A Mil por Hora
Fórmula 1

Roteiro de filme

RIO DE JANEIRO – A decisão do Mundial de Fórmula 1 2021 vai ficar marcada para sempre e repito o que disse ontem em redes sociais: jamais veremos algo parecido com o que aconteceu não só em Abu Dhabi no circuito de Yas Marina como também ao longo de todo um ano de 22 corridas. […]

RIO DE JANEIRO – A decisão do Mundial de Fórmula 1 2021 vai ficar marcada para sempre e repito o que disse ontem em redes sociais: jamais veremos algo parecido com o que aconteceu não só em Abu Dhabi no circuito de Yas Marina como também ao longo de todo um ano de 22 corridas.

Foram dois titãs se digladiando nos ‘ringues’ da categoria, as pistas. Max Emilian Verstappen e Lewis Carl Davidson Hamilton deram absolutamente tudo de si, tanto que chegaram empatados a uma decisão histórica – num fato que não acontecia desde o longínquo ano de 1974, onde os protagonistas daquele mano a mano foram Clay Regazzoni e Emerson Fittipaldi, tendo o brasileiro ganho o título por três pontos.

O campeonato ganho ontem por Verstappen é justo em muitos aspectos. O holandês foi melhor no quesito vitórias e isto é indiscutível – dez, contra oito do rival. A Red Bull foi uma rival – finalmente – à altura do que se esperava contra a Mercedes na atual ‘era híbrida’ da Fórmula 1. E os rubrotaurinos, com Adrian Newey mais à frente da área técnica, têm muito a agradecer à Honda, que conheceu ontem seu quarto piloto campeão mundial com seus motores (ou unidades de potência, se preferirem) e o primeiro em 30 anos.

Hamilton foi um rival valoroso. A ‘remontada’ de ataque puro com vitórias consecutivas em São Paulo, Losail e Jedá foi um tempero adicional a uma batalha épica, vencida como todo o planeta viu, nos últimos quilômetros de um campeonato eletrizante.

Mas há um porém nessa história toda: as interferências externas. E Michael Masi.

Pois é… a direção de prova da Fórmula 1 avacalhou tudo de bom que a própria Fórmula 1 nos trouxe em 2021 com disputas incríveis e ótimas corridas em sua grande maioria do calendário. Decisões por vezes arbitrárias, ora estranhas e também estapafúrdias fizeram os torcedores de Hamilton e Verstappen quererem engolir vivos uns aos outros – uma repetição em cores vivas da acídia entre os fãs de Senna e Prost nos anos 1980, guardadas as proporções.

À luz da razão, Masi terá cometido pecados capitais para que o campeonato acabasse da forma como terminou, crivado de protestos da Mercedes que não foram acolhidos ontem pelos comissários e pela própria direção de prova.

Talvez o mais grave de todos foi autorizar uma largada numa pista impraticável como a de Spa-Francorchamps e realizar uma paródia de corrida naquelas condições impossíveis. Aquilo foi uma farsa. E foi bem cômodo para Verstappen e a Red Bull naquela situação.

Como também foi cômoda a acochambração de Jedá, no GP passado, o penúltimo do campeonato, com punições a Verstappen do tipo ‘pra inglês ver’ quando o holandês deveria ter levado bandeira preta de exclusão por conduta antiesportiva contra Hamilton. Podem discordar à vontade, mas é uma opinião e, como tal, pode e deve ser respeitada, mesmo que eu esteja errado na minha análise. Max é um piloto fantástico, mas às vezes transita numa linha tênue entre a genialidade e o mau-caratismo, diria Flavio Gomes.

E ontem também houve eventos no mínimo estranhos. Não, não vou aqui imputar culpa a Latifi. Mas sim a Michael Masi, que com sua falta de pulso e suas decisões um tanto quanto contraditórias, fez o favor de manchar o campeonato. Charlie Whiting se revira no túmulo com tantas barbaridades disparadas e feitas por seu sucessor à frente do comando da direção de provas na F1.

Apesar de tudo isso, não há como não reconhecer que Max teve um grande ano. Dez vitórias, 18 pódios em 22 corridas. São números muitos superlativos. Hamilton foi um adversário à altura do holandês, deu trabalho e levou a decisão ao limite. No fim das contas, Verstappen reconheceu o valor de seu rival. “Lewis é um piloto incrível”, disse.

Incrível foi também o ótimo 3º lugar de Carlos Sainz, consolidando uma excelente temporada e uma campanha com 16 provas consecutivas nos pontos. Com três pódios, o espanhol numa só tacada deixou para trás o colega de equipe Charles Leclerc e também Lando Norris, na luta pelo 5º lugar do campeonato entre os pilotos. Além dele, Yuki Tsunoda fechou numa espetacular quarta posição no melhor resultado do nipônico em 2021 e Pierre Gasly foi o quinto, dando ótimos pontos à Alpha Tauri, que chegou muito perto da Alpine no Mundial de Construtores.

Outra personagem crucial do domingo foi Sergio Pérez. O mexicano fez um grande trabalho de equipe ao manter Lewis Hamilton atrás de si numa disputa limpa e digna, dentro das regras. O que “Checo” fez foi perfeito, o que a Red Bull fez na pista como jogo de equipe foi correto e Lewis não pôde, em nenhum momento das 58 voltas da corrida, contar mais uma vez com Valtteri Bottas, que só pelo equipamento que possui terminou em 3º no Mundial de Pilotos – ajudou, apesar dos pesares, a Mercedes, campeã de Construtores pelo oitavo campeonato em sequência.

Faço nesta postagem também menções honrosas a Daniel Ricciardo, Esteban Ocon e Fernando Alonso, que foram protagonistas da temporada em vários momentos, sem contar os principais ‘artistas’ deste verdadeiro roteiro de filme que foi a temporada 2021 da Fórmula 1.

Por fim, parabéns para a Band, que consolidou seu produto, tratou a categoria com o máximo respeito e, gostando os fãs ou não – e é um direito, porém não concordando com muitas coisas ditas e escritas pelo ‘tribunal da Internet’ – o trabalho ao longo do ano foi absolutamente digno e fico muito feliz pelos amigos e colegas que se envolveram intensamente com esse projeto em 2021, torcendo que o ano que vem seja muito melhor não só para a mídia como principalmente a categoria.

Viva a Fórmula 1!

Apesar de Michael Masi.