Dominador

RIO DE JANEIRO – Salvo uma hecatombe, o Mundial de Fórmula 1 deve acompanhar o sétimo título mundial de Lewis Hamilton, que assim igualará o recorde histórico de Michael Schumacher. Some-se ao domínio da Mercedes, que venceu as três provas do campeonato até aqui disputadas a indefinição quanto ao restante do calendário (quanto menos corridas, pior para os adversários) e está desenhado o cenário.

Eu tive a ilusão de que o GP da Hungria poderia trazer algo diferente por conta do piso molhado, mas me enganei. As 70 voltas neste domingo foram até tediosas. Talvez somente os momentos iniciais tenham dado alguma nesga de esperança, quando me deparei com a péssima largada de Valtteri Bottas, com o ótimo início de Max Verstappen e, principalmente, de Lance Stroll.

Aliás, Verstappen que ficou a segundos de não largar, porque nas voltas de abertura de box conseguiu a façanha de sair da pista com sua Red Bull e bater. Sorte que os danos não foram tão graves. E a correria dos mecânicos rendeu frutos, com o holandês fazendo mais uma corrida acima das expectativas num fim de semana ruim desde a sexta-feira.

Com Hamilton despencado na ponta e Bottas outra vez mostrando que não está ao nível do seu companheiro de equipe, a corrida magiar serviu para que apaguemos um pouco da péssima impressão de “filhinho de papai” deixada por Lance Stroll desde que estreou. O rapaz canadense fez uma corrida muito madura e consistente. Acredito que foi sua melhor performance na Fórmula 1, já que o pódio em seu ano de estreia no GP do Azerbaijão foi deveras fortuito.

Até foi digna de aplausos a luta de Sebastian Vettel, mesmo cometendo pequenos errinhos, para conseguir alguns bons pontos com um carro ruim: o tetracampeão ainda foi o 6º colocado, muito superior a um Charles Leclerc que não teve como se segurar na pista com os pneus macios no primeiro stint após a troca dos intermediários para slicks.

“Esses pneus são feito lixo”, reclamou o monegasco.

Mas falta ritmo à Ferrari, tanto que os dois carros vermelhos levaram uma volta e Leclerc, após a segunda posição na prova de estreia, dessa vez não pôde fazer nada.

Hamilton jogou todas as cartadas que pôde na corrida, inclusive para fazer o chamado “Grand Chelem” que lhe escapou pelos dedos no GP da Estíria. Tanto que montou pneus macios para um stint curto, fez a melhor volta, levou o ponto extra, ganhou a pontuação máxima e chegou ao 86º triunfo na carreira. Lembra que na corrida passada faltavam seis?

Faltam cinco…

Falando em cartadas, a Haas, que vem mal das pernas desde o campeonato passado, jogou uma e criou polêmica: seus dois pilotos foram para box antes do início da corrida, trocaram pneus – chegaram a andar entre os primeiros no início e Magnussen ficou no top 10 até o final – mas houve protestos acerca da iniciativa de pit stop prematuro dos dois carros do time estadunidense.

A FIA acolheu o protesto: houve uma comunicação ilegal durante a volta de apresentação e ambos os pilotos foram punidos com acréscimo de 10 segundos ao tempo final. Magnussen teria dois pontos em decorrência de um nono lugar. Ficou com o décimo, ganhou um. Grosjean não pontuaria mesmo.

Talvez as decepções desta corrida de um único abandono, quando quebrou o motor Honda da Alpha Tauri de Pierre Gasly, tenham sido Sergio Pérez, uma vez que Stroll fez uma ótima corrida, a Renault (pra variar) e a McLaren, que apesar de tudo ainda salvou pontos importantes com Carlos Sainz – Lando Norris foi um discretíssimo 13º, provando que nem sempre chove na horta.

Após três corridas, Hamilton já desponta líder com 63 pontos e margem de cinco para Bottas. No Mundial de Construtores, brincadeira de criança: de 132 pontos possíveis com dobradinhas, a Mercedes-Benz já soma 121 – a Red Bull tem 55. Pelo visto o grande atrativo do ano será ver se a Ferrari tem capacidade de superar McLaren e Racing Point, que a julgar pelo que vimos, travarão um duelo interessante entre si.

O resto? Esqueçam. A Williams até foi bem em ritmo de classificação, mas na corrida Nicholas Latifi foi pavoroso e George Russell, mesmo marcando a nona volta mais rápida, não conseguiu nada melhor do que terminar justamente à frente – e muito à frente – do companheiro de equipe.

E se já está ruim assim para a concorrência, imaginem daqui a duas semanas, quando acontecerá na veloz Silverstone o GP da Grã-Bretanha.

Massacre à vista.