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Fórmula 1

Mercedes… e o resto

RIO DE JANEIRO – Sobrando na turma. Foi assim que a Mercedes-Benz se comportou nesta madrugada brasileira durante o treino classificatório para a abertura da 70ª temporada da história da Fórmula 1. A que teremos o GP de número 1000 em todos os tempos. A primeira em mais de 20 anos sem Charlie Whiting, homenageado […]

2019 Australian Grand Prix, Friday - Wolfgang Wilhelm
O voo da Flecha de Prata: Hamilton garantiu com o novo recorde de Melbourne mais uma pole, a 84ª da carreira (Foto: AFP/Reprodução Grande Prêmio)

RIO DE JANEIRO – Sobrando na turma. Foi assim que a Mercedes-Benz se comportou nesta madrugada brasileira durante o treino classificatório para a abertura da 70ª temporada da história da Fórmula 1. A que teremos o GP de número 1000 em todos os tempos. A primeira em mais de 20 anos sem Charlie Whiting, homenageado por todas as equipes. Neste domingo na Austrália, teremos certamente um minuto de silêncio em homenagem a ele, que faleceu de forma repentina na quarta-feira.

O sábado foi de certa tristeza pra muita gente e de alegria pra muito poucos. A dupla da marca da estrela de três pontas enganou bem durante a pré-temporada. Lembram da preocupação do Hamilton com os resultados da primeira semana? Melhor deixar pra depois… as retas e as 16 curvas do traçado de 5,303 km do Albert Park em Melbourne viram um desfile dos prateados – com requintes de crueldade.

Foram sete décimos cravados em cima daquele que, em princípio, parecia ser o piloto a ser batido da equipe idem. Aliás, já virou tradição a Ferrari fazer fumaça nos testes de inverno e depois, quando o campeonato começar, ser inapelavelmente superada pela principal rival.

Nos áureos tempos da McLaren isso aconteceu pelo menos na temporada de 1991 e a imprensa italiana caiu de pau, ironizando o “domínio” vermelho. O que será que falará Mattia Binotto, o novo homem forte da equipe, ao olhar pra folha de tempos e se deparar com a eternidade que Vettel e Leclerc ficaram atrás de Hamilton e Bottas no Q3?

Um adendo: aliás, por um breve instante, achei que Bottas daria aquela ‘cravada’ no atual campeão. Doce ilusão: Comandante Hamilton simplesmente voou na pista australiana e encerrou o assunto – 1’20″486. Média horária? 237,194 km/h, o que é de pasmar.

Não me lembro, sinceramente, de uma pista de rua que tenha se tornado tão veloz quanto a de Melbourne. Vai ver porque os próprios carros da categoria máxima hoje têm velocidades estonteantes – principalmente em curvas.

Com a Ferrari superada por larga margem, ainda vimos no Q3 a Red Bull conseguir, na estreia oficial do time rubrotaurino com os motores Honda, um ótimo quarto lugar com Max Verstappen. Tirante as três forças vigentes da categoria, a Haas foi a melhor do resto, com seus dois bólidos em sexto e sétimo.

Melhor novato, Lando Norris larga dez posições à frente de Carlos Sainz Jr. no grid do GP da Austrália (Foto: McLaren/Reprodução Grande Prêmio)

Impressionaram positivamente a 8ª posição do novato Lando Norris com a McLaren e a performance de Kimi Räikkönen na agora Alfa Romeo. Com 39 anos, o finlandês mostra que ainda está muito vivo para o esporte. A Racing Point sobreviveu até a última parte do treino graças a Sergio Pérez e sua experiência e velocidade.

Decepções? Tivemos, várias.

A Renault foi uma: a Régie não conseguiu classificar nenhum de seus pilotos à fase decisiva do treino classificatório. Nem mesmo Daniel Ricciardo, que dividirá a sexta fila com Nico Hülkenberg – pelo menos a distância entre eles na folha de tempos foi relativamente pequena, oito milésimos de segundo.

A Toro Rosso é o que normalmente chamaríamos de fogo de palha. Alguns resultados ok nos treinos livres, mas na hora do “vamos ver”, amarelaram. Pelo menos foram ao Q2, assim como Antonio Giovinazzi, o primeiro italiano em anos a disputar uma temporada completa, mas superado por Räikkönen no confronto interno na Alfa de forma inapelável.

É “deu ruim” que fala? Pierre Gasly ficou pelo caminho… e logo no Q1, tendo como companhia nada surpreendente as duas Williams e Lance Stroll, sem contar Sainz (Foto: Red Bull Content Pool/Reprodução Grande Prêmio)

Mas os desapontamentos não param.

O que foi Lance Stroll ficando fora no Q1 logo em sua estreia pela Racing Point? E Gasly com a Red Bull? Sainz com a McLaren? Bem… a Williams não conta, pois o FW42 é uma carroça irremediável e a equipe, que perdeu Paddy Lowe a dias da abertura do Mundial, parece inteiramente perdida no tempo e no espaço.

Pobre George Russell: o campeão da Fórmula 2 já viu que terá um ano apenas para aprender com os percalços de um time outrora pujante e hoje inteiramente sem brilho. O britânico foi 1″276 mais lento que Sainz.

E Robert Kubica? O polonês faz o que dá e é uma pena vê-lo tão atrás. Além de conseguir ficar a cinquenta e três milésimos do limite de 107% do melhor tempo (não sei se do Q1 ou da própria pole position), o piloto que volta a disputar uma corrida da categoria após quase nove anos fora levou um vareio de 1″707 do novato Russell. Complicado defender…

Mas a Fórmula 1 é assim. Ou você dança conforme a música, ou todo mundo esquece o que você já fez um dia. Não foi o que aconteceu ao Alonso? De repente, ele já não prestava para porra nenhuma porque não conseguia grandes resultados. Culpa do piloto ou do carro, afinal?

Enfim… o que tivemos hoje foi isso. Pole de número 84 de Hamilton na categoria – sexta consecutiva, considerando as cinco últimas de 2018. Décima-terceira temporada da carreira com pelo menos uma vez do britânico na posição de honra do grid.

É por essas e outras que o ponto da pole deveria ser atribuído. Não o da melhor volta, que por vezes é circunstancial. O primeiro lugar do grid, não. É conquistado. Corre-se atrás. Ninguém se mata hoje numa pista para fazer o melhor tempo em corrida, a menos que você precise apertar o adversário ou garantir posição. E com a pontuação atual, pode ser que não faça muita diferença.

A partir de 2h10 desta madrugada, começa a temporada 2019. Se tudo correr como o figurino, leva Hamilton. E pra vocês, quem vence em Melbourne?