RIO DE JANEIRO – Pelo terceiro ano consecutivo, a Porsche vence as 6 Horas de Nürburgring. Num de seus quintais de casa, o construtor de Weissach não tomou conhecimento da pole position da Toyota no treino oficial e fez uma dobradinha absoluta na 4ª etapa da temporada do FIA WEC, o Campeonato Mundial de Endurance.
Após algumas reviravoltas e erros no box, venceu a trinca líder do campeonato e vencedora da última edição das 24 Horas de Le Mans. O carro #2 partilhado por Timo Bernhard/Brendon Hartley/Earl Bamber somou mais 25 pontos na tabela ao cruzar a linha de chegada após percorrer 204 voltas – numa raríssima ocasião em que o Safety Car não precisou dar as caras e intervir durante a disputa.
O triunfo também poderia muito bem ficar com o outro 919 Hybrid: o #1 de Neel Jani/Andre Lotterer/Nick Tandy liderou em vários momentos da prova e apesar de um pit stop muito ruim, que durou 83 segundos contra 75 da trinca vencedora, conservaram a ponta. Mas acabaram precisando de uma última parada mais longa, que durou 56 segundos no total e isso lhes custou a vitória. Não foi dessa vez que Lotterer se tornou o primeiro piloto do WEC a vencer na LMP1 por duas marcas diferentes.
À frustração de Le Mans se seguiu mais uma para a Toyota na Alemanha. O carro #8 de Sébastien Buemi/Anthony Davidson/Kazuki Nakajima, que foi absoluto em Silverstone e Spa-Francorchamps, acabou vítima de um problema com a bomba de combustível logo nas voltas de apresentação. O carro foi recolhido à garagem e logo consertado – mais aí foram cinco voltas perdidas e a chance de pódio foi para o vinagre. A trinca chegou em quarto lugar, cinco voltas atrasada.
Já o #7 que cravou a pole position no treino oficial ficou na dianteira o quanto pôde, mas não teve ritmo para seguir os rivais. Pechito López/Kamui Kobayashi/Mike Conway pelo menos puderam salvar o pódio. E em sua prova de despedida da temporada, a ByKolles sobreviveu a um longo pit stop para levar seu bólido até o fim na 14ª posição geral e quinto entre os LMP1.
Na LMP2, ninguém pôde contra o trio campeão em Le Mans: bem que a turma da Vaillante Rebellion tentou, mas foi quase impossível conter a Jackie Chan DC Racing, que segue irresistível. O #38 de Ho-Pin Tung/Thomas Laurent/Oliver Jarvis conquistou um ótimo quinto posto na geral e a terceira vitória da trinca em quatro provas, aumentando ainda mais a liderança na competição paralela da divisão inferior de protótipos.
Apesar das dificuldades já previstas, Bruno Senna e seus parceiros Julien Canal e Filipe Albuquerque – este, atuando como substituto de Nicolas Prost – foram competitivos e conquistaram mais um pódio na categoria, o terceiro em quatro corridas. A Vaillante Rebellion só não teve seus dois carros entre os três primeiros porque, na reta final da disputa, o #36 da Signatech-Alpine Matmut superou o #13 que teve entre seus pilotos neste domingo o brasileiro Pipo Derani. Mesmo assim, foi um bom retorno dele à LMP2 no WEC, conquistando o 8º lugar na geral.
Infelizmente, após o 3º lugar em Le Mans e a segunda posição naquela corrida em sua categoria, André Negrão e seus parceiros Pierre Ragues e Nelson Panciatici não tiveram a mesma sorte dessa vez na Alemanha. Além de terem que pagar uma penalidade de 30 segundos por contato evitável durante os treinos, abandonaram a disputa com sérios problemas de câmbio. Agora é ver se Philippe Sinault terá a possibilidade de alinhar esse carro nas demais corridas do WEC. Tomara que sim…
A Porsche bem que tentou – mas ainda não foi dessa vez que aconteceu a primeira vitória do 911 RSR com motor central-traseiro. Os alemães chegaram a liderar em vários momentos e a Aston Martin também esteve bem, especialmente no início. Mas a Ferrari e a AF Corse administraram melhor o rendimento do carro e principalmente dos pneus, sempre uma preocupação numa temporada em que há restrição de sets de compostos especialmente entre os Grã-Turismo.
Por isso, quem riu por último foi a dupla James Calado/Ale Pier Guidi, que fecharam a disputa em 15º lugar na geral e com quase 50 segundos de vantagem para Fred Makowiecki/Richard Lietz. Menos mal para a Porsche que suas duas duplas foram ao pódio, uma vez que Michael Christensen/Kévin Estre salvaram a terceira posição na quadriculada.
A Aston Martin saiu da disputa com o 4º posto conquistado por Nicki Thiim/Marco Sørensen, enquanto o melhor Ford foi o dos líderes do campeonato – até Le Mans – Harry Tincknell e Andy Priaulx, que fecharam em quinto na divisão. O 7º lugar foi o melhor que a trinca Jonathan Adam/Daniel Serra/Darren Turner pôde alcançar nesta corrida, representando mais seis pontos na tabela.
Porém, se os germânicos não ganharam com o time oficial na LMGTE-PRO, a Dempsey Racing-Proton, numa ótima corrida dos locais Marvin Dienst e Christian Ried, mais o promissor italiano Matteo Cairoli, conquistou a primeira vitória em 2017. Eles bateram a Spirit of Race, que teve a melhor performance do ano com Thomas Flöhr/Miguel Molina/Francesco Castellacci e a Aston Martin Racing, mais uma vez insuperável em qualificação e que ficou devendo em ritmo de corrida.
Agora o WEC vive duas expectativas: pela etapa do México no início de setembro e também pelo futuro da Porsche na categoria. Os alemães teriam acenado com a possibilidade de deixar a competição para investir noutras categorias como a Fórmula E e a Fórmula 1 – desta última, inclusive, saíram chamuscados após o malogro do motor V12 aspirado que foi entregue à Footwork em 1991. Mas hoje, com a tecnologia disponível e com a expertise adquirida no desenvolvimento de unidades híbridas, a história pode ser diferente.
Segundo informou Andreas Seidl, o diretor geral do projeto Porsche LMP1 no Mundial de Endurance, lá mesmo em Nürburgring, “até o fim do mês” haverá uma decisão. Pascal Vasselon, da Toyota, está preocupado. A debandada da Porsche pode significar, também, o fim do programa da Toyota e a morte dos times oficiais de fábrica da LMP1 – algo que também deve estar plantando uma enorme pulga atrás da orelha dos homens-fortes do Automobile Club de l’Ouest, organizador do WEC e das 24 Horas de Le Mans.