A Mil por Hora
Fórmula 1

Alea jacta est!

RIO DE JANEIRO – O título deste post quer dizer o seguinte, em latim: “A sorte está lançada!” E a guerra entre Max Verstappen e Lewis Hamilton, ainda que silenciosa entre os dois pilotos, parece deflagrada após os acontecimentos do GP da Grã-Bretanha. Muito mais importante do que a espetacular 99ª vitória da carreira do […]

RIO DE JANEIRO – O título deste post quer dizer o seguinte, em latim: “A sorte está lançada!” E a guerra entre Max Verstappen e Lewis Hamilton, ainda que silenciosa entre os dois pilotos, parece deflagrada após os acontecimentos do GP da Grã-Bretanha.

Muito mais importante do que a espetacular 99ª vitória da carreira do heptacampeão mundial de Fórmula 1, ocorrida pela oitava vez na mesma pista, diante de uma plateia ensandecida e que foi importante em todos os aspectos, tanto moral quanto também da parte técnica – já que a Mercedes buscou reagir e pelo visto conseguiu em parte – é tentar pensar nas consequências do que o contato entre Lewis e o rival da Red Bull pode acarretar para o campeonato daqui em diante.

É bom lembrar: temos uma corrida antes da interrupção para as férias de verão, marcada para 1º de agosto em Budapeste, no Hungaroring. Até antes do fim de semana magiar ter início, muita discussão e muito pano pra manga hão de dominar as conversas entre os que acompanham automobilismo.

Foi incidente de corrida? Hamilton deveria ter tirado o pé? Verstappen cedido? O britânico da Mercedes foi sujo?

Olha, por mais que vocês possam não concordar, sigo firme com minha opinião de que foi um incidente de corrida. Embora haja um conceito de que na curva Copse não se ultrapassa, fica a pergunta: por que raios no tempo em que aquela curva do traçado britânico era a primeira – ela fica na antiga reta de largada, a dos boxes velhos – se ultrapassava a torto e a direito e hoje vozes se levantam dizendo ‘não pode’? Por que tolher o talento, o arrojo e a audácia?

As imagens mostram que Verstappen, embora tenha começado o contorno da Copse – por fora – à frente, deixou uma brecha na qual Hamilton vislumbrou uma chance. E a disputa inicial entre os dois foi ‘pegada’ de uma forma que Silverstone inteiro se levantou e os urros do público presente – em número enorme, aliás – sobrepujavam o ronco das unidades de potência dos carros da Fórmula 1.

Eu entendo o seguinte: houve uma pressão enorme de bastidores quanto à punição e até acredito que o diretor de prova Michael Masi tenha agido com alguma coerência pelo seguinte: se Russell foi punido por um contato com Sainz na Sprint Race de Classificação disputada ontem, com a perda de três posições, dá pra entender que Hamilton tenha levado um pênalti de 10 segundos.

São questionáveis, no entanto, o modus operandi da FIA e até mesmo como a punição é cumprida. Se é pra ser rigorosa, que fosse um drive through e não um time penalty hoje – de forma errada, no meu conceito – aplicado durante a parada de box. Pelo tempo determinado pela direção de prova, qualquer que seja, ninguém se aproxima do carro. Era melhor fazer como antes: o piloto fica no cantinho do castigo pelo tempo da punição. Zerou o cronômetro? Boa, beleza, deu, fim de papo, bora pra próxima.

Pode parecer incoerente eu achar compreensível a decisão de Michael Masi em punir Hamilton e ser contrário à decisão, mas não é. E vou mais além: dentro desse modus operandi da FIA, o que fariam então os comissários e a direção de prova se eles tivessem que decidir o que fazer numa disputa ao estilo René Arnoux versus Gilles Villeneuve em Dijon, numa época em que a Fórmula 1 era MUITO mais perigosa que os dias atuais? Possivelmente seriam ou presos, ou amarrados em camisa de força ou então entrariam na carrocinha, de focinheira.

Disse e repito: não se pode tolher o talento, o arrojo, o desprendimento e as ultrapassagens. Por conta do acidente, de impacto fortíssimo – 51G – sofrido por Verstappen, os mais extremados já condenaram rapidinho LH no tribunal internético da inquisição. Um o chamou de “assassino”, outro, de “sujo”. Nem tanto ao mar, nem tanto à Terra: Verstappen também não é nenhum santinho. Se fosse o contrário, o que vocês acham que o piloto da Red Bull faria? Cederia? Como ninguém enfim cedeu, o desenlace foi aquele visto pelo planeta inteiro.

Deflagrada a bandeira vermelha e com Leclerc pole e líder, a corrida recomeçou e Hamilton correu tanto e tão bem atrás do prejuízo que no final, voou para cima do monegasco – que durante a corrida enfrentou várias dificuldades, é bom que se diga, para conseguir, diante das circunstâncias, um resultado encorajador.

A vitória lhe escapou pelos dedos porque Lewis veio atropelando e irresistível, com os cavalinhos extras dos gritos da torcida, que o empurrava para cima do rival da Ferrari. Mas não deixa de ser bom um 2º lugar, mesmo com o amargo gosto da derrota. Embora tenha roubado só quatro pontos da McLaren, que segue muito bem no Mundial de Construtores, a Ferrari devia essa para si mesma.

No bojo, mesmo diante dos fatos e de tudo o que pode acontecer daqui por diante, a partir do GP da Hungria, o que parecia difícil e quase impossível ocorreu. Não só Hamilton reduziu para oito pontos a vantagem de Verstappen, conquistando também a 99ª vitória de sua carreira, como também a Mercedes baixou para quatro o total de pontos que o separa de Red Bull.

Eu torço sinceramente por uma luta até o fim e que o melhor ganhe. Todavia, temo que nos bastidores Christian Horner e Dr. Helmut Marko, que hoje falaram muito mais besteira que de costume, não sosseguem os fachos e coloquem mais fogo na brasa já acesa. Toto Wolff, diante de uma situação tão difícil, parece agir com muito mais diplomacia que o britânico e o austríaco.

É preciso bom-senso. Espero que haja. Senão…