A Mil por Hora
Automobilismo Nacional

Moco e Marivaldo

RIO DE JANEIRO – Em 1977, como diria o poeta, eu era uma criança e não entendia nada. Não sabia ainda o que era Fórmula 1. Não sabia o que era automobilismo. A descoberta viria só no ano seguinte. E em 1978, o Brasil não tinha mais aquele piloto que foi intitulado a partir daí […]

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Em 1969, ano mágico na vida de José Carlos Pace e Marivaldo Fernandes, eles venceram os 1000 km de Brasília, uma das mais tradicionais provas do Endurance nacional

RIO DE JANEIRO – Em 1977, como diria o poeta, eu era uma criança e não entendia nada.

Não sabia ainda o que era Fórmula 1. Não sabia o que era automobilismo.

A descoberta viria só no ano seguinte. E em 1978, o Brasil não tinha mais aquele piloto que foi intitulado a partir daí o “campeão mundial sem título” e que, tempos depois, batizaria o Autódromo de Interlagos.

Há quatro décadas, em 18 de março, quando o escriba aqui mal tinha completado seis anos de idade, José Carlos Pace desapareceu num trágico acidente de avião, aos 32 anos. Com ele, estava o amigo Marivaldo Fernandes, onze anos mais velho e o piloto do monomotor, que pertencia a Marivaldo. O “Fiapo” era empresário de ônibus na Baixada Santista e assim como Moco, era daqueles que guiara de absolutamente um tudo na vida, um apaixonado que só não foi mais longe numa carreira internacional porque não quis.

Além da paixão pelo automobilismo e da amizade, solidificada com a conquista do título brasileiro de automobilismo em 1969, quando tiveram à disposição a lendária Alfa P33 da equipe Jolly-Gancia, Moco e Marivaldo tinham em comum os amigos no esporte e a paixão por aviões. Marivaldo tinha também uma fazenda em que plantava laranjas em Araraquara – e era justamente para lá que os dois se dirigiam até o acidente fatal nas proximidades de Mairiporã – na imprensa internacional, houvesse quem acreditasse que Pace morrera na Selva Amazônica, vejam vocês…

Moco vivia o auge da carreira na Fórmula 1, cada vez mais respeitado dentro de sua equipe, pois assumira o desenvolvimento do modelo BT45 com motor Alfa Romeo Boxer 12 cilindros – mais possante que os Ford Cosworth V8 na época.

Tinha disputado 72 GPs – o último foi o GP da África do Sul, 13 dias antes da tragédia e liderado nas duas corridas anteriores. Em Interlagos, palco de sua única vitória em 1975, por seis voltas e na Argentina, corrida que perdeu por ter contraído uma virose, por 12 passagens. Pace era um piloto tão querido que Bernie Ecclestone, seu patrão na Brabham, estava inconsolável quando, dois dias depois, teve que estar em Brands Hatch na Race of Champions – prova extracampeonato. Watson conquistou a pole position na ocasião e dedicou o feito à memória do nosso Moco.

Há quem diga que Bernie, o todo-poderoso da F1 até há bem pouco tempo atrás, transformou-se por completo após a morte de Carlos Pace, como o brasileiro era chamado lá fora.

Onde quer que estejam, Moco e Marivaldo estão felizes por serem lembrados sempre com o carinho e a admiração que os verdadeiros fãs do automobilismo lhes reservam. Pace foi o herói de toda uma geração e seus feitos, seja na F1, com a Ferrari do Mundial de Carros Esporte, a bordo do Shadow Can-Am e até mesmo sentando o pé nos Maverick Divisão 1 que guiava – e muito – no Brasil quando não tinha provas da categoria máxima do automobilismo – ficaram na memória e na história.

Saudade, Moco… saudade, “Fiapo”…