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Direto do túnel do tempo (451)

RIO DE JANEIRO – Ano de 1980: o aniversariante do dia, a bordo do carro #34 na foto, buscava um lugar ao sol no automobilismo. Nunca faltou determinação a este moço, tanto que quando chegou à Fórmula 1, ganhou o apelido de Leão. Não pode ser outro senão Nigel Ernest James Mansell, que hoje completa […]

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RIO DE JANEIRO – Ano de 1980: o aniversariante do dia, a bordo do carro #34 na foto, buscava um lugar ao sol no automobilismo. Nunca faltou determinação a este moço, tanto que quando chegou à Fórmula 1, ganhou o apelido de Leão. Não pode ser outro senão Nigel Ernest James Mansell, que hoje completa 66 anos de idade.

Até chegar a bordo do Ralt RH6-80 com motor Honda (aqui em duelo com Chico Serra na prova de Zolder do Cameponato Europeu de Fórmula 2), Mansell comeu o pão que o diabo amassou. Seu March de Fórmula 3 tinha motor Triumph Dolomite, certamente inferior em relação aos Toyota preparados pela Novamotor dos irmãos Pedrazzani, na Itália. Para complicar, quebrou uma vértebra num acidente com outro louco que aspirava chegar à Fórmula 1 tanto quanto ele: Andrea de Cesaris.

Não se sabe por que, talvez por ser inglês como ele, Colin Chapman o convidou para fazer um teste com a Lotus, visando o campeonato de 1980. A equipe inglesa perdera Carlos Reutemann para a Williams e jovens nomes foram avaliados em Paul Ricard para fazer companhia a Mario Andretti.

A vaga ficou com Elio De Angelis. Mansell treinou, escondeu de Colin as dores na vértebra fraturada e ganhou um emprego de piloto de testes. Ele não era um acertador de carros (aliás, nunca foi), mas era extremamente veloz e agressivo. Num treino em Silverstone, um dos circuitos mais velozes da época, ganhou a confiança de Chapman ao marcar o melhor tempo de um carro da Lotus naquela pista. E assim um esforço foi feito para o piloto, então com 27 anos, estrear na Fórmula 1.

Nigel teve à disposição o Lotus 81B, igual ao de Andretti e De Angelis, só que inscrito com o numeral #43. Um acidente com Jochen Mass, que capotou sua Arrows durante os treinos, permitiu que o novato largasse para o GP da Áustria, o primeiro em que participou. Largou na última fila ao lado de Emerson Fittipaldi e avançou de último até o 13º lugar.

Mas um vazamento de combustível tomou conta do cockpit e o novato enfrentou sua primeira prova de fogo na equipe. Teve queimaduras de primeiro e segundo graus, ora vejam, na bunda. Apesar do abandono, Chapman gostou de seu trabalho e o escalou para o GP da Holanda. Mansell largou em 16º, mas saiu da pista na décima-quinta volta e desistiu. No GP da Itália, o britânico não se classificou.

Chegara a hora de decidir quem dividiria a equipe com Elio De Angelis para 1981, pois Mario Andretti anunciou a Chapman que deixava a equipe para se juntar à Alfa Romeo. O patrocinador David Thiemme, da Essex, não o queria – havia especulações sobre uma possível contratação do já veterano Jean-Pierre Jarier – mas Colin bateu o martelo e ficou com Nigel.

Em todos os anos que correu na Lotus, até 1984, o inglês era sistematicamente batido por Elio De Angelis. E quando muitos pensavam que o inconsistente Mansell era um caso perdido, Frank Williams lhe fez uma oferta e seria seu patrão de 1985 até 1988.

Na nova equipe, Mansell – aí sim – incorporou a figura do Leão. À sua agressividade e velocidade naturais, somou-se a determinação de se tornar o primeiro britânico campeão de Fórmula 1 desde James Hunt, em 1976. Mansell fracassou na tarefa em 1986 e, desgostoso com a pouca competitividade do seu carro com motor aspirado em 1988, não pôs fé na associação da Williams com a Renault: assinou por dois anos com a Ferrari.

O casamento com Maranello começou com vitória em Jacarepaguá e, depois de muitos altos e baixos, Mansell voltou à Williams, por julgar que sua história não havia sido encerrada em Grove da maneira conveniente.

Quando dividiu a equipe com Nelson Piquet, Mansell não testava e seu “feeling” de acerto era considerado terrível pelos engenheiros. É até surpresa que no documentário sobre a Williams, no Netflix, Patrick Head ter sido gentil e simpático nas palavras com o brasileiro, enquanto Nigel, que parecia ter a preferência de todos, era malvisto.

Mas o piloto muniu-se de uma absurda determinação para ser campeão. A equipe tinha chegado ao auge com a suspensão inteligente e seus carros eram chamados “de outro planeta”. Se Nigel não conseguiu bater Ayrton Senna em 1991, no ano seguinte trabalhou de forma insana, mergulhado em testes como nunca acontecera. E o resultado veio: título mundial de 1992 com cinco corridas de antecipação.

Só que o piloto, cansado de ganhar pouco, fez jogo duro na negociação para renovar o contrato com vistas a 1993. Em Monza, anunciou que estava fora. Com estardalhaço, transferiu-se para a Fórmula Indy. Na “descoberta da América”, venceu na estreia, mostrou um car control absurdo em Indianápolis, uma adaptação incrível aos ovais e aos carros com menos tecnologia, conquistando o título da CART.

Nunca na história ninguém vencera as duas principais categorias de monoposto do planeta, em dois anos consecutivos.

A brincadeira na Indy durou pouco e Mansell aceitou voltar à Williams para algumas provas em 1994. Já com 41 anos, meio fora de forma (uns dirão que estava gordo), ainda venceu corridas – ganhou o GP da Austrália. E surpreendeu quando anunciou um acordo com a McLaren para o ano seguinte – que durou somente duas corridas. Primeiro, ele não cabia no carro. Depois, suas performances foram consideradas abaixo da expectativa e, em comum acordo, Ron Dennis e Mansell romperam o contrato.

A trajetória de Mansell, iniciada no GP da Áustria de 1980, encerrou-se na Espanha, quinze anos depois. Foram 187 provas disputadas, com 31 vitórias, 32 pole positions, 30 recordes de volta em prova, 59 pódios, 92 abandonos, 482 pontos somados na carreira, 2.091 voltas na liderança e 9,651 km percorridos como primeiro colocado.

Há 39 anos, direto do túnel do tempo.