A Mil por Hora
Fórmula 1

GP do Bahrein: que corrida!

RIO DE JANEIRO – Perdoem-me o palavreado em tão poucas linhas e palavras, mas… #PQP… que corrida foi essa que tivemos da abertura 2021 da Fórmula 1? Acho que quase todos estamos no senso comum de que o GP do Bahrein deste domingo foi uma das melhores etapas inaugurais da categoria dos últimos anos – […]

RIO DE JANEIRO – Perdoem-me o palavreado em tão poucas linhas e palavras, mas… #PQP… que corrida foi essa que tivemos da abertura 2021 da Fórmula 1?

Acho que quase todos estamos no senso comum de que o GP do Bahrein deste domingo foi uma das melhores etapas inaugurais da categoria dos últimos anos – senão a melhor. Teve emoção do início ao fim, disputas a rodo e batalha pela vitória, como o público sempre quis que houvesse.

A Red Bull que mostrou musculatura na pré-temporada provou que vem para o pau contra a Mercedes-Benz. Os motores Honda têm força e confiabilidade. E a equipe rubrotaurina tem Max Verstappen, que finalmente parece ter condições de ser a nemesis de Lewis Hamilton e tentar evitar o oitavo ´titulo do piloto da Mercedes.

Quase que o primeiro round foi favorável ao holandês, dominante em todas as sessões preparatórias e pole position para a corrida. Mas a estratégia fez a diferença ao longo das 56 voltas no crepúsculo do Oriente Médio e Hamilton, com muita dificuldade – palavras do próprio – alcançou sua 96ª vitória na Fórmula 1. Quatro para a histórica e centenária marca que, juro, achei ser impossível de se alcançar quando tinha a tenra idade de 15 para 16 anos e vi Alain Prost igualar e depois bater as 27 conquistas de Jackie Stewart.

A grande polêmica, mais do que a estratégia que levanta o ‘enigma tostines’ – afinal, Hamilton ganhou porque tem braço ou Verstappen perdeu por conta da parada de box? – está em torno de um negócio chamado “track limits”, imposto pela FIA.

Eu não gosto desse negócio de track limits. Citei na minha live pós-prova no meu canal no YouTube que o Mansell alargava a trajetória da Source em Spa nos anos 1990 e nada lhe aconteceu. Ayrton Senna barbarizou em Adelaide na primeira corrida australiana em 1985, nada lhe ocorreu também.

Só podia vir da mente “jenial” de Jean Todt e seus blue caps essa coisa de track limits e a supressão de voltas rápidas nos treinos quando se passa com o carro além da zebra num ponto determinado – em Sakhir era a curva #4.

Muito bem, FIA: para acabar com essa palhaçada, que tal logo colocar o chamado ‘gelo baiano’ das calçadas? Ou pinos para que os pilotos vejam onde é o limite? Ou mesmo, por outra, parar com o negócio de asfaltar tudo e botar cascalho, pedrisco, brita?

Sabendo que ali tem brita, o piloto terá noção de que, alargando a trajetória num determinado ponto, ele perderá TEMPO e não será beneficiado.

E aí que entra a polêmica do final, porque Hamilton cometeu alguns excessos de “track limits” e no mais acintoso de Verstappen, o holandês é instruído no rádio a devolver a posição e permitir a ultrapassagem do britânico.

Creio que isto não empana o brilho de uma corrida excelente, mas coloca já uma lenha boa na fogueira com vistas `à corrida de daqui a três semanas, o GP da Emilia Romagna, em Imola, dia 18 de abril.

No mais, tivemos o couro comendo em todos os pelotões em todas as partes da pista (vejam o vídeo acima com os highlights da FOM e tentem discordar). Excelente estreia de Sergio Pérez na Red Bull, vindo de último ao largar do pitlane depois que seu RB16B apagou do nada na volta de apresentação (a corrida perdeu uma volta) para chegar em 5º;

Outro destaque, o consistente quarto posto de Lando Norris – e as duas McLaren nos pontos, assim como a Ferrari, que dá mostras de ter começado este ano bem melhor do que terminou o último;

A impressionante estreia de Yuki Tsunoda, o 344º piloto em todos os tempos a pontuar e o 76º estreante da história;

E a falta de competitividade da Aston Martin, que parece ter dado passos atrás. Stroll ainda pontuou, mas Vettel teve muitos problemas – diz ele que ainda se adaptando – mas já perdeu cinco pontos na “carteira” e ainda bateu em Ocon. Complicado…

É um grande campeão? Não resta dúvida. Mas, sei lá… dá a impressão de que estamos diante de um homem com o emocional em pandarecos. Diferente de Räikkönen, que se divertiu pacas embora não tenha pontuado e de Alonso.

Aliás, Alonso hein? Q3 depois de dois anos fora com um equipamento que não se compara às equipes de ponta e nem McLaren também, pelo visto. As disputas nas quais ele, Vettel e Kimi estavam envolvidos me remeteram a um tempo não muito distante de intenso brilho de todos os três. Será que os envolvidos têm saudade do que já fizeram?

Encerrando esse post, quero falar da volta da Fórmula 1 à tela da Bandeirantes.

Mais de 40 anos desde a transmissão da última corrida – o GP da África do Sul de 1981, considerado não-oficial para o campeonato – e a emissora do Morumbi veio com tudo para dar à categoria, um dos seus principais produtos da grade esportiva, o tratamento que ela merece.

A cobertura foi ótima. Um show de informação, narração, comentários, análises e um pré-hora rico e divertido. Toda a equipe – sem exceção – merece parabéns.

Mas há senões.

O primeiro é o da Band, que tem um esquema de programação regional que deixou muita gente a ver navios com o Show do Esporte começando 9 da manhã. É bom lembrar que nem todos têm internet de qualidade, já que a atração esteve no YouTube por mais de 1h30 para quem não era de SP, capital. E o sinal também não é distribuído para todos os que têm parabólicas e a cobertura de rede não tem o mesmo alcance que o Grupo Globo, antigo detentor dos direitos.

Ainda assim, a transmissão da etapa barenita rendeu à Band picos de mais de seis pontos. A Fórmula 1 dobrou os números dos horários que foram aferidos tanto na corrida quanto no treino classificatório, o que é excelente, considerando que o automobilismo é hoje – infelizmente – um esporte de nicho.

Para fidelizar um novo público e garantir o que migrou para a Globo, estratégias terão de ser revistas e outra: será que teremos pré e pós-hora tão alentados quanto este da primeira corrida? O tratamento será sempre igual ou próximo? Vamos aguardar.

E tem uma questão: com uma equipe 100% de antigos integrantes do Grupo Globo, é hora de deixar as mágoas no potinho e criar uma nova história. Entendo o que possa se passar na cabeça do Reginaldo Leme e do Sergio Mauricio, amigos queridos que respeito e admiro. São dois profissionais competentes e excelentes. Mágoa não faz bem a ninguém.

Eu também trabalhei no Grupo Globo e agradeço o espaço que me foi dado. Posso ter me frustrado com muitas pessoas da emissora – e essa frustração perdura – mas mágoa? Nenhuma! Sou muito grato, como também ao Fox Sports – não ao simulacro que está no ar, mas às pessoas que fizeram daquela emissora um lugar muito bom pra se trabalhar e ajudaram a levar o motorsport a ser o segundo esporte mais transmitido atrás do futebol. Vocês ainda sentirão muita falta daquele Fox Sports. Podem apostar.

Bom… são só senões. Que não mancham este domingo, 28 de março. Um domingo histórico. Tomara que a Fórmula 1 não venha para me iludir, para nos iludir, só pelo GP do Bahrein. E que a Band dê ao esporte a motor o respeito que ele merece. Já começaram bem fazendo uma grande reparação histórica quanto ao que sempre foi importante para o esporte o tricampeão mundial Nelson Piquet. Punto y basta.