A Mil por Hora
Mundial de Endurance

6h do Bahrein: em corrida dramática, trio do Porsche #17 é campeão do WEC

RIO DE JANEIRO – Uma temporada de oito corridas e 66 horas de disputa – incluindo sete eventos de 6h de duração, mais as 24h de Le Mans, só podia terminar como terminou neste sábado: com emoção e a imprevisibilidade que faz da Endurance uma das modalidades mais sensacionais do automobilismo em todos os tempos. […]

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Alívio e dever cumprido: Brendon Hartley, Mark Webber e Timo Bernhard são os novos campeões do Mundial de Endurance. E o australiano comprova que existe vida além da F1…

RIO DE JANEIRO – Uma temporada de oito corridas e 66 horas de disputa – incluindo sete eventos de 6h de duração, mais as 24h de Le Mans, só podia terminar como terminou neste sábado: com emoção e a imprevisibilidade que faz da Endurance uma das modalidades mais sensacionais do automobilismo em todos os tempos.

A edição de 2015 das 6h do Bahrein entra para a história não só pelas disputas épicas que tivemos a oportunidade de assistir, como também pela volta da Porsche ao topo das provas de longa duração. A marca alemã cacifou todas as conquistas que estavam ao seu alcance. Venceu as 24h de Le Mans, a principal prova da temporada do FIA WEC. Ganhou por antecipação o título do Mundial de Construtores, o 33º da turma de Weissach. E fez de Mark Webber/Brendon Hartley/Timo Bernhard os grandes campeões do Mundial de Pilotos na classe dos Protótipos – além, é claro, de faturar a etapa derradeira com o trio Marc Lieb/Neel Jani/Romain Dumas.

A corrida em si foi sensacional desde o início e já na primeira meia hora, um drama: o #17 perdeu velocidade com Timo Bernhard a bordo, tendo que recorrer aos boxes para reparos. O carro ficou parado cerca de oito minutos e perdeu cinco voltas em relação aos líderes. A partir daí, quem esteve a bordo do 919 Hybrid empreendeu uma recuperação sensacional que levou a trinca a galgar posições, a ponto de chegar entre os dez primeiros na 46ª volta.

Se o começo de prova foi terrível para os líderes do campeonato, foi bom demais para a Audi. E melhor ainda para Lucas Di Grassi, que a partir do 17º giro, assumiu a liderança da disputa, eventualmente perdendo-a para o Porsche #18. Mas o brasileiro teve que obedecer a ordens de equipe e na 76ª passagem, o carro #7, dos grandes rivais do trio do #17, os campeões de 2012 Marcel Fässler/Bénoit Tréluyer/Andre Lotterer, assumiu a liderança.

O #8 resistiu bem até enfrentar um problema de freios, o que impossibilitou a Audi de contar com seus dois carros na luta para manter a trinca do #7 com chances de ser campeã. Na situação em que a corrida se encontrava na altura da volta 90, por exemplo, os quatrargólicos lideravam e o Porsche #17, mesmo em recuperação feroz, não passava do 6º lugar – o que dava o título à trinca Fässler/Tréluyer/Lotterer. Com o problema do carro de Jarvis/Duval/Di Grassi, a quinta posição passou aos líderes do campeonato e logo depois, entrou em ação o carro #18 com Marc Lieb a bordo.

Épica! A batalha entre o Porsche de Marc Lieb (em primeiro plano) e o Audi de Bénoit Tréluyer foi um dos pontos altos da corrida. Depois que o #18 prevaleceu, veio a vitória na última prova do ano

A batalha titânica entre o alemão da Porsche e Tréluyer no Audi #7 valeu o ingresso e foi um dos pontos altos da corrida. Tréluyer, como observou o Renan do Couto nas redes sociais, mostrou colhões, mas Lieb se impôs, abriu e sumiu. Depois, o Audi #7 também passou a ter problemas de freios e perdeu o contato com o Porsche líder. Nessa situação, o #17 poderia seguir tranquilamente em quinto que o título era dos pilotos da casa de Weissach.

Mas qual o quê! A corrida estava longe de ser tranquila para Bernhard, Hartley e principalmente para Mark Webber. Foi com o australiano a bordo que o 919 Hybrid voltou a apresentar uma falha mecânica que o levou novamente para as garagens em Sakhir. O sistema híbrido do bólido não funcionava mais e o problema não foi totalmente resolvido – mas a Porsche resolveu mandar o #17 de volta à pista assim mesmo e correr o risco. O #8 eventualmente poderia passar o carro do construtor rival e ganhar a quinta posição, mas perto do fim esse carro acabou punido por uma irregularidade e perdeu 3 minutos num stop & go que o levou a ficar onze voltas atrás dos vencedores.

Um pódio honroso para Alexander Wurz (ao centro) em sua despedida oficial do automobilismo após 22 anos nas pistas

Após 199 voltas, Dumas/Jani/Lieb conseguiram enfim a primeira vitória da trinca em 2015 e a segunda deles no FIA WEC depois (coincidentemente) de ganharem a etapa de encerramento do ano passado, as 6h de São Paulo, em Interlagos. Fässler/Lotterer/Tréluyer conquistaram assim o vice-campeonato pelo terceiro ano consecutivo e o terceiro lugar no pódio marcou a honrosa e digna despedida de Alexander Wurz das pistas. O austríaco e seus companheiros Stéphane Sarrazin e Mike Conway conquistaram o melhor resultado do Toyota #2 no ano, igualando o pódio de Buemi/Davidson/Nakajima na abertura da temporada, em Silverstone.

Entre os LMP1 não-oficiais, chegou à frente o que teve menos problemas ao longo da disputa. Alexandre Imperatori/Dominik Kraihamer/Mathéo Tuscher completaram a disputa em 11º na geral, seguidos pelo CLM P1/01 AER da ByKolles com Pierre Kaffer/Simon Trummer. Mas o título simbólico dos pilotos das equipes privadas ficou com Mathias Beche/Nicolas Prost, que sobreviveram para chegar na décima-quarta colocação.

Em grande estilo: dessa vez a G-Drive não marcou bobeira e foi campeã na LMP2 com Roman Rusinov/Julien Canal/Sam Bird

Na classe LMP2, a vitória e o título finalmente chegaram às mãos da G-Drive Racing. A equipe francesa com suporte do grupo russo Gazprom levou a melhor após uma batalha titânica contra o Oreca 05 Coupé da KCMG Racing não só na prova barenita como também ao longo de todo o campeonato. Roman Rusinov/Julien Canal/Sam Bird terminaram em 7º lugar na geral, com 183 voltas concluídas e pouco mais de 25 segundos na frente dos rivais. A vitória deixou a trinca campeã com 23 pontos à frente de Matt Howson e Richard Bradley – que ficaram com o vice, já que Nick Tandy não fez todas as provas pela equipe na divisão, disputando Spa e Le Mans (que venceu, é bom lembrar) com a Porsche.

O terceiro lugar no pódio foi conquistado no finalzinho pelo segundo Ligier JS P2 Nissan da G-Drive, que contou com tripulação 100% latino-americana. Em seu ano de estreia no WEC, Pipo Derani fez um excelente trabalho ao conquistar sete pódios nas oito corridas do calendário, com direito à pontuação máxima nas 6h de Spa-Francorchamps – em que pese a vitória na pista ter sido do protótipo da Jota Sport. Com isso, Derani e seus parceiros Ricardo González e Gustavo Yacamán encerraram a temporada com o 3º lugar na classificação, somando 134 pontos.

Além da Signatech-Alpine, que fez boa prova e chegou em quarto com Nelson Panciatici/Tom Dillmann/Paul-Loup Chatin, destaque para o bom quinto posto da trinca do BR01 Nissan da AF Racing. A equipe russa, que correu com esse nome no Bahrein para evitar sanções em razão do embargo dos EUA ao SMP Bank de Boris Rotemberg – como também em algumas provas do ELMS – deve fazer a temporada da LMP2 em sua totalidade no WEC em 2016 com pelo menos um carro.

Porsche 100% na LMGTE-PRO: a vitória de Pilet/Makowiecki deu aos alemães o título de Construtores contra a Ferrari. E Richard Lietz levou o título entre os pilotos

Voltando a falar de Porsche, a marca alemã não foi triunfante apenas e tão somente na LMP1 nesta edição das 6h do Bahrein. A turma de Weissach, com a luxuosa assessoria técnica de Olaf Manthey e sua equipe, conquistou o título mundial de Construtores da LMGTE, graças à vitória da dupla Fred Makowiecki/Patrick Pilet no último evento do campeonato, após uma luta árdua contra as Ferrari F458 Italia GTE da AF Corse. E mesmo terminando a prova em 5º, o título ficou com o austríaco Richard Lietz, por 14,5 pontos sobre Gianmaria Bruni/Toni Vilander.

O brasileiro Fernando Rees e seus parceiros Richie Stanaway e Alex MacDowall foram prejudicados por um stop & go que acabaram obrigados a pagar por ter estourado o uso de cinco sets de pneus novos durante os treinos livres e a classificação. Acabaram caindo para a última posição na pista e na categoria – e por lá ficaram. Completaram a prova num esquálido 25º lugar para fechar o FIA WEC em 7º lugar com 84 pontos. Restou a Fernando o gostinho da primeira e histórica vitória na categoria, em Spa-Francorchamps.

E na LMGTE-AM, o triunfo final foi do Aston Martin de Pedro Lamy/Mathias Lauda/Paul Dalla Lana, seguidos dos dois Porsche 991 RSR – primeiro o de Marco Mapelli/Klaus Bachler/Khaled Al Qubaisi e depois o de Patrick Long/Marco Seefried/Christian Ried. Mas o 5º lugar na divisão bastou para a festa da SMP Racing: Viktor Shaitar/Aleksej Basov/Andrea Bertolini levaram o título entre os pilotos da categoria, com 17 pontos a mais que Emmanuel Collard/François Perrodo.

Que pena…. acabou o WEC em 2015 e eu já estou com saudades. Mas o blog vai ficar de olho em tudo da pré-temporada e o campeonato do próximo ano começa de novo em abril, com as 6h de Silverstone.