A Mil por Hora
Fórmula 1

Ah! Os comissários…

RIO DE JANEIRO – O automobilismo anda em viés de baixa no mundo inteiro em termos de visibilidade e retorno financeiro, audiência televisiva e público nos autódromos. E quando mais precisa de atrair novos públicos e mais gente interessada em ‘consumir’ o esporte a motor, eis que os egrégios comissários esportivos dão um tiro no […]

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Ricardo Zonta ganhou na pista em Tarumã, mas os comissários lhe tiraram um merecido primeiro lugar numa das corridas da Stock Car (Foto: José Mário Dias/Divulgação)

RIO DE JANEIRO – O automobilismo anda em viés de baixa no mundo inteiro em termos de visibilidade e retorno financeiro, audiência televisiva e público nos autódromos. E quando mais precisa de atrair novos públicos e mais gente interessada em ‘consumir’ o esporte a motor, eis que os egrégios comissários esportivos dão um tiro no pé e colocam em xeque o crédito que ainda resta entre os fãs tanto na Fórmula 1 quanto na Stock Car brasileira.

Sim, eu sei que são dois eventos totalmente díspares. A Fórmula 1 é o pináculo, é internacional. A Stock tem grandes pilotos daqui e também é conhecida lá fora, também pela cobertura que parte da mídia do exterior lhe reserva e também por ter entre seus protagonistas gente que andou na categoria máxima e outras feras como Daniel Serra, que em sua estreia em Le Mans neste ano venceu na LMGTE-PRO.

Mas tanto em Austin quanto em Tarumã (o que foi aquela chicane, meu Deus?), tivemos polêmicas.

A da Stock foi, no meu entendimento, banal. Ricardo Zonta parou para o reabastecimento obrigatório e o galão da equipe Shell Racing caiu após a parada. Não foi arrastado ou caiu fora da área de pit da equipe. Caiu no chão, perto dos mecânicos. Acharam um jeito de punir o Zonta, que fez uma belíssima corrida e venceu a primeira das duas provas do fim de semana. Ganhou mas não levou: perdeu a vitória, que caiu no colo do Daniel Serra. O paranaense tem que ficar fulo, e com razão.

Primeiro, que o problema não representou nenhum perigo nem pra ele e nem para ninguém, pois o combustível não vazou e não houve incêndio. Depois, não ficou configurado qualquer problema quanto à segurança. Ou seja: os comissários arrumaram um pretexto besta para punir o Zonta e a Stock Car, de tão boa temporada, voltou a se envolver numa polêmica desnecessária.

Quem sou eu para sugerir, mas se isso é – de fato – parte da regra, esclareçam. Não fiquem de #mimimi dizendo que nós metemos o pau na Stock porque não trabalhamos no Grupo Globo ou coisa parecida. Aliás, até que tenho mais elogiado a categoria do que criticado e também moderei bastante as críticas à CBA – até porque o atual presidente não me deu motivos para tanto. Até prefiro que o Waldner Bernardo aja em silêncio, num estilo diametralmente oposto à desastrosa e inepta administração de Cleyton Pinteiro na entidade.

“No nosso entendimento, a vitória é nossa e vamos até as últimas consequências para esclarecer isso por uma questão de considerar o que é moralmente correto”, garantiu o chefe da equipe Shell Racing, Thiago Meneghel. Ou seja: essa questão pode acabar no tapetão e melar um campeonato que tem tudo para ter uma final sensacional em Interlagos, no mês de dezembro. 

Na Fórmula 1, Max Verstappen foi punido por dar show e ultrapassar na última volta. Esse negócio de “track limits” um dia ia causar polêmica. Pois que cause. E que o Liberty Media trabalhe junto à FIA para acabar com essa palhaçada

Já na Fórmula 1, a questão é mais delicada.

À luz da regra, o que Max Verstappen fez na última volta do GP dos EUA para ultrapassar Kimi Räikkönen e ganhar do finlandês da Ferrari o 3º lugar do GP dos EUA, pode parecer incorreto e na visão dos comissários o foi. Tanto que o holandês foi punido com acréscimo de tempo de cinco segundos ao resultado final, derrubando-o do pódio, conquistado com suor da primeira à última volta de uma grande corrida de recuperação. Mas não acredito que tenha sido deliberado ou proposital.

Que caminho o piloto da Red Bull cortou? Que vantagem de fato levou sobre um piloto cujo carro já vinha em ritmo mais lento, com os pneus esbagaçados e que não ofereceu a mínima resistência?

Räikkönen, aliás e a propósito, esbravejou pelo rádio por ter perdido a posição?

A manobra de Verstappen foi primorosa. Craques do arrojo assinariam embaixo. A punição foi ridícula, inócua e infelizmente joga uma ducha gelada de água numa Fórmula 1 que precisa urgentemente de novidades. E o holandês talvez seja a melhor e maior dessas novidades dentro e fora da pista, trazendo também um público alucinado por suas performances aos autódromos. Quantas camisetas laranja, quantas bandeiras da terra dos diques e tamancos temos visto nas pistas hoje em dia?

Culpa da FIA, que inventa essa palhaçada de “track limits”, enche as pistas atuais de áreas de escape com asfalto e depois fica mandando os diretores de prova instruir os pilotos a não pisarem fora, como no jogo de amarelinha. Senhoras e senhores, eu pergunto: isto é automobilismo ou corrida em fila indiana?

Querem impedir que os pilotos saiam da linha ideal? Coloquem brita então. Ou muros. Ou elevem as zebras. Aliás, daqui a pouco o jargão “zebra é pista” vai cair em desuso…

Daqui a pouco vão proibir as disputas mais duras por posição e aí o esporte caminharia para um viés de rejeição que ninguém vai suportar ver provas de automóvel em que ninguém ultrapassa um adversário na raça, apenas com artificialismos baratos como DRS, push to pass e quejandos.

Uma disputa como aquele embate épico de Dijon-Prénois no ano de 1979, perpetrado por René Arnoux e Gilles Villeneuve, mandaria os dois – se corressem hoje – direto para uma carrocinha, presos e com focinheira, para não reclamarem. Não faz nem muito tempo assim, Robert Kubica e Felipe Massa se pegaram de safanão por um 6º lugar num aquático GP do Japão, saíram trocentas vezes da pista – e ninguém falou nada. Olha que, pelas imagens, era um negócio muito mais arriscado e perigoso em contraponto ao que fez Verstappen em Austin.

E isso porque não citei – mas já citando – a famosa ultrapassagem de Alex Zanardi (o aniversariante de hoje) em Bryan Herta na curva do Saca-Rolha em Laguna Seca, numa prova da Fórmula Indy. Tudo bem que nos EUA eles são mais relevantes, mas… pombas! Aquilo ali foi magistral!

Querem nos roubar o pouco que ainda nos resta, sr. Jean Todt e asseclas? Pois é melhor que as coisas sejam repensadas daqui por diante e que Chase Carey e Ross Brawn tomem essa corrida e a punição a Max Verstappen em Austin como uma lição para o futuro.