A Mil por Hora
Fórmula 1

Monza, 40 anos

RIO DE JANEIRO – Acho que já falei isso alguma vez – se não aqui no blog, foi em qualquer outro dos ex-blogs. Paciência… A minha memória mais viva do meu início como apaixonado por automobilismo data de 40 anos atrás. A mente da gente tem alguns flashes e insights, como um que – tenho […]

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RIO DE JANEIRO – Acho que já falei isso alguma vez – se não aqui no blog, foi em qualquer outro dos ex-blogs. Paciência…

A minha memória mais viva do meu início como apaixonado por automobilismo data de 40 anos atrás. A mente da gente tem alguns flashes e insights, como um que – tenho certeza – tive em 1975, quando a Globo passou o GP da Holanda em Zandvoort e eu sei que a TV de casa estava ligada na emissora e posso ter assistido àquela corrida, mas não lembro. Tinha só quatro anos, difícil lembrar daquilo

Mas do GP da Itália de 1978 lembro sim. E lembro vivamente.

“Fogo na pista!”, frase que Luciano do Valle, o narrador da emissora nas transmissões de Fórmula 1 até 1981, usou para pontuar a gravidade de um acidente ocorrido após a largada, foi algo que não saiu mais da memória.

E como sairia? Afinal, pra uma criança de sete anos, ver aquele fogo todo pegando e consumindo um carro de corrida é um negócio que impressiona qualquer um. Especialmente quando você se encanta com um negócio que faria – e ainda faz – parte de seu dia a dia.

Eu já havia ficado impressionado do jeito como um carro preto e dourado e outro vermelho arrancaram naquela primeira largada que foi anulada em relação ao resto. E também ficaria impressionado porque, muito tempo depois, quando a corrida finalmente começou e com 40 voltas ao invés das 52 anteriormente previstas, aqueles mesmos dois carros saíram em disparada feito bólidos.

Entendi menos ainda quando meu pai disse que o vencedor seria o que terminou em 3º, embora tenha visto os dois caras dos carros líderes subirem ao que se chamava de pódio pelo narrador e estouraram champagne.

Os caras eram Mario Andretti e Gilles Villeneuve, respectivamente pilotos de Lotus e Ferrari. E a maior vítima daquele acidente do “Fogo na pista!” era Bengt Ronald Peterson, o Ronnie Peterson, conhecido e admirado como o “Sueco Voador”.

No dia seguinte, numa situação até hoje mal explicada, Ronnie não sobreviveu ao pós-operatório onde o piloto, então com 34 anos, perderia os membros inferiores.

Peterson nunca mais poderia sentar num carro de corrida se tivesse sobrevivido. Foi melhor assim? Não se sabe… Alessandro Zanardi perdeu ambas as pernas e faz coisas do arco da velha até hoje.

Gozado que minha memória guarda flashes do funeral de Peterson e a imagem que mais me impressionou foi de um dos pilotos carregando o caixão, completamente careca. Vim a saber que se tratava de outro sueco – Gunnar Nilsson, que naquele mesmo ano, cerca de um mês e pouco depois da morte de Ronnie, também partiria prematuramente, aos 29 anos, fulminado por um devastador tumor nos testículos.

Sendo sincero, gostaria de ter nascido antes para poder mensurar a importância de Ronnie Peterson para uma legião de fãs apaixonados que o têm como um dos gigantes do automobilismo, mesmo sem ter sido campeão mundial. Bom… acho que vivi uma experiência semelhante com Gilles Villeneuve, de quem fui fã e chorei sua morte como depois jamais faria com nenhum outro piloto de automobilismo.

Um negócio sem muita explicação, mas que faz com que a gente se sinta mais próximo daqueles homens que não tinham medo da morte, mas que podiam encontrar com ela a qualquer curva, a qualquer reta, a qualquer momento.

Ironicamente, não foi o caso de Peterson. A sua partida, há 40 anos, foi consequência de um grave acidente, do qual saiu com vida, lúcido e consciente.

Acredito muito em destino. De repente, era pra ser assim. Para que Bengt Ronald Peterson continue sendo celebrado por nós, enquanto existir história, memória e paixão.

E fim.