A Mil por Hora
Mundial de Endurance

Di Grassi conquista vitória histórica no WEC

RIO DE JANEIRO – Havia 29 anos um piloto brasileiro não ganhava qualquer prova do Mundial de Endurance. O último foi Raul Boesel, consagrado campeão entre os pilotos em 1987. Coincidentemente, o triunfo fora em Spa-Francorchamps. E foi na pista da Bélgica, uma das mais celebradas do automobilismo mundial, que Lucas Di Grassi finalmente quebrou […]

WEC Spa 2016
Momento histórico: 29 anos após o título mundial de Raul Boesel, Lucas Di Grassi coloca novamente o Brasil no topo do pódio numa prova do Mundial de Endurance (Foto: P1 Media Relations/Divulgação)

RIO DE JANEIRO – Havia 29 anos um piloto brasileiro não ganhava qualquer prova do Mundial de Endurance. O último foi Raul Boesel, consagrado campeão entre os pilotos em 1987. Coincidentemente, o triunfo fora em Spa-Francorchamps. E foi na pista da Bélgica, uma das mais celebradas do automobilismo mundial, que Lucas Di Grassi finalmente quebrou um incômodo tabu e conquistou seu primeiro triunfo no FIA WEC.

As 6h de Spa-Francorchamps disputadas hoje com sol, tempo bom e excelente público (56 mil espectadores), foram as melhores desde que o WEC foi implantado em 2012. Uma corrida espetacular da bandeira verde até a última volta, digna das maiores tradições da Endurance, com todos os ingredientes. Rodadas, batidas, ultrapassagens, enfim… um espetáculo.

A Porsche fez a pole position e começou muito bem com seus dois carros liderando o pelotão no início da disputa. Mas o #2 teve problemas com o sistema híbrido e o #1 dos campeões Brendon Hartley/Mark Webber/Timo Bernhard enfrentou uma falha no drive train, que fez o Fuscão se atrasar a ponto de não conseguir mais se recuperar. A Toyota optou por uma estratégia diferenciada: não trocou de pneus no primeiro stint e o #5 conquistou uma sólida liderança primeiro com Sébastien Buemi (depois de uma luta férrea com o rival de Fórmula E Lucas Di Grassi) e depois com Anthony Davidson a bordo. O #6 guiado por Mike Conway bateu num LMP2 e levou um drive through.

Quando os japoneses caminhavam para a primeira vitória desde o WEC de 2014, quando foram campeões, o #5 foi à nocaute com problemas mecânicos. Não obstante, além dos problemas crônicos de drive train do #1 da Porsche, o Audi #7 também se atrasou pela troca do assoalho – perdendo cinco voltas – e se envolveu em dois acidentes, ambos com protótipos LMP2. A liderança caiu no colo do Audi #8 e permaneceu com Lucas, Jarvis e Duval até o final da disputa.

Incrível: dois pódios e vice-liderança geral na classificação do Mundial de Endurance para Mathéo Tuscher/Dodo Kraihamer/Alexandre Imperatori, com o #13 da Rebellion Racing

O 2º lugar não foi de todo ruim para Neel Jani/Marc Lieb/Romain Dumas, pois a trinca vencedora nas 6h de Silverstone mantém a liderança do campeonato com 43 pontos. Surpresa – de novo – foi o segundo pódio consecutivo do trio do #13 da Rebellion Racing – Mathéo Tuscher/Alexandre Imperatori/Dodo Kraihamer terminaram em terceiro novamente, resultado que deixou a trinca na vice-liderança GERAL do WEC com 32 pontos. Mais início de sonho, impossível.

Subindo a lendária Eau Rouge: Nelsinho Piquet repetiu nas 6h de Spa o resultado da prova de abertura em Silverstone (Foto: Piquet Sports/Divulgação)

Nelsinho Piquet foi de novo aos pontos com seus parceiros Nicolas Prost e Nick Heidfeld: o brasileiro e seus parceiros chegaram em 4º lugar, com 155 voltas completadas. A trinca acabou prejudicada pelos períodos de Full Course Yellow e por isso não puderam discutir a vitória entre os protótipos não-oficiais com os colegas de time. O resultado deixou a trinca do #12 em 4º lugar no Mundial de Pilotos com 24 pontos, um a menos que Jarvis/Duval/Di Grassi.

Apesar dos percalços, a trinca Fässler/Lotterer/Tréluyer conseguiu ainda a 5ª posição geral, somando dez importantes pontos no campeonato. A ByKolles Racing foi ao pódio entre os LMP1 não oficiais, com direito dessa vez ao melhor resultado da trajetória do time de Greding. Mesmo com alguns percalços ao longo da disputa, Oliver Webb/James Rossiter/Simon Trummer conquistaram a sexta colocação. O Toyota #5 e o Porsche #1 voltaram nos minutos finais para salvar alguns pontos e conseguiram.

Na LMP2, a disputa pela vitória foi até o final e terminou de forma fantástica para a Signatech-Alpine. Com um passão espetacular em cima de Pipo Derani, Nicolas Lapierre conseguiu a ponta e levou o #36 do time de Philippe Sinault à primeira vitória no WEC em sua categoria. O francês e seus companheiros Gustavo Menezes e Stéphane Richelmi completaram a prova em 7º lugar na geral. Derani e seus parceiros Chris Cumming e Ryan Dalziel acabaram vendo escapar a vitória – mas o brasileiro conquistou seu segundo pódio com a Tequila Patrón ESM no Mundial – quarto em sua trajetória pela escuderia.

Pódio perdido na última volta para o #43 da RGR Sport by Morand: Bruno Senna ficou em quarto na LMP2 em Spa (Foto: Vision Sport Agency/RGR Sport by Morand/Divulgação)

Bruno Senna e seus parceiros Filipe Albuquerque e Ricardo González, que venceram na prova de estreia em Silverstone, perderam o pódio nos instantes finais: o carro #43 da RGR Sport by Morand acabou suplantado pelo #45 da Manor, que fez ótima prova e sempre andou entre os primeiros, numa performance sólida de Roberto Mehri/Matt Rao/Richard Bradley – no primeiro pódio da curta trajetória do time na competição. Mesmo assim, a trinca latina continua na liderança da categoria, com 37 pontos somados em duas corridas. Pole position nos treinos, o Oreca #26 da G-Drive Racing teve dois pneus furados no correr da prova e acabou em 5º lugar.

Duas corridas, duas vitórias: 100% para a nova 488 GTE e para Sam Bird/Davide Rigon na LMGTE-PRO

A LMGTE-PRO viu de tudo em Spa. Um capote insólito do #95 de Marco Sørensen/Nicki Thiim/Darren Turner num contato com o #38 da G-Drive Racing, uma pancada violentíssima do Ford GT #66 da Chip Ganassi Racing UK  que tinha Stefan Mücke a bordo, em plena Eau Rouge (felizmente o piloto foi conduzido ao Centro Médico do circuito sem maiores problemas físicos) e o problema da Ferrari 488 GTE de Gimmi Bruni/James Calado, que tirou a dupla da AF Corse da corrida a nove minutos da quadriculada. Pecado…

Mas os italianos não têm do que se queixar. Pelo contrário: foi a 2ª vitória de Sam Bird/Davide Rigon na temporada, fazendo a dupla do #71 disparar na liderança da classificação entre os pilotos de Grã-Turismo. O Ford GT #67 de Marino Franchitti/Andy Priaulx/Harry Tincknell alcançou o segundo posto e o #97 de Fernando Rees/Jonathan Adam/Richie Stanaway ficou em 3º lugar, amenizando o problema mecânico enfrentado nas 6h de Silverstone. Dos sete carros da divisão, somente quatro terminaram – Richard Lietz/Michael Christensen conquistaram o último lugar entre os que terminaram na classe com o Porsche 991 RSR da Dempsey Racing-Proton.

A Aston Martin deu o troco na Ferrari na LMGTE-AM, conquistando em Spa o que não veio em Silverstone: a vitória foi do #98 de Pedro Lamy/Paul Dalla Lana/Matthias Lauda, que completou a prova em 19º na geral com 140 voltas percorridas. De novo, três marcas diferentes ficaram nas três primeiras posições, com a Ferrari de François Perrodo/Rui Águas/Emmanuel Collard em 2º lugar e o Corvette de Yutaka Yamagishi/Pierre Ragues/Paolo Ruberti completou o pódio da divisão.

Uma grande corrida. Espetacular. Lamento – muito, mesmo – por quem tem antolhos feito os cavalos do jóquei e só enxerga a Fórmula 1. O WEC é SENSACIONAL.

E se as duas primeiras provas do Mundial foram assim, imaginem só as 24h de Le Mans…