A Mil por Hora
Discos eternos

Discos eternos – Feelings (1975)

RIO DE JANEIRO – Houve uma época dentro da música brasileira que, para se fazer sucesso e aparecer preferencialmente em trilhas de novelas, era preciso cantar em inglês. Foi o fenômeno chamado Made in Brazil, em que Jessé virou Tony Stevens, Hélio Costa Manso tornou-se Steve Maclean, Dudu França era Dave D. Robinson e até […]

Morris Albert - Feelings FRONT

RIO DE JANEIRO – Houve uma época dentro da música brasileira que, para se fazer sucesso e aparecer preferencialmente em trilhas de novelas, era preciso cantar em inglês. Foi o fenômeno chamado Made in Brazil, em que Jessé virou Tony Stevens, Hélio Costa Manso tornou-se Steve Maclean, Dudu França era Dave D. Robinson e até Fábio Júnior entrou na onda para se converter em Mark Davis. Um dos únicos que não precisou mudar de nome para fazer sucesso foi Chrystian, aquele mesmo que faria dupla sertaneja com Ralf e seria marido da Gretchen. Mas isso é outra história.

Rock em português? Nem pensar! Os únicos que tinham coragem eram Raul Seixas, Rita Lee, Mutantes, O Terço, A Bolha, Moto Perpétuo, Vímana e outros daqueles tempos. Para a rapaziada do Sunday, do Lee Jackson, dos Pholhas e do Light Reflections, o negócio era cantar em inglês – mesmo que algumas letras saíssem de apostilas do idioma.

Dentro desse universo do Made in Brazil, ninguém fez mais sucesso, ninguém foi mais falado e discutido quanto Maurício Alberto Kaisermann. Ou melhor: Morris Albert.

Nascido em São Paulo no ano de 1951, Maurício (ou Morris, como queiram) começou sua carreira artística como cantor e violonista em diversos conjuntos, até chegar o ano de 1974, que marcou uma guinada em sua vida. Na ocasião, com 23 anos, ele gravou a música “Feelings”, que entrou na trilha sonora internacional da novela Corrida do Ouro, da Rede Globo.

Foi um estouro. O compacto distribuído pela gravadora Beverly no Brasil vendeu como água e o selo tinha um acordo de distribuição internacional com a United Artists, que achou a canção fraca comercialmente. “Feelings” passou às mãos da RCA-Victor e a carreira de Morris Albert decolou a partir do lançamento de seu primeiro disco pela gravadora, em 1975.

Como efeito, a música chegou ao 45º lugar do Hot 100 da Billboard, a prestigiosa parada de sucessos dos EUA, sendo que durante semanas, “Feelings” figurou em sexto lugar. A música também foi sucesso na Europa e na América Latina, sendo conhecida no México e demais países do continente pelo título de “Sentimientos”. Também rendeu a Morris um disco de ouro.

A consagração veio com as indicações ao Grammy no ano de 1976, nas categorias “Música do Ano”, “Melhor Artista Pop” e “Revelação”. E Morris Albert provou que não se resumia apenas a “Feelings”. Gravou uma belíssima balada, “Leave Me”, semelhante ao seu primeiro grande sucesso, em 1975. Lançou as lindíssimas “Conversation” em 1977 e “She’s My Girl” em 1978. E teve gravada, ainda, a sua “Gonna Love You More” por ninguém menos que George Benson, em 1979.

A história de “Feelings”, entretanto, foi sombreada por um fato que maculou a carreira de Morris Albert. Em 1977, o compositor francês Loulou Gasté, nascido em 1908, acusou Morris de plágio. Sua canção “Pour Toi”, de 1957, foi a ‘inspiração’ para “Feelings”. E não há como dizer o contrário, tanto que o brasileiro perdeu na justiça o processo após onze anos, sendo obrigado a pagar 7/8 dos royalties de sua canção – um prejuízo de mais de US$ 3 milhões. O oitavo restante fica para Morris Albert por “contribuição” às letras. Gasté morreu em 1995 e Morris, hoje com 63 anos, chegou a morar muito tempo na Itália mas depois voltou para São Paulo e desde 2011 está no Canadá, onde dirige um estúdio de gravação.

Ficha técnica de Feelings
Selo: BMG/RCA-Victor
Gravado em 1974
Tempo: 36’38”

Músicas:

1. Woman
2. Sweet Loving Man
3. Gipsy
4. Come To My Life
5. This World Today Is A Mess
6. Falling Tears
7. Feelings
8. Ways Of Fire/Boombamakaoo
9. Where Is The Love Of The World
10. Christine
11. Gotta Go Home
12. Gonna Love You More