A Mil por Hora
IMSA

Sobre conquistas e merecimento

RIO DE JANEIRO – Quando encerramos a transmissão das 12h de Sebring no sábado, eu não consegui esconder a emoção. Acho que quanto mais velho fico – ano que vem completo 50 anos – mais me emociono. A Pandemia também tem mexido muito com meu emocional, a realização de lançar um livro e fazer com […]

No clique de Mike Levitt, as máscaras escondem o que os olhos deixam antever: a emoção e os sorrisos de Ricky Taylor e principalmente de Hélio Castroneves, que chegou enfim ao primeiro título como profissional no automobilismo

RIO DE JANEIRO – Quando encerramos a transmissão das 12h de Sebring no sábado, eu não consegui esconder a emoção.

Acho que quanto mais velho fico – ano que vem completo 50 anos – mais me emociono. A Pandemia também tem mexido muito com meu emocional, a realização de lançar um livro e fazer com que alcançasse números incríveis num espaço de duas semanas com relação à pré-venda, tudo isso contribui  para uma choradeira sem precedentes.

E quando você se envolve com um esporte onde um dos grandes pilotos do seu país nos últimos anos conquista o primeiro título numa carreira tão longa, é impossível ser racional e frio.

Não tenho conseguido. Não consegui. Me desculpem.

O que falei, embora tenha errado a citação a “Clube da Esquina nº 2”, a linda canção de Milton Nascimento e Lô Borges, por conta de toda essa emoção, é legítimo e verdadeiro. Os sonhos nunca envelhecem.

Os de Hélio Castroneves não envelheceram e resistiram por 31 longos anos desde que aquele garoto de 13/14 anos levou o título nacional de Kart no Tarumã, em 1989. Depois disso, a carreira nos monopostos, que decolou na Fórmula Chevrolet, Fórmula 3 Sul-Americana, Brasileira e Inglesa, Indy Lights e, por fim, desaguou em mais de duas décadas de Fórmula Indy.

Vinte desses anos servindo à Roger Penske. Mais que muito casamento. Quase tanto quanto os meus dois somados. E dessa ‘relação’, vieram três 500 Milhas de Indianápolis – o que não é pouco, muito pelo contrário – e quatro vice-campeonatos da IndyCar Series.

Acredito que isso tenha sido algo que incomodasse a cabeça do Helinho, porque nenhum piloto entra na pista pensando em perder. O objetivo, sempre, é o auge, o título. E quando saiu fora da casinha, deixou a titularidade de piloto da Penske na Indy e foi para a IMSA, não faltou gente dizendo que o brasileiro tinha enlouquecido.

Mas aí está: no último sábado, veio a consagração e a reparação de uma injustiça.

Mesmo com o 8º lugar na disputa das 12h de Sebring, realizadas pela 68ª vez em sua história, o piloto de 45 anos, junto ao parceiro Ricky Taylor, levaram o título numa corrida cheia de dramas e que os jogou para último lugar, onze voltas atrasados, ainda com menos de 1h30min de prova. Um turbo quebrado aumentou a necessidade de os dois, mais Alexander Rossi, buscar a recuperação e torcer pelos problemas dos adversários diretos na luta pelo título.

Esses adversários eram dois: o perigoso Cadillac DPi-V.R #10 da Wayne Taylor Racing e outro carro do construtor estadunidense: o #31 da AX Racing, que tinha Pipo Derani ainda com chances de título.

O #10 esteve campeão da categoria até mais ou menos a altura da quinta hora. Numa refrega com o Mazda DPi #77, o carro de Renger Van der Zande/Ryan Briscoe/Scott Dixon teve danos e precisou parar para o conserto. Perderam 11 minutos e cinco voltas. E com a situação que se desenhava, Hélio e Taylor levavam o título por um ponto.

Só que faltava combinar com o #31 de Felipe Nasr/Pipo Derani/Gabby Chaves. Caso o trio vencesse e as chances existiam, Derani seria campeão sozinho.

Mas no período noturno, uma dividida de curva com Juan Pablo Montoya a bordo do outro Acura Team Penske – e o que não faltaram foram quizumbas entre as duas equipes nas três últimas provas do ano, desde a Petit Le Mans, com a primeira polêmica envolvendo os postulantes ao título, passando por Laguna Seca – desaguou em Sebring numa punição drive-through ao #31.

Não obstante, o contato danificou a suspensão dianteira do Cadillac e depois disso a trinca seria novamente punida por infração aos procedimentos de box. Com a queda ao 6º lugar na geral, era só levar o Acura #7 para casa e garantir a taça ao Team Penske.

Na casinha da equipe, sentado ao lado de Alexander Rossi esperando o cronômetro zerar, Helinho se rendeu à emoção, ao pranto convulso de quem, como ele, sabia que uma longa espera chegava ao fim. E quando a corrida terminou, 31 anos após aquele título no Kart, Castroneves comemorava seu primeiro título no automobilismo.

Podemos – e acho que devemos, ainda – discutir a conduta da IMSA com relação à Petit Le Mans e o beneplácito às atitudes de Ricky Taylor, que numa outra ocasião bateu em Filipe Albuquerque (numa disputa pelas 24h de Daytona) e nada ocorreu. Mas ninguém vence quatro corridas impunemente, mesmo num ano em que a parceria Penske-Acura chegava ao fim.

Enfim, foi uma 12h de Sebring emocionante em todos os sentidos. Vitória inédita da Mazda com a trinca formada por Jonathan Bomarito/Harry Tincknell/Ryan-Hunter Reay. Despedida e título da Penske na DPi, despedida e vitória da Porsche na GTLM, Acura campeã na GTD com Mario Farnbacher/Matt McMurry, títulos no IMSA Michelin Endurance Cup conquistados por Briscoe/Van der Zande (DPi), Trummer (LMP2), Edwards/Krohn (GTLM) e Lewis/Snow/Sellers (GTD).

O IMSA sofreu em meio às grandes dificuldades da Pandemia, o show prosseguiu e o fim do campeonato não poderia ter sido mais emocionante.

Que em 2021 possamos reviver e ampliar ainda mais essas emoções…