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Mundial de Endurance

WEC: Porsche e trinca campeã mundial vencem a imprevisível 6h do México

RIO DE JANEIRO – Vinte e cinco anos após a última passagem de um certame mundial de Endurance pelo México, os fãs de automobilismo daquele país foram brindados com uma prova de tirar o fôlego neste sábado. A 5ª etapa do FIA WEC, mais uma vez transmitida ao vivo e na íntegra pelo Fox Sports […]

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Festa dos atuais campeões: numa corrida difícil e emocionante, a Porsche e o trio Brendon Hartley/Timo Bernhard/Mark Webber fatura mais uma no WEC (Foto: Ade Holnbrook/AdrenalMedia.com)

RIO DE JANEIRO – Vinte e cinco anos após a última passagem de um certame mundial de Endurance pelo México, os fãs de automobilismo daquele país foram brindados com uma prova de tirar o fôlego neste sábado. A 5ª etapa do FIA WEC, mais uma vez transmitida ao vivo e na íntegra pelo Fox Sports 2, foi eletrizante do primeiro até o último instante. Não só pelas características da pista, que permitiram um intenso tráfego o tempo inteiro, como também por conta da chuva, que por duas vezes surgiu e mexeu com o panorama de toda a disputa.

A Audi esteve forte no início, tinha um de seus protótipos na pole position e dominou a fase inicial das 6h do México. Mas quem riu por último, pela quarta vez na temporada, foi a Porsche: o carro #1 de Brendon Hartley, Mark Webber e Timo Bernhard, a trinca atual campeã mundial de pilotos, sobreviveu a uma pista traiçoeira e também a um drive through aplicado pela direção de prova – por conta de um erro de comunicação do time antes de um pit stop de rotina.

Para o trio, foi a sexta vitória no Mundial e a segunda consecutiva, representando um novo fôlego no campeonato de 2016. Webber e cia. limitada tinham apenas 3,5 pontos somados após as 24h de Le Mans. Os dois triunfos consecutivos fizeram os pilotos da casa alemã chegar ao 5º lugar do campeonato. Com 104 pontos por disputar, faltando quatro provas, ainda há muita coisa em jogo.

O principal adversário da casa de Stuttgart, no início, foi o Audi #8 de Lucas Di Grassi, Loïc Duval e Oliver Jarvis. Mas antes, houve uma luta doméstica – e titânica – pela liderança, entre o brasileiro que largou da pole position e o companheiro de equipe Andre Lotterer, que guiava o carro #7. Quando Lotterer ficou para trás, queixando-se de um composto de pneu que não tinha bom desempenho, Di Grassi assumiu a liderança e por lá ficou até a altura da 39ª volta. Um contato entre dois protótipos da LMP2 fez Lucas tirar o pé e Mark Webber, que vinha em perseguição ao adversário, assumiu a ponta.

A Porsche comandou a prova a partir daí e, eventualmente, nos pits de rotina, a liderança do #1 era substituída por outros adversários. Mas a chuva, prevista para começar às 17h locais, quando a corrida estaria na altura de 3h30min, custou, mas chegou. E quando chegou, mexeu definitivamente com o panorama da prova.

Sabedora da deficiência de seu carro no molhado, a turma de Stuttgart montou pneus de chuva em seus protótipos. A Toyota fez o mesmo. Mas a Audi fez a melhor escolha: montou pneus slick/inter, um composto que a Michelin desenvolveu para ser usado a partir deste ano. Sem perder desempenho, esse pneu absorve bem a água em condições como a do asfalto do Hermanos Rodríguez.

Pole position, o Audi #8 do brasileiro Lucas Di Grassi teve ótimo desempenho no início, mas enfrentou uma queda de performance e depois um acidente selou o destino da trinca, tirando qualquer possibilidade de uma boa pontuação (Foto: Audi Sport/Divulgação)

Mas o que a Audi não contava é que o carro #8, após sua troca, sofresse um acidente com Oliver Jarvis a bordo, após uma performance abaixo do esperado de Loïc Duval, que assumira o volante após um duplo stint de Lucas Di Grassi. A princípio, pareceu que o freio tinha falhado, o que ocasionou a rodada e a posterior batida do Audi no fim da reta dos boxes. Mas foi um rolamento de roda que quebrou, provocando o acidente.

“Entreguei o carro na primeira posição, e depois disso as coisas começaram a andar para trás. Saio do México bastante frustrado – e não é a primeira vez – por ter tido a chance de vencer e ter de abdicar disso em função de problemas com o carro. Ficamos devendo para o ano que vem”, comentou Di Grassi.

“Pelo menos pudemos mostrar que a Audi tem sim condições de brigar com a Porsche e de buscar vitórias. Vamos para Austin agora sempre buscando ganhar as corridas, porque agora a luta pelo título ficou ainda mais difícil para nós. A questão é tentar vencer o maior número possível de provas”, concluiu o brasileiro, que retorna à Europa com destino à Inglaterra para a bateria final de três dias de testes da Fórmula E, a se iniciar nesta segunda-feira.

Sem ter muito o que fazer após a forte pancada no muro, Jarvis levou o #8 para o demorado conserto e depois o carro voltou à garagem, com mais problemas – inclusive de parte hidráulica. Acabaram completando a prova para marcar pelo menos mais 0,5 ponto no campeonato: terminaram em 27º – último entre os que receberam a quadriculada, com 167 voltas completadas.

O outro Audi que restou na pista ainda lutou com as forças que tinha para tentar derrotar o Porsche líder. Andre Lotterer guiou muito no piso traiçoeiro do México e foi um dos grandes nomes da corrida. Mas o alemão se excedeu na tentativa de aproximação e saiu da pista, perdendo 20 segundos num leve toque no muro. Foi fatal: não fosse por isso, talvez ele e Marcel Fässler, que correram em dupla mais uma vez, tivessem vencido.

E quase que a vitória do #1 também escorre pelo ralo: num erro de Timo Bernhard, traído pelo piso molhado após seguir na pista com pneus slicks, por pouco o líder da prova não bateu no muro da última curva do circuito. Felizmente não houve consequências: o piloto alemão não tocou no muro, o Porsche não sofreu danos e o tempo perdido foi insuficiente para perder a dianteira – tanto que a margem foi de 1’01″442 após 230 voltas percorridas.

Quem também andou muito bem foi o Toyota #6, especialmente com Stéphane Sarrazin, outro que em condições adversas guiou uma enormidade. Da segunda metade para o fim da prova, o bólido do construtor nipônico cresceu muito após um início tímido – sem contar um drive through – e além de recuperar uma volta de atraso em relação ao líder, ainda chegou em 3º lugar e à frente do Porsche #2 de Romain Dumas, Neel Jani e Marc Lieb – que, em momento algum, pôde lutar mais à frente. O carro não tinha um bom balanço e estava nitidamente perdido na pista, com falta de aderência. Terminar foi importante porque a trinca permanece na liderança do Mundial com 118 pontos, contra 77 da trinca da Toyota que foi ao pódio.

Adversária, só a chuva: o Rebellion R-One de Alexandre Imperatori, Mathéo Tuscher e Dominik Kraihamer correu praticamente sozinho entre os LMP1 independentes e terminou em 5º na geral (Foto: Gabi Tomescu/AdrenalMedia.com)

Os LMP1 não-oficiais se destacaram pela excelente largada de Pierre Kaffer, que chegou a pular pra quinto a bordo do carro da ByKolles e de Alexandre Imperatori, que ficou de igual para igual com os dois Toyota. E só: em condições normais, os independentes não têm nenhuma condição de acompanhar o ritmo dos LMP1 híbridos e têm que contar com quebras e problemas. Como dois dos carros oficiais ficaram pelo caminho – além do Audi #8, o Toyota #5 teve problemas e abandonou – o #13 da Rebellion Racing conseguiu um ótimo 5º lugar geral, 12 voltas atrás. O CLM P1/01 da ByKolles também enfrentou alguns percalços e parou longamente nos boxes – mas voltou à disputa e terminou em 21º na geral.

Não faltou drama também na LMP2, em que três carros lutaram diretamente pela vitória desde o início. O domínio inicial foi de Bruno Senna, partindo da pole position com o Ligier JS P2 Nissan da equipe RGR Sport by Morand, que tinha a torcida local a seu favor. Eventualmente a ponta ficou com o Oreca 05 Nissan #26 da G-Drive Racing, que perseguia sua primeira vitória na temporada e com o carro dos líderes do campeonato, o Alpine A460 Nissan #36 da Signatech.

A chuva alterou todo o panorama da categoria e, não obstante, o #36 foi punido com um drive through por levar vantagem de forma indevida num pit stop e o #26, que liderava a pouco mais de meia hora para o final, enfrentou problemas graves com os freios dianteiros. René Rast precisou de uma parada extra nos boxes e perdeu não só a chance do triunfo, como também cinco voltas na garagem.

O português Filipe Albuquerque, que dirigia o #43 do time mexicano, controlou a pressão de Nicolas Lapierre e, mesmo com a volta da chuva no finalzinho, manteve a ponta até a quadriculada. Delírio da equipe RGR Sport by Morand e dos quase 40 mil presentes ao Hermanos Rodríguez. A missão do time de Ricardo Gonzalez, piloto e promotor das 6h do México estava cumprida e Bruno Senna saiu em êxtase do circuito.

Festa: Bruno Senna vibra com a vitória de sua equipe na prova caseira da RGR Sport by Morand (Foto: José Mário Dias/Divulgação)

“Fizemos barba, cabelo e bigode”, comemorou Bruno Senna ao descer do pódio em meio à comemoração da torcida mexicana. “Estamos muito felizes por vencer a corrida de casa e ver toda a alegria dessa gente. Mas as últimas voltas foram um sofrimento, todos no boxe com os olhos grudados na tevê”, acrescentou.

“Nosso primeiro pit stop não foi bom e perdemos 25 segundos. Depois, ainda houve um toque do Ricardo com outro carro (o Oreca da G-Drive Racing) e sofremos uma punição que não merecemos. Ainda bem que a equipe fez um grande trabalho neste fim de semana e o ritmo do carro estava muito bom”, disse. Com os resultados, Bruno e seus companheiros mantiveram a segunda colocação no campeonato de pilotos e reduziram a desvantagem para os ponteiros Menezes, Lapierre e Richelmi para 33 pontos – 130 a 97.

Quarto pódio: Pipo Derani e parceiros somam mais um bom resultado, em nova performance impressionante do brasileiro no FIA WEC (Foto: Tequila Patron ESM/Divulgação)

Quem também teve uma performance digna de destaque foi Pipo Derani: novamente o piloto da equipe Tequila Patrón ESM fez uma corrida de gente grande, se desdobrando para levar o Ligier JS P2 Nissan do time estadunidense após um início atribulado, especialmente com Chris Cumming a bordo do protótipo. O brasileiro e o escocês Ryan Dalziel trabalharam muito bem e colocaram o #31 em posição de pódio pela quarta vez em cinco corridas.

“Foi uma corrida difícil, com muitos toques no começo e acabamos caindo lá pra trás”, comentou o brasileiro.

“Mas é incrível termos conquistado o pódio, principalmente aqui no México, na casa da Patrón, que trouxe 735 convidados da fábrica e foi muito bacana dividir este resultado com todos eles”, continuou o piloto de 22 anos.

“Agora vamos continuar o nosso trabalho buscando evoluir mais. Tem sido um campeonato muito bom, apesar das dificuldades que temos enfrentado. Queria agradecer à equipe por todo o empenho e também dar os parabéns ao Ricardo, ao Bruno e ao Filipe, que fizeram um grande trabalho”, finalizou Derani, que correu no circuito mexicano pela primeira vez.

Bruno Junqueira fez uma estreia positiva no WEC, numa aparição on-off da Greaves Motorsport com o protótipo Gibson 015S Nissan: o piloto e seus companheiros Roberto Gonzalez (irmão do vencedor na LMP2 Ricardo Gonzalez) e Luis “Chapulín” Diaz conseguiram se recuperar da última posição da divisão no início da prova para um meritório 10º lugar na geral – quinto na classe LMP2. Contudo, a trinca do #41 não marcou pontos por não ser uma inscrição regular do Mundial de Endurance.

Mas, quem sabe, não foi plantada a semente para uma participação do brasileiro na categoria em 2017? Tomara que sim…

A Aston Martin Racing surpreendeu todo mundo e levou a vitória nas 6h do México na classe LMGTE-PRO (Foto: Gabi Tomescu/AdrenalMedia.com)

Na classe LMGTE-PRO, impressionante domínio da Aston Martin Racing: o Vantage V8 GTE dominou a prova mexicana de cabo a rabo e os pneus Dunlop estavam excelentes no piso seco. O rendimento dos carros britânicos só caiu quando choveu e a equipe oficial de fábrica só não fez a dobradinha porque o #95 bateu num erro de Nicki Thiim, que deixou o carro patinar na zebra molhada e rodou, tocando de traseira numa barreira. A vitória – primeira do ano – foi de Darren Turner e Richie Stanaway, com um total de 202 voltas que deu à dupla o 15º lugar geral.

De quebra, Turner assumiu a liderança do Mundial de Pilotos na classe Grã-Turismo com 86 pontos, três à frente de Nicki Thiim e Marco Sørensen – e o triunfo deu à Aston a liderança entre os construtores.

Apesar de um início discreto, a performance da AF Corse e das Ferrari 488 GTE cresceu na adversidade do piso molhado e o #51 de Gianmaria Bruni/James Calado se interpôs entre os carros da equipe chefiada por Paul Howarth, com Sam Bird e Davide Rigon em quarto. Com problemas, Olivier Pla e Stefan Mücke terminaram em 7º na classe e em penúltimo na geral – o resultado derrubou a dupla da equipe Chip Ganassi Racing UK da liderança da temporada.

Entre os LMGTE-AM que conseguiram sobreviver à uma das mais duras disputas do campeonato – o Corvette C7-R da Larbre Competition terminou no muro de proteção do trecho do estádio e o #98 não terminou, quebrando na última volta – o Porsche #88 de Patrick Long/Khaled Al Qubaisi/David Heinemeier-Hänsson, alinhado pela Abu Dhabi Racing-Proton, conheceu sua primeira vitória no ano, com uma volta de vantagem para os líderes do campeonato, Emmanuel Collard/Rui Águas/François Perrodo (Ferrari F458 Italia/AF Corse). Com o Porsche #78 da KCMG, Christian Ried/Wolf Henzler/Joël Camathias conquistaram o último lugar no pódio.

O WEC volta daqui a duas semanas com as 6h do COTA, em Austin, capital do Texas. Se a corrida do México já foi boa assim, imaginem a próxima: a largada será às 17h locais (19h de Brasília), com o encerramento da disputa à noite. No mesmo dia – 17 de setembro – também teremos a penúltima etapa do IMSA Weather Tech SportsCar Championship.