A Mil por Hora
Fórmula 1

Vettel arriva molto bene

RIO DE JANEIRO – Sim, é cedo para nos empolgarmos. Principalmente depois de uma corrida como a da abertura, em que a F1 foi mais F1 da Depressão do que nunca. Mas nada como um GP após o outro e aí a velha paixão volta à tona. Principalmente depois do que se viu no circuito […]

2015329827828_467995294_II
Vettel, logo em sua segunda corrida pela Ferrari, ganhou na Malásia. É bom lembrar que outro alemão campeão, Michael Schumacher, demorou sete GPs para ganhar a primeira com os carros de Maranello…

RIO DE JANEIRO – Sim, é cedo para nos empolgarmos. Principalmente depois de uma corrida como a da abertura, em que a F1 foi mais F1 da Depressão do que nunca. Mas nada como um GP após o outro e aí a velha paixão volta à tona. Principalmente depois do que se viu no circuito de Sepang: a Ferrari de volta ao topo do pódio, o que não acontecia desde 2013. E com Sebastian Vettel, ganhando pela primeira vez em um carro que não tivesse o escudo símbolo da Red Bull em sua carenagem. Conquista pra lá de histórica, emocionada e comemorada não só pelo piloto como também pelo novo chefe de equipe, Maurizio Arrivabene, que cantou o hino da Itália a plenos pulmões no pódio. E vai faltar bebida na noite malaia, porque Vettel, empolgado, prometeu ficar “bebaço”. Já pensaram?

A noite malaia vai ser pequena para a alegria de Vettel, contrastando com o inconformismo de Lewis Hamilton

A vitória da Ferrari, que representa também o fim de 34 corridas de vitórias apenas de Mercedes e Red Bull no período mais recente da história, coloca um pouco mais de tempero numa temporada que se antevia dominada de cabo a rabo pela Mercedes-Benz, pelo que a pré-temporada e o GP da Austrália nos mostraram. Mas o que Nico Rosberg desejara após a primeira corrida do ano aconteceu – e com requintes de crueldade contra a turma de Stuttgart. Proporcionalmente ao brilhantismo de Vettel na pista e também da turma de Maranello com relação às estratégias, os alemães da estrela de três pontas erraram tudo.

Quatro eventos foram decisivos: para começar, o erro idiota de Marcus Ericsson ao sair da trajetória no começo da quarta volta com sua Sauber, provocando a entrada do Safety Car e a consequente entrada dos dois pilotos da Mercedes nos boxes. Não obstante, enquanto Vettel disparava na ponta após a relargada – sem ter parado nos boxes, diga-se – Hamilton e Rosberg tiveram que perder tempo em ultrapassagens contra adversários que também não pararam e tinham um ritmo diferente com pneus usados.

Depois, Vettel conseguiu retornar de um pit stop à frente de Rosberg e a Mercedes, que tinha em mente parar apenas duas vezes (tarefa difícil em razão do fortíssimo calor em Sepang) errou de novo quando pôs pneus mais duros no carro de Hamilton, quando poderia ter arriscado montar os compostos médios, ainda que usados, o que poderia permitir ao britânico lutar mais perto de Vettel pela vitória. Lewis chegará ao GP da China ainda como líder do campeonato com 43 pontos, mas com uma incômoda sombra vermelha a persegui-lo.

Registre-se que Kimi Räikkönen também fez uma corrida excelente, considerando as circunstâncias: um pneu furado logo no início da segunda volta o mandou para os boxes e ele regressou à pista em penúltimo. Com o ritmo consistente e forte que o Iceman imprimiu, não seria heresia nenhuma dizer que, caso não tivesse existido o evento do furo, o finlandês poderia ter chegado ao pódio em vez de Rosberg.

Para a Williams, que apostava ser a segunda força do ano, a vitória ferrarista e o ótimo desempenho dos carros vermelhos em Sepang representou um duro golpe. Logicamente, Felipe Massa não gostou. E muito menos quando perdeu o 5º lugar para Valtteri Bottas na penúltima volta, numa disputa dura e limpa entre os companheiros de equipe. Muito diferente do “Bottas is faster than you” do ano passado.

Nas hostes de Dietrich Mateschitz e Christian Horner, o ambiente não deve ser dos melhores, para dizer o mínimo. Aliás, vivemos para ver a filial Toro Rosso dar um pau homérico na matriz Red Bull, que ironicamente ainda levou uma volta completa – com seus dois carros, é bom ressaltar – do mesmo Vettel que com os carros rubrotaurinos foi campeão por quatro anos consecutivos. Aí vem a pergunta Tostines: o carro era bom ou bom mesmo era o piloto?

A Toro Rosso, aliás, tem a dupla mais promissora do ano: Verstappinho e Carlinhos foram muito bem neste domingo e o filho do aloprado Jos “The Boss” Verstappen pontuou em sua segunda corrida na categoria com o 7º lugar. Para os compêndios, Max Verstappen torna-se o 330º piloto a terminar na zona de pontuação e também o mais jovem de sempre a alcançar este feito, com menos de 18 anos de idade – precisamente 17 anos, cinco meses, 29 dias.

De resto, vimos Felipe Nasr em 12º, um resultado bem diferente daquele da estreia na Austrália, mas de certo modo esperado. Não dá para dizer que não foi legal vê-lo nos pontos, mas a corrida de abertura do campeonato foi um tanto quanto atípica. Duro, mesmo, foi ouvir desculpas pelo seu desempenho, como o fato de Raffaele Marciello ter andado no FP1 (como se o brasileiro não tivesse feito isso em algumas corridas pela Williams, ano passado) e uma falha no diferencial que limitou seu desempenho nos treinos. A realidade da Sauber é bem diferente daquela de Melbourne e o torcedor terá que se acostumar com isso.

Esta é a expressão que melhor define o momento de Fernando Alonso, o homem certo das horas erradas

Por falar em realidade, será que Fernando Alonso já caiu em si? O espanhol pelo visto é o homem certo nas horas erradas. A Ferrari volta a vencer justamente após sua saída e a McLaren, outrora poderosa, sofre horrores com a falta de performance do MP4/30 com o motor Honda. Até que o ritmo de corrida, enquanto deu, foi honesto e o piloto chegou a figurar momentaneamente na zona de pontuação. Mas problemas técnicos levaram primeiro o asturiano e depois Jenson Button a nocaute. Deve ser dureza para Ron Dennis olhar o resultado final da corrida e ver que a Manor Marussia, ou Marussia Manor (desisti de tentar entender) chegou ao final da disputa com Roberto Mehri, ainda que em último.

Ainda sobre Alonso: se Hamilton tem motivos para não gostar da vitória de Vettel, assim como Felipe Massa, que dirá o bicampeão de 2005/2006. Faltou só uma câmera da transmissão do GP da Malásia, perto do piloto, mostrando sua reação diante de um triunfo que, contrariando as mais otimistas expectativas, parecia improvável. E Maurizio Arrivabene pode começar a preparar as pernas. “Se ganharmos quatro corridas, vou correndo a pé para Maranello”, prometeu, mesmo que em tom de brincadeira, há um mês atrás.

Faltam três, Maurizio. Faltam três…