A Mil por Hora
Fórmula 3

Surpresos? Eu, nunca…

RIO DE JANEIRO – Para mim, que acompanho a Fórmula 3 na América do Sul desde que ela teve sua gênese via Fórmula 2 Sudam e muito antes aqui, quando tínhamos a Fórmula Super Vê e a Fórmula 2 Brasil, a categoria de monopostos – única a nível nacional que temos hoje – sempre foi […]

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A Fórmula 3 foi uma espécie de filho bastardo no guarda-chuva da Vicar. Sem o mínimo interesse, a categoria minguou e os promotores não a organizarão em 2017. Tomara que tudo se resolva… (Foto: Fernanda Freixosa/Vicar)

RIO DE JANEIRO – Para mim, que acompanho a Fórmula 3 na América do Sul desde que ela teve sua gênese via Fórmula 2 Sudam e muito antes aqui, quando tínhamos a Fórmula Super Vê e a Fórmula 2 Brasil, a categoria de monopostos – única a nível nacional que temos hoje – sempre foi um estorvo na conta da Vicar, que a partir de 2013 pegou a competição pra organizar.

Como dizia a minha avó, “quem os pariu que os lamba”. Filha de pais tortos, a F3 Brasil sempre foi um fardo para a organização que – verdade seja dita – só se interessa mesmo pela Stock Car.

Quando o calendário de 2017 não foi divulgado – ao contrário do que ocorreu com as demais competições sob o guarda-chuva da Vicar – já dava pra desconfiar. Agora é oficial. A Fórmula 3 não será mais organizada pela Vicar, agora sob o comando de Rodrigo Mathias após a saída de Maurício Slaviero, neste ano que já se iniciou.

Surpresos? Eu, nunca…

Agora as equipes procuram um outro certame com chancela da CBA para poder garantir sua sobrevivência. Uma solução seria a Porsche GT3 Cup Challenge Brasil, como mostrou o Grande Prêmio. Mas nada ainda está acordado oficialmente.

A Fórmula 3 sofreu como poucas nas mãos da Vicar. Não obstante os horários esdrúxulos de várias corridas, a categoria sujeitou-se a um acordo espúrio para ser exibida na televisão escondida na grade do SporTV em dias incertos e com pouca – ou nenhuma divulgação. Sem retorno algum de mídia, equipes perderam patrocinadores, interromperam atividades e o campeonato, que já não vinha muito bem das pernas no início de 2016, entrou numa derrocada que lembrou os piores dias da F3 Sudam, com até cinco carros no grid. Uma lástima.

O certame ainda tem sua validade. Não fosse por ele, Vítor Baptista não teria ido para a Europa, onde já disputa a World Series após ganhar o Euroformula Open. Este campeonato, inclusive, assistirá a uma invasão sem precedentes de pilotos do país: Matheus Iorio, atual campeão brasileiro, Christian Hahn, Carlos Cunha, Pedro Cardoso e Thiago Vivacqua migram para o certame que usa modelos Dallara F312 com motores Toyota em 2017. Sem contar Pedro Piquet e Sergio Sette Câmara, que ano passado estavam no FIA European F3 Championship.

Quer dizer: a base nós temos. Falta trabalhar e organizar melhor a coisa. É isso que os chefes de equipe estão buscando.

Uma outra solução que já foi levantada em redes sociais é trazer a Fórmula 3 Brasil mais perto da realidade dos outros certames e, quem sabe, tornar viável aos competidores uma escalada de categorias, começando nas Fórmulas Vee e 1600 e passando pela Fórmula Inter. Não deixa de ser uma sugestão interessante…

Enfim, precisamos olhar com carinho para o nosso automobilismo. A CBA acabou de passar por uma eleição polêmica em todos os sentidos, com a participação ampla da imprensa e também dos aficionados que discutiram – às vezes de forma mais áspera – o pleito. Precisamos de união para buscar soluções. Precisamos cuidar do que temos, porque daqui a pouco, repito, não teremos ninguém na Fórmula 1.

Espero que as equipes da Fórmula 3 Brasil encontrem um caminho e cheguem a um ponto que seja bom pra todo mundo. De saída, deveriam esquecer TV Globo e congêneres. A própria Vicar se sujeita às vontades do “Plim Plim”, deixando a Stock correr no formato que ela tem adotado recentemente. E quem não se lembra das provas transmitidas pela Bandeirantes nos anos 1980 (bons tempos!) com UMA HORA de duração?

Para se reinventar, a F3 Brasil podia experimentar um conceito que já é realidade no automobilismo do mundo inteiro e começar a fazer seu nome em transmissões via streaming, pelo YouTube. E produzir material para que o público conheça melhor os carros, os pilotos, as equipes. Assim, quem sabe, ela retoma o interesse dos aficionados. Potencial ela sempre teve. Basta querer explorar e fazer acontecer, quer seja com a Porsche GT3 Cup ou com as outras categorias de monoposto que nós temos hoje por aqui.