A Mil por Hora
Fórmula 1

Na casa deles…

RIO DE JANEIRO – A Fórmula 1 já nos mostrou no passado que nem sempre pilotos campeões e/ou postulantes ao título estiveram na batalha sem ter o melhor equipamento na pista. Nelson Piquet ganhou assim dois de seus títulos – ambos com a Brabham – em 1981 e 1983. Ganhou porque era melhor que todos […]

2018 Italian Grand Prix, Saturday - Steve Etherington
Soberbo: Lewis Hamilton arrancou no talento uma vitória que parecia impossível após o acachapante domínio da Ferrari nos treinos classificatórios. Um triunfo gigantesco na temporada em que a Mercedes não tem o melhor carro da Fórmula 1 (Foto: Reprodução Grande Prêmio/Mercedes)

RIO DE JANEIRO – A Fórmula 1 já nos mostrou no passado que nem sempre pilotos campeões e/ou postulantes ao título estiveram na batalha sem ter o melhor equipamento na pista.

Nelson Piquet ganhou assim dois de seus títulos – ambos com a Brabham – em 1981 e 1983. Ganhou porque era melhor que todos os outros.

Neste ano de 2018, um piloto em especial se encaixa neste perfil. A Mercedes-Benz não tem hoje a superioridade das últimas temporadas. Dá pra dizer sem nenhum erro que a Ferrari tem o melhor carro hoje da categoria. Mas a escuderia da estrela de três pontas tem um piloto que sobra em termos de talento e que, quando preciso, faz esse talento transbordar.

Foi assim no GP da Alemanha, há alguns meses. Foi o que aconteceu hoje em Monza, num excelente GP da Itália – que superou qualquer expectativa.

O que Lewis Hamilton fez para chegar ao topo do pódio é coisa de craque. Primeiro, numa manobra absolutamente lícita, pôs seu carro por dentro na freada da Variante Della Roggia para mergulhar e passar Vettel, que vinha logo à frente e se precipitou ao tentar defender a posição, tocando sua Ferrari no bólido do rival e rodando em seguida.

A manobra infantil de Vettel foi o primeiro e duro golpe nas pretensões italianas.

Depois, veio o blefe na parada de box, quando a Ferrari deveria ter levado em consideração a tática dos rivais germânicos e persistido com Kimi mais algumas voltas na pista. Como efeito, o nórdico parou após 19 voltas e Lewis entrou no modo “Hammer Time”, sentando o cacete no pedal da direita pra descontar o máximo possível de tempo.

Com o pit na volta 28, Hamilton garantiu nove voltas a mais de pneu com o segundo jogo. O que foi de novo decisivo. Outro golpe na Ferrari.

E o “fatality” veio numa ultrapassagem espetacular no início da 45ª volta, quando os pneus traseiros de Räikkönen já pediam arrego – cheios de bolhas. O finlandês não resistiu. E quem resistiria? Perdeu a ponta, mas não a pose, porque seu fim de semana foi espetacular – começando pelo novo recorde de velocidade média em qualificação, incríveis 263,587 km/h, superando o recorde de Juan Pablo Montoya que já durava 14 anos – culminando com a conquista do 100º pódio de sua longa trajetória na categoria máxima do automobilismo.

Como efeito, Hamilton chegou à 68ª vitória – e provavelmente uma das mais saborosas de sua vitoriosa trajetória – na casa deles, em plena Monza. Pista, aliás, onde o britânico se sente em casa, pois em todas as outras vezes que venceu ali foi campeão mundial. E ele espera que não seja diferente.

Mesmo tendo um carro pior, ele fez a diferença para abrir mais pontos na classificação do campeonato – agora são 30, com dois terços do campeonato alcançados.

Quanto a Vettel, o que dizer? Um novo erro, uma nova chance de aproximação ao rival perdida – e até que saiu barato, no fim das contas. Enquanto o alemão, com danos no carro, avançava porque sua Ferrari é muito mais carro que praticamente o grid inteiro, na frente dele o pau quebrava entre Max Verstappen e Valtteri Bottas. O holandês aprontou (quero uma novidade…) e os comissários lhe aplicaram uma punição por causar uma colisão com o finlandês da Mercedes.

Até achei que seria uma punição inócua, mas houve reflexos no resultado final, pois o piloto da Red Bull baixou pra quinto. Nem pra antessala do pódio ele foi dessa vez, como aconteceu em Austin ano passado. Bottas foi terceiro, Vettel quarto e ponto final.

Tirando isso, acho que dá pra destacar o solitário 6º posto de Romain Grosjean, os dois Racing Point Force India nos pontos (já chegaram na Toro Rosso…) e a décima colocação de Lance Stroll numa pista em que um carro ruim, sem carga aerodinâmica, até pode andar bem.

Para fechar, acho que ninguém tem mais dúvidas de quem merece ser o campeão mundial de 2018 na Fórmula 1, não é mesmo?

Vettel não é tetracampeão por acaso, mas tem cometido muito mais erros do que se esperava e parece sucumbir à pressão.

Lewis, em contrapartida, está mais amadurecido (pelo menos quando se trata de acelerar). Focado, eficiente e sobretudo rápido e decisivo quando tem que ser.

Quem quiser, que discorde à vontade.

Atualizando…

A Renault entrou com um protesto contra a Haas, que foi acolhido e o carro de Romain Grosjean realmente tinha uma irregularidade no fundo do chassis. Acabou desclassificado, perdendo portanto o 6º lugar. Com isso, todos os que vieram a seguir subiram no resultado final e o russo Sergey Sirotkin herdou a décima posição, para se tornar o 339º nome a figurar nos compêndios. Isso representa também que os 20 inscritos em 2018 pontuam, um fato inédito na história da Fórmula 1.