longo do ano. O abraço entre os dois protagonistas do campeonato selou temporariamente a paz no seio da equipe de Brackley. E Rosberg é, sim, um potencial candidato ao título no próximo ano. Por que não?

Tirante isso, foi uma corrida apenas mediana numa pista, ou melhor, Tilkódromo, sem alma e coração. Afora a Mercedes e o título de Hamilton, destaque para a dupla da Williams, que levou o time britânico ao primeiro pódio duplo desde Mônaco-2005, quando Nick Heidfeld foi 2º na ocasião e Mark Webber 3º colocado. Felipe Massa chegou ao melhor resultado dele no ano e Valtteri Bottas, com a terceira colocação, completou o ano num excelente quarto lugar. Mas é preciso que se esclareça algumas coisas.

Felipe tinha condições de ganhar? Talvez. Se a Williams não tivesse errado na estratégia, isso pudesse ter acontecido. Mas o danado do pneu supermacio não tem rendimento uniforme. Dura seis ou sete voltas de desempenho excelente e nas demais, cai a performance. E Lewis ADMINISTRAVA sua primeira posição e seu título diante dos problemas que Rosberg enfrentava e Hamilton sabia muito bem deles, já que certamente foi informado pelo rádio a respeito. E por isso, talvez soe incompreensível o discurso do narrador da emissora oficial, exaltando o 2º lugar de Massa – que, reconheço, foi muito bom. Mas não a ponto de ser tão extraordinário assim.

Aliás, vamos e venhamos: o referido narrador foi um monstro quando NARRAVA corridas nos anos 80/90. Com o tempo, ainda teve momentos brilhantes, mas ficou insuportável de acompanhar. Com essa necessidade de supervalorizar o que faz o Massa, aí complica. O telespectador não é idiota e quem acompanhou a temporada inteira viu quem chegou à frente na pontuação. É tudo uma questão de semântica: Bottas fez 186 pontos, cinco pódios e dois segundos lugares. Massa somou 134 pontos, chegou três vezes entre os três primeiros e seu melhor resultado foi hoje. Quem andou mais em 2014 com a Williams, afinal?

E o que dizer deste monstro chamado Daniel Ricciardo? Largou do box com sua Red Bull após a desclassificação no treino oficial e fez uma corrida monumental. Chegou em 4º e sacramentou o terceiro posto no campeonato, em que conquistou três vitórias e foi o único não-Mercedes a vencer, num ano em que os alemães inclusive cravaram todas as poles com seus motores, igualando o recorde da Cosworth em 1969. Merecidamente, um dos melhores pilotos do ano. Já Vettel terminou sua trajetória na equipe rubrotaurina com um apagado 8º lugar, mais apagado que vela em candeeiro. E vai para uma Ferrari de triste desempenho em Abu Dhabi, com Alonso em nono e Räikkönen em décimo. Será que Vettel sabe realmente onde está se enfiando?

De resto, um 5º lugar muito honroso para Jenson Button, naquela que pode ter sido a última corrida do campeão de 2009 na Fórmula 1 – mas isto, só saberemos mesmo em 1º de dezembro quando a McLaren anunciar seus dois pilotos titulares para 2015. E a Force India voltou enfim a ter desempenho decente, com o 6º posto de Hülkenberg e a sétima colocação de Sergio Perez – os dois, já renovados para a próxima temporada, fecharam o top 10 de um campeonato de domínio tecnológico alemão, mas de talento puramente inglês.

Com a Union Jack na mão: a merecida comemoração num ano em que os pilotos da Comunidade Britânica conquistaram alguns dos principais títulos do automobilismo mundial

Aliás, o Commonwealth comemora: um inglês campeão na F-1, outro na GP2 (Jolyon Palmer) e mais um na GP3 (Alex Lynn). Ainda houve o australiano Will Power campeão na Fórmula Indy, Anthony Davidson (mais um britânico) campeão no FIA WEC e Earl Bamber, que é da Nova Zelândia, faturando a Porsche Supercup.

God Save The Queen!